Lucro com sotaque mineiro

A Tambasa Atacadistas completa 70 anos mantendo sua estrutura de comando familiar orientada por uma visão moderna em sua direção

por Rúbia Evangelinellis

Sede da empresa em Contagem/MG

Para comemorar 70 anos de atividades no Brasil e continuar a exibir uma trajetória de crescimento, uma empresa precisa ter fôlego para se manter firme, energia para enfrentar desafios e discernimento para driblar as crises que pontuam o mapa econômico do País. O cenário já não era fácil quando a empresa familiar atacadista nasceu pelas mãos de Miguel Bartolomeu, um brasileiro humilde, sapateiro, que tinha como principal riqueza a vontade de vencer na vida, e que soube enxergar as oportunidades que lhe abririam o caminho para ganhar espaço no mercado nacional.

A protagonista dessa história é a Tambasa Atacadistas, que se apresenta como uma empresa de alma familiar, moderna, que faz questão de investir em sua equipe de funcionários e colaboradores. Pilotada pela terceira geração da família do fundador e já preparando a quarta para comandar o negócio, apresenta números que estampam seu vigor. Como um polvo que mantém seus tentáculos simultaneamente voltados para as direções por onde desdobra de maneira mais efetiva a dinâmica das atividades comerciais, ela registra evolução em seus negócios ano a ano.

Em 2010, a empresa, que atua como atacadista distribuidora, faturava 1,2 bilhão de reais. Esse rendimento duplicou em 2016, alcançando 2,4 bilhões de reais. Saltou para 2,731 bilhões de reais em 2017 e para 3,087 bilhões de reais em 2018, segundo o Ranking ABAD Nielsen 2019. “Neste ano, temos a expectativa de atingir 3,366 bilhões de reais, múltiplos da idade de Cristo, como costumo dizer. Nossos números de crescimento são altos, em percentuais de dois dígitos”, comemora Alberto Portugal Milward de Azevedo, diretor da empresa, neto do fundador.

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COMO ANGU SEM CAROÇO

O empresário é uma das quatro vozes de comando do grupo da terceira geração (todos eles primos) e responde pelas áreas de Vendas e Tecnologia da Informação. Divide o bastião com Antônio Miguel Bartolomeu (Financeiro e Logística Externa), Gerson Bartolomeu (Compras e Logística Interna) e Ivan Trivellato (Compras). “Na verdade, cuidamos de tudo, reunimo-nos todas as segundas-feiras e acertamos o que vamos fazer na semana”, explica Portugal, considerando que a empresa pode contar com um segundo escalão de peso, afinado com a diretoria e com integrantes formados na Tambasa.

E, como ele mesmo diz, para chegar lá, é preciso fazer acontecer. “Vamos aumentando o mix e o número de clientes e de cidades atendidas. É como fazer angu, você vai acrescentando um pouco de cada ingrediente”, explica, com jeitinho mineiro, não sem antes soltar um “uai, é como fazer…”

De fato, esses mineiros sabem direitinho fazer a polenta aumentar, entrelaçando carteiras de clientes que aparentemente não têm nada em comum. Sua estratégia consiste em crescer de maneira pulverizada, alcançando segmentos antes não atendidos e estimulando os representantes comerciais para que ampliem a carteira de atendimento em cada região. “Por exemplo, entramos no mercado para motos e carros (comércio de acessórios e produtos de manutenção) com um mix poderoso. E se, nessa mesma região, abrirmos o atendimento para farmácias, vamos motivar o vendedor a aumentar o portfólio com que ele trabalha.”

Atualmente, a empresa tem 3.800 representantes comerciais e 2.700 funcionários em outras áreas, além de cerca de 600 motoristas autônomos que fazem entregas. Adota a filosofia da meritocracia para contemplar os funcionários, independentemente de sua função ou cargo.
A empresa ocupa um terreno de 330 mil m2, com 100 mil m2 de área construída, em Contagem/MG. Sua carteira inclui 199 mil clientes ativos (lojistas, varejistas) em cidades espalhadas pelo Brasil. São comerciantes e pequenos distribuidores regionais que compram em um prazo de 90 dias. Com um portfólio muito variado de 30 mil itens, suas vendas se distribuem basicamente em três segmentos. Sessenta por cento vêm de itens de construção civil, 30% de produtos variados para o lar (copinhos, itens de bazar e de limpeza, geladeiras, televisores, calçados, ferramentas, talheres e panelas) e 10% de artigos diversos para o campo (balde para ordenha, aparador de grama, ferramentas, arame farpado, etc.). A Tambasa vende até para papelarias, às quais fornece uma linha com borracha, caneta, apontador e outros produtos.

