Voa Condor, voa

Ao completar 90 anos, empresa que ostenta o nome da majestosa ave dos Andes mostra vigor, repagina sua identidade visual e prevê crescimento de 10% em seu faturamento

por Rúbia Evangelinellis

Em 2013, fábrica em São Bento do Sul/SC recebeu novos investimentos

Quando você encontra por acaso uma ave recém-nascida em seu ninho, cercada por um ambiente hostil, difícil, você pensa: “Será que vai vingar? Pois é, como a ave cujo nome adotou, o que poderia ser um patinho feio se tivesse de sobreviver em um ambiente adverso, a Condor, ao contrário, se fortaleceu. Ganhou vigor em plena época em que foi criada, durante a Grande Depressão de 1929, que devastou a economia de vários países.

Mas fez valer o nome que recebeu: Condor. Fundada há 90 anos por dois imigrantes alemães, Augusto Emílio Klimmek e Germano Tempel, em São Bento do Sul/SC, cidade com cerca de 83,5 mil habitantes, segundo o IBGE, a Condor, inicialmente, fabricava apenas escovas dentais e pentes. O berço da produção permanece na cidade onde tudo começou.

Lá, operam duas fábricas (uma delas fabrica os componentes e a outra realiza as atividades restantes, até a entrega dos produtos prontos para o consumo), que totalizam uma planta industrial de 53 mil metros quadrados. Mas a Condor não apenas mirou bem onde pisava, preferindo fortalecer seu ninho produtivo, mas também enxergou longe para conquistar mercados, inclusive atravessando fronteiras.

Combinou o voo mais distante com a ampliação do seu leque de produtos, enquanto manteve a estratégia de investir em equipamentos de ponta para a produção. Investimentos em inovação – Só em atualizações tecnológicas e novos produtos, a empresa estima que, nos últimos anos, fez investimentos a cada 12 meses. Em 2019, os recursos destinados a esses fins somam 12 milhões de reais, divididos em investimentos para as fábricas e em lançamentos. Entre as novidades já apresentadas neste ano, destacam-se uma esponja para lavar louças com tecnologia de fios de prata (proteção contra bactérias) e uma escova dental com aditivos antibactericidas.

Além disso, investe na renovação da linha premium de escovas dentais e em novos licenciamentos infantis, como o da Galinha Pintadinha. O movimento que a levou a ultrapassar as fronteiras do seu Estado de origem em busca de negócios concretizou-se na instalação de dois centros de distribuição (um deles apenas para pincéis) em outra extremidade do País, em Jaboatão dos Guararapes/PE.

Atualmente, a empresa é dona de um portfólio diversificado de 1.500 produtos distribuídos em cinco divisões: limpeza, higiene bucal, beleza, pintura imobiliária e pintura artística/escolar. Isso significa que produz desde escovas para dentes e cabelos, passando pelos pincéis, até chegar às vassouras, esponjas, mop, rodos e outros acessórios para o lar.

Lançamento de produtos teve seu leque ampliado com a ajuda de equipamentos de ponta
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FOCO NAS CATEGORIAS

O carro-chefe da Condor é o grupo de produtos de limpeza – com 37% de participação no faturamento – seguidos pelos de higiene bucal (27%), pintura imobiliária, beleza e pintura artística/escolar. Sua meta é crescer em todos os segmentos, fortalecendo o canal de vendas e também atuando com atendimento segmentado. Inclui até mesmo uma diretoria de pincéis e uma equipe especializada em perfumaria. 

E, como uma senhora bem experiente, mas de espírito jovem, a empresa adotou um novo ciclo de vida, que implica em estar mais aberta ao público. Repaginou o design da marca para transmitir uma face mais moderna, e mais adequada à mensagem que quer passar ao consumidor com seu mix. 

“Hoje, a Condor vê o consumidor e o trade como nunca tinha visto antes. Ela sempre contou com um vigoroso DNA de engenharia industrial, mas seu perfil era mais fechado. Nos últimos anos, fez um movimento diferente. Revitalizou a marca e as embalagens, imprimindo-lhes uma imagem mais jovial”, explica Alexandre Wiggers, diretor- presidente da empresa.

Alexandre Wiggers, diretorpresidente da empresa: marca revitalizada
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CONSUMIDOR PEDIU  NOVA IMAGEM

A mudança começou a ser desenhada em 2016, quando um levantamento realizado com os consumidores indicou que a marca transmitia credibilidade, mas não passava a mensagem de modernidade. O investimento na repaginação ficou entre 4 e 5 milhões de reais. Implantadas as mudanças, em 2017, a primeira resposta positiva veio do próprio trade, que aprovou as novas embalagens, o material dos pontos de venda e os catálogos, assegura Wiggers. 

