Em um tempo em que as relações de consumo e o movimento do varejo precisam ser acompanhados com lupa para potencializar os negócios, as empresas devem redobrar os cuidados na avaliação de informações colhidas sobre o varejo, a região que atuam e suas respectivas potencialidades. Pesquisa realizada pela Zeta Dados, especializada em análise de dados, mostra a importância de que se faça uma leitura atualizada do CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) e aponta divergências, como de estabelecimentos cadastrados em uma operação, mas que, na prática, atuam em outro segmento do varejo.
“O combustível para fazer uso de qualquer inteligência artificial e ter, sobretudo, uma boa base de dados. Hoje, na avaliação do mercado de varejo, uma das principais e mais utilizada é a observação do CNPJ, de enquadramento das empresas pelo CNAE, para saber se o mercado é relevante ou não para abrir uma operação, destinar a força de vendas a uma determinada área, avaliação do potencial do portfólio e/ou ingresso de novas categorias, ter um preparo comercial assertivo no atendimento aos clientes e também para definir o plano de campo (rota comercial e logística)”, explica Paulo Angerami, CEO da consultoria.
O problema, acrescenta, é que o CNAE é uma base frágil para definir sozinha uma leitura mais apurada do mercado, uma vez que apresenta alguns problemas, como oferecer pouco enquadramento e, por isso, tem um leque restrito de segmentação e leva a divergências. “Outro erro é quando a empresa não acompanha a atualização mensalmente dessas informações, que oscilam constantemente em razão da abertura e mortalidade das empresas.”
O terceiro equívoco, ressalta o especialista, está na divergência de dados, que muitas vezes o que consta ali como restaurante ou bar, necessariamente, não atua no ramo especificado. A partir dessas observações, a Zeta Dados desenvolve um estudo de cruzamento de informações entre o CNAE com outras fontes de dados, como, por exemplo, a forma que o ponto de vendas se apresenta nas mídias sociais, no Google e em plataformas digitais, como iFood, além de usar modelos de inteligência para avaliar as fotos dos estabelecimentos e as pesquisas realizadas diretamente nos locais.
NÚMEROS O levantamento considera que existem no mercado cerca de 1 milhão de pontos de vendas classificados como tradicionais e mais de 500 mil varejos alimentares. Neste último grupo, estão enquadrados quatro modelos de lojas: de conveniência, minimercados (de um a quatro checkouts) e os de maior porte, super e hipermercados, que representam cerca de 50 a 100 mil estabelecimentos, no máximo.
No enquadramento dos tradicionais, 51% estão no Sudeste. Na segunda posição estão empatadas as regiões Nordeste e Sul, cada qual com o percentual de 17%, seguidas da Centro-Oeste, com 9%; e Norte, na casa dos 6%. O levantamento ressalta ainda que nos primeiros quatro meses de 2023 foram fechados 119 mil pontos de vendas e 155 mil abertos.
Entre os destaques está o crescimento de números de bares em 10% somente nos primeiros quatro meses de 2023, numa sinalização de que o setor busca a recuperação após a pandemia.
Saltam aos olhos, porém, as divergências nas linhas classificatórias dos estabelecimentos. Entre os quais um revela que somente 43% dos classificados como minimercados atuam neste segmento. O mesmo vale para os enquadrados como bares e restaurantes, sendo que 69% e 75%, respectivamente, são fiéis às categorizações. Outro dados que chama a atenção é que apenas 52% das lanchonetes e 56% dos minimercados ativos na base de CNAE estão efetivamente abertos.
IDENTIFICAÇÃO Entre as empresas que já contrataram os serviços da Zeta Dados está a Medeiros Distribuidora, sediada no Maranhão, que ocupa a terceira posição no estado, segundo o Ranking 2023 (base 2022), com um faturamento declarado de 237,9 milhões de reais e 12 mil clientes ativos. A companhia abastece o varejo maranhense e do Piauí com mil itens, entre congelados e resfriados, possui 12 mil clientes ativos e demonstrou interesse em expandir o portfólio agregando outras categorias de produtos.
Reberty Sousa, diretor operacional, explica que o objetivo era identificar quais itens transitam bem no canal indireto, na região de atuação, e não constam no portfólio, além de dimensionar o potencial de alcance das linhas de produtos que trabalham. “Pensamos, por exemplo, em limpeza pesada para o lar, como alvejante e sabão em pó, mas percebemos que tem forte concentração de venda no canal direto, nos grandes players que são atendidos diretamente pela indústria.”
Segundo o executivo, o levantamento, realizado no fim de 2022, foi importante para definir um rumo de atuação mantendo o foco no mix já oferecido em vez de ampliar a oferta de produtos. “Mantemos uma operação baseada em alimentos refrigerados, de frete caro, e não podemos adicionar produtos que não ofereçam espaço para precificar o serviço”, acrescenta.
A Medeiros fornece ao varejo carnes in natura (suínos, bovinos e pescados), industrializados (embutidos) e laticínios (queijos e iogurtes) de diversas indústrias. O mapeamento serviu para mostrar as categorias “fortes” no canal indireto, comercializadas pela distribuidora e que poderiam ser mais representativas em vendas.
Com as informações garimpadas no mercado regional, a companhia investiu em ações para dar vigor a essas linhas. Reposicionou produtos e adotou estratégias promocionais específicas para incrementar o retorno. “Com a concentração de energia, ampliamos as vendas em menos de seis meses de 6 para 8,5 milhões de reais no faturamento ao mês. E alcançamos um crescimento de 42% em produtos da categoria de resfriados”, destaca ao avaliar a importância do mapeamento contratado para definir o caminho e evolução, com foco, e saber definir o portfólio. “A Zeta Dados foi importante para mapear produtos e canais de vendas de boa aceitação na região em uma lista de alimentos, produtos de limpeza, de higiene pessoal e para pets”, finalizou.