Diretoria da Tambasa, composta por Ivan Trivellato, Gerson Bartolomeu, Antônio Miguel Bartolomeu e Alberto Portugal Milward de Azevedo
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LOGÍSTICA EFICIENTE

A empresa tem 19 centros de distribuição avançados, e atua pelo método logístico de cross docking, que acelera e facilita a distribuição, além de evitar que a mercadoria fique parada no estoque. Em outras palavras, tão logo o pedido entra no sistema ele é encaminhado ao fornecedor, o que promove a sinergia e a entrega na medida certa. “Temos uma grande central, em Contagem, de onde partem carretas grandes para abastecer 19 centros avançados. Quando chegam a um determinado lugar, por exemplo, Salvador, na Bahia, se faz o transbordo das mercadorias para caminhões pequenos, encarregados de efetuar as entregas“, diz o empresário.

Nos planos de investimentos da empresa está a ampliação do galpão principal, em fase de projeto. A Tambasa adota um sistema de esteiras robotizado, onde é feita a separação das mercadorias e que responde por 50% do processo realizado em Contagem. “Certa vez, um professor de Harvard disse que somos a Amazon tupiniquim”, comenta, orgulhoso, o diretor.

Alberto Portugal destaca como ponto alto o investimento em pessoas, que se estende desde o treinamento de representantes comerciais até os seus encontros com fornecedores para aprenderem como melhor apresentar e vender os produtos. A empresa também conta com um programa de incentivo aos estudos de graduação, entre outros, direcionados para o crescimento profissional dos funcionários. 

“Acreditamos que o mais importante é descobrir os diamantes que temos em casa e transformá-los em joias. Também mantemos a política de portas abertas para receber a todos. Temos um funcionário com 45 anos de Tambasa, que começou como office boy e hoje é controller, e um representante com 39 anos de empresa.”

Em comemoração pelas sete décadas de existência, a empresa está distribuindo mais de 70 prêmios aos clientes e vendedores, entre os quais 25 automóveis e 45 motos. Já aconteceu o primeiro sorteio, de um carro e quatro motos, em julho. Outro está agendado para outubro (um carro e mais quatro motos). Em janeiro, haverá um sorteio de 23 automóveis e 37 motos. Os vendedores que atenderam os contemplados também ganharão prêmios.

Em 1915, quando o jovem sapateiro Miguel Bartolomeu, então com 20 anos, deixou sua terra natal, Santana do Guaraciaba/MG, carregando na bagagem um pedaço de couro, além do sonho de melhorar de vida, talvez não tivesse ideia do tamanho da empresa que iria criar.
Não carregava fortuna no bolso, mas trazia dentro de si uma joia ainda mais preciosa, o espírito empreendedor e o tino comercial que o conduziram para o mundo dos negócios, que fizeram da Tambasa uma das maiores atacadistas do país, que, neste ano tem por meta faturar 3,366 bilhões de reais.
Miguel Bartolomeu começou pequeno, com os recursos com os quais contava. Adaptou a máquina de limpar café em um caminhão, tarefa que fazia ainda na roça, e, depois, vendia em outros Estados. Também fazia botinas. Mas, em 1936, decidiu comercializar rapadura, toucinho e sorvete. Depois, ampliou a cesta de miudezas, passando a vender tecidos, botões e aviamentos.
Em 1949, nasceu a empresa Casas Miguel Bartolomeu, na cidade mineira de Ponte Nova, inicialmente voltada para o varejo, mas posteriormente focada no atacado e atenta ao movimento crescente de produtos que vinham de outros Estados. Era um novo tempo, marcado pelo fim do Estado Novo e da era Vargas, pela expansão da construção civil em Minas Gerais e pela alta da industrialização.
Na trilha dos tempos de glória do Estado mineiro, que atraíam empresas e consumidores, a Casas Miguel ganhou a primeira filial em 1969, em Belo Horizonte/MG. Deu certo e mais tarde mudou de nome, passando a se chamar Tambasa – Tecidos e Armarinhos Miguel Bartolomeu S.A.
Em 1988, com a filial consolidada em Belo Horizonte, chegara o momento de investir na nova sede em Contagem/MG, inaugurada três anos depois e com 33 mil m2 de área construída. Voltada para o futuro, em 2011, a equipe de vendas da Tambasa já estava equipada com notebooks, e já recebia pedidos on-line. Com a evolução dos negócios, a empresa ampliou a área que ocupava. Hoje, totaliza 330.000 m2, área para depósito e armazenagem. E que venha muito mais.

O fundador Miguel Bartolomeu e a esposa Rodophina
Em 1949, nasce a empresa Casa Miguel Bartolomeu, em Ponte Nova/MG
A primeira filial da Tambasa, em 1969

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