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Perfil de Sucesso - Atacadista Distribuidor

Legado empreendedor

Ao completar 40 anos, grupo Fasouto mantém na mira a estratégia de crescimento sustentável e o fortalecimento do atacado distribuidor e do comércio eletrônico

Por Rúbia Evangelinellis

O grupo Fasouto, de Sergipe, comemora 40 anos de atividades olhando para frente e para o alto, mas sem deixar de permanecer atento ao chão em que pisa. Dona de uma história que tem como espinha dorsal o empreendedorismo familiar, lição passada do pai, Raimundo Faria Souto, para o filho, Juliano César, e com atuação regional, a empresa projeta um crescimento sustentável, de 20%, para 2022, e entre 20% e 25% para 2023. 

A receita para aumentar o bolo de negócios faz parte da cartilha dos Faria Souto e significa adotar uma estratégia adaptada ao atual contexto, buscar o fermento, a vitamina, mas dispondo apenas de recursos próprios, ainda que tenha necessidade de uma virada de chave nos planos previamente traçados. 

Com cinco unidades do Lojão Fasouto, inauguradas quando a empresa vislumbrava o incremento desse canal de vendas, segundo o CEO Juliano Faria Souto, a atenção agora está voltada para o incremento do e-commerce com a plataforma fasouto.com (que já oferece o B&C e iniciará a operação do B&B até o primeiro semestre de 2023).

A direção da empresa pretende  ainda fortalecer a atuação na distribuição, com uma equipe de vendas reforçada e agregando valor ao portfólio (ampliando a oferta atual de 2 mil itens) e aos serviços oferecidos aos varejistas – hoje ao redor de 3 mil ativos. “Temos na distribuição cerca de 20 fornecedores, mas queremos ampliar a carteira da indústria, e duplicar nosso faturamento, vender mais para os mesmos clientes, e ganhar eficiência e produtividade, mas sem perder o espaço conquistado com o Lojão Fasouto, com crescente resultado de faturamento”, explica. A meta é ampliar a cobertura, inclusive com o B&B, que hoje está em 15 mil varejistas, considerando as duas modalidades de negócios. 

Lição paterna 

Aos 58 anos, Juliano declara todo respeito e carinho pelo pai, falecido em 2020, aos 88 anos, e que criou um legado caracterizado com o lema “negociar e fazer amigos”. Senhor Raimundo, ou Raymundo com y, como preferia o patriarca, era empreendedor nato, do tipo que, ainda menino, aos 8 anos de idade, decidiu ganhar uns trocados e passou a engraxar sapatos. Aos 10 anos, o garoto, nascido em Estância em 1932, cidade 68 quilômetros distante de Aracaju, vendia jornais e revistas. Aos 11 trabalhava como balconista e aos 15, como caixeiro viajante. Economizou e, aos 25, tornou-se dono de um bar que ganhou fama, localizado em uma área central e movimentada da sua cidade, perto do local de embarque e desembarque de passageiros de ônibus que partiam ou chegavam de outros Estados.

Sete anos depois, deu um passo determinante rumo à prosperidade: tornou-se distribuidor de cerveja e refrigerante de uma marca que tinha pouca penetração no Estado. A iniciativa gerou bons resultados e levou o empresário a instalar a Disberj-Distribuidora de Bebidas Raimundo Juliano na capital sergipana e enveredar, em paralelo, por outros caminhos empreendedores. 

Investiu na criação da Fasouto, que começou pequena, em 1982, no ramo de transporte de cargas para atender a Disberj. Nascia ali a sociedade do senhor Raimundo com o filho Juliano César, um jovem de 18 anos que acabara de ingressar no curso de graduação de Administração de Empresas. Foi o estímulo necessário para o despertar empreendedor do primogênito, que detinha no início uma pequena participação de 5% e hoje administra uma empresa que tomou corpo ao investir no canal indireto e em outras áreas. 

Raimundo Faria Souto tinha como lema “negociar e fazer amigos”

Tocado a partir do olhar observador dos donos, que também tinham na bagagem a expertise conquistada obtida com a distribuição de bebidas, nos anos 90, o grupo decide investir no atacado com entrega, aproveitando a boa maré desse ramo de atividade. Na ocasião, optaram por abastecer Sergipe, parte da Bahia e de Alagoas, com representantes comerciais que disponibilizavam produtos, mas sem o compromisso de fidelizar os fornecedores nem oferecer serviço aos clientes. 

Novos rumos 

Mas com o passar do tempo a operação foi reavaliada visando a sua evolução. “Por volta dos anos 2000, começamos a atuar com especialização em atacado distribuidor, atender somente o Estado de Sergipe e trabalhar com um portfólio com as principais categorias e itens de fornecedores não conflitantes, oferecendo itens do segmento pet, de papelaria, produtos de limpeza, de utilidades e outros artigos importantes para as lojas dos varejistas. Além disso, agregamos serviços de merchandising e de promotores. Esse foi o primeiro serviço que fizemos  quando deixamos de lado nossa dedicação exclusiva ao  atacado generalista com entrega e passamos a atuar como atacado distribuidor, o que deu certo e adotamos até hoje”, diz.

