Código de barras

Meio século de inovação

Apresentado ao mundo em 1973, chegou ao Brasil na década de 1980 e lançou uma nova ordem nos negócios e na logística

Por Claudia Rivoiro e Rubia Evangelinellis

O código de barras completa 50 anos com história para contar. Provou o seu valor não só por proporcionar uma melhor experiência de compra para os consumidores, mas também pela otimização dos negócios e eficiência operacional das empresas. A exemplo do ocorrido em outros setores, foi um divisor de águas para o canal indireto, principalmente no avanço da logística de recebimento e entrega de mercadorias, controle de estoque, de vendas e outros processos essenciais que possibilitam eficiência, ganhos de produtividade e redução de custo. Criado pela indústria de alimentos dos EUA, ganhou terreno e fama internacional em pouco tempo. Atualmente, registra a marca de mais de 1 bilhão de produtos lidos nos checkouts no mundo todo.

Foi apresentado aos brasileiros pela Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil, entidade que comemora 40 anos no país e reúne 17 empresas e sete entidades, entre as quais a ABAD. Chegou em um tempo em que a economia era solavancada pela hiperinflação, remarcações de preços feitas de um dia para outro e em que as empresas careciam de ferramentas tecnológicas para controlar, com lupa, e ter agilidade nos processos. Em entrevista exclusiva à  DISTRIBUIÇÃO, João Carlos de Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Automação – GS1 Brasil, destaca os ganhos do setor produtivo obtidos com o código de barras ao longo de sua existência. E ainda os avanços

conseguidos com a nova geração bidimensional, 2D, que permite que até mesmo o consumidor faça, acionando o celular, a rastreabilidade do produto, ao longo da cadeia de suprimentos, e obtenha um volume maior de informações sobre os mesmos. Outra novidade é que poderá ser impresso diretamente em itens pequenos, como canetas e batons.Ainda em fase embrionária, o 2D está em fase piloto aqui e no mundo, orquestrada pela GS1 global, com projetos pilotos em 20 países, entre os quais estão Estados Unidos, China e Austrália, executados em parceria com grandes players do varejo. Veja mais na entrevista com João Carlos de Oliveira, presidente da GS1 Brasil, a seguir.

Como o  avalia a importância do código de barras para o canal indireto?

O setor participa da GS1 Brasil desde a sua fundação, há 40 anos. Reúne um grupo de 17 empresas, da indústria e do varejo, e sete entidades, entre as quais