“Também crescemos em vendas nos últimos anos, mesmo na crise, que alcançou mercados maduros, mas que estagnaram. Estamos melhorando o share em quase todas as categorias”, acrescenta. 

A trajetória de aumento da atividade de negócios se traduz, por exemplo, na sua subida para a posição de terceira marca mais vendida em produtos de higiene bucal em 2017, quando era a quarta em 2016. “E conquistamos essa posição junto ao público adulto. No infantil, já somos líderes há anos”, assegura.

No quadro geral, a Condor contabiliza um aumento contínuo de faturamento. Em 2016, ele foi de 7%; em 2017, de 9%. Em 2018 deu outro salto para o alto, de 5%, alcançando a cifra de 393 milhões de reais. Em 2019, a meta da empresa é crescer a partir de 10% em comparação com o resultado anterior.

Com uma participação de 60% no faturamento, o atacado distribuidor desempenha um papel considerado fundamental para que os negócios da Condor deslanchem: 

“Quando nos empenhamos em melhorar as vendas, tivemos de olhar para todos os canais a fim de entender melhor as suas prioridades, estimulando ações comerciais e observando a estratégia de comunicação. Temos uma estrutura exclusiva para atender o atacado distribuidor.”

Neste ano, o esforço foi direcionado para ampliar a colocação de um número maior de unidades do mix nos pontos de venda. Atualmente, a empresa está presente em mais de 100 mil PDVs. E para buscar um resultado melhor, também adotou a estratégia de dividir a área comercial com a de marketing.

Ela acredita que, dessa maneira, poderá dispor de uma diretoria inclinada a olhar mais para o consumidor, enquanto a outra permanece voltada para as ações de estímulo de vendas.

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CARREIRA COM CONHECIMENTO

Alexandre Wiggers faz parte do quadro de 1.300 funcionários da companhia. Foi admitido há 31 anos, como office boy, e está até hoje na mesma empresa. Na ocasião, lembra, tinha 17 anos e prestava vestibular para um curso na área contábil. A oportunidade de mudar de posto surgiu logo nos primeiros seis meses, e justamente na área da sua graduação, que foi o ponto de partida para fazer carreira até chegar a diretor-presidente, cargo assumido em 2012.

Como quem conhece o negócio de dentro para fora, o executivo considera como ponto alto a renovação da empresa nos últimos anos, que a levou a buscar aproximação com o consumidor.

E dentro da nova filosofia, tem seus produtos comercializados pela Amazon.com desde fevereiro. Outro dos traços de modernidade da empresa de 90 anos é a preocupação com a preservação do meio ambiente. Uma das ações voltadas nessa direção é a reciclagem de garrafas pets para a criação de cerdas usadas como componente na produção de vassouras. Atualmente, recicla 200 toneladas/mês

A Condor, que está completando 90 anos, traz em sua bagagem uma história de vida pontuada por fatos que demonstraram sua capacidade para se superar e se reinventar. Quando o imigrante alemão Augusto Emílio Klimmek, na ocasião com 50 anos, junto com seu filho Alfredo e seu amigo Germano Tempel (que depois deixou a sociedade) criaram, em 1o de julho de 1929, a fábrica para produzir escovas dentais, escovas para unhas e pentes, certamente não tinham ideia dos desafios que teriam pela frente. 

Nascida como Klimmek, no período da grande crise econômica mundial, no ano seguinte mudou de nome e adotou a identidade que carrega até hoje: Condor. Dois anos depois, em 1932, a empresa já estava instalada em prédio próprio. 

As garras da grande ave de rapina, sugeridas em seu nome, foram fundamentais para superar o endividamento causado pela compra de máquinas alemãs e o impacto gerado pela Segunda Guerra Mundial, em particular porque tinha como fundador um imigrante alemão. Sofreu com a campanha nacionalista implantada em 1941 por Getúlio Vargas, o então presidente da República, a ponto de ter seu nome citado na lista negra de empresas que, entre outras exigências que lhes foram impostas, não podiam importar matéria-prima da Alemanha e do Japão. 

Mas os problemas fortaleceram a Condor (dentro e fora do País). Hoje, exporta para 30 países e tem um portfólio de cerca de 1.500 itens distribuídos em 100 mil pontos de venda. 

Novos materiais foram desenvolvidos internamente para substituir o celuloide importado da Alemanha, como um tipo de plástico resultante da composição de leite com caseína. E nos tempos de escassez de energia, foram feitas adaptações nos veículos da empresa.

Augusto Emílio Klimmek, fundador
Prédio próprio construído em 1932
Portfólio tem hoje cerca de 1.500 itens

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