Mas a partir da dinâmica do mercado consumidor, o xadrez do mundo de negócios apontou um novo caminho de vendas, o atacado de autosserviço. “Percebemos então a oportunidade de alcançar clientes não atendidos na operação de atacado distribuidor por ter um mix de 3 mil itens (mais enxuto) ou porque compram uma quantidade menor da que é exigida para a entrega. Foi quando criamos o Lojão Fasouto, em 2007, que tem atualmente cerca de 8 mil itens.”

Investimentos

O empresário explicou que, desde o início, a ideia sempre foi a de fazer com que as duas operações caminhassem juntas, deixando de lado a competição entre elas, adotando assim a estratégia de que, juntas, se complementariam para atender mais clientes, do consumidor ao micro, pequeno e médio varejista, e passando pelo  transformador. “Mantivemos a mesma identidade nos dois modelos de negócios e acreditamos que foi uma decisão importante, pois permite ao Grupo ser extremamente atuante em Sergipe, crescendo passo a passo, dentro do conceito de uma empresa regional que investe na sua equipe, com baixa alavancagem financeira e expansão controlada.”

Mas como um assunto leva a outro, em 2010 a Fasouto investiu na reforma do seu centro de distribuição e, em 2013, iniciou o processo de interiorização de atendimento, guiado especialmente pelas cinco unidades do Lojão, localizadas em Aracaju e nas cidades de Socorro, Estância, Lagarto e Tobias Barreto. 

Com parte do plano de evolução física dos canais de vendas, em 2020, o grupo construiu um centro de distribuição com capacidade para alavancar o crescimento, bem como oferecer serviços de logística a terceiros, visualizando um viés futuro de negócios. 

Mas aí veio a pandemia, que dificultou o abastecimento, e fez com que o Grupo recolhesse o projeto de expansão e acelerasse o passo para atender por meio do canal digital, iniciando o trabalho em plataformas de marketplace, como ifood . No fim de 2021, lançou a fasouto.com, que está nos planos atuais de incremento: “Queremos alcançar os quatro cantos do Estado sem que seja preciso ter lojas físicas e agora dar passos largos em direção ao B&B. Assim, permanecemos com os objetivos de oferecer complementaridade com os canais de vendas Fasouto.”

Em paralelo ao comércio atacadista distribuidor e de autosserviço, a Fasouto mantém a trajetória de investir na diversificação. Investe na pecuária de corte, no plantio de eucalipto e na agricultura irrigada de alta produtividade para coco verde. Além disso, tem um ramo imobiliário, que administra seus galpões, centros de distribuição e lojas.

Pai dedicado de três filhas, duas estudantes de especialização em medicina e uma graduada em odontologia, o empresário nas páginas seguintes aborda  sucessão familiar, veia empreendedora, e a importância de estar à frente de uma empresa longeva, de 40 anos

Entrevista- Juliano César Faria Souto

O bem mais valioso

O empresário Juliano César Faria Souto começou cedo o seu trabalho com o pai Raymundo, com apenas 14 anos. Hoje, comanda a empresa com o legado de acreditar  sempre que precisa desenvolver e estimular a cultura do empreendedorismo no País. Confira, a seguir, as suas convicções e como avança no canal indireto.

Como você se sentiu ao  assumir o compromisso de ter uma empresa aos 18 anos?

Não podemos falar do início da Fasouto sem destacar a importância dos ensinamentos do meu pai. Aos 18 anos, me chamou e disse que eu passaria a atuar na área de transportes, quando tudo começou. Mas antes disso, já dava expediente na empresa do meu pai. Tive carteira assinada aos 14 anos, mas lógico que sempre era visto como o filho do dono. O fato é que ao assumir a nova tarefa, enfrentei desafios, ainda que tivesse a tutela dele. A lição aprendida foi a de buscar as oportunidades e não ficar esperando a sucessão de um negócio pronto.

E como você enxerga a sucessão? 

Para que seja tranquila, é preciso ter alguém que queira ceder e outra capacitada que queira assumir. Tenho três filhas com profissões independentes e que participam da empresa como sócias patrimoniais. Não atuam diretamente no dia a dia, mas todas as decisões são tomadas conjuntamente, entre nós quatro. Hoje, sou o CEO e mantenho um quadro de profissionais que não pertencem à família. Somos três irmãos, cada qual mantém suas atividades, estratégia adotada pelo meu pai, que oferecia o fermento para que cada um fizesse crescer o negócio. A sucessão da primeira geração está definida. O desafio é fazer para a segunda e terceira gerações.

O que é o comércio atacadista para a empresa?

Quando decidimos entrar no comércio atacadista foi para investir na expertise do comprar e vender, ter o reconhecimento no trabalho prestado, como um bom player, o que buscamos fazer até hoje.

Como você vê o empreendedorismo no Brasil?

Acredito que precisamos desenvolver e estimular a cultura do empreendedorismo no País. Percebo que as pessoas pensam em fazer concursos público e querem ser juízes, procuradores, e não desenvolver essa capacidade. Hoje, vejo que as universidades falam apenas de ciências, mas precisam destacar também o valor de empreender.

Como você avalia o mercado de atacarejo? Deixou de ser um bom investimento? 

É um mercado altamente inflacionado, com três ou quatro grandes players investindo nesse segmento, abrindo praticamente uma loja por dia. Adotamos a cautela, recolhemos o plano de expansão das lojas físicas, e preferimos esperar dois ou três anos para avaliar o cenário. 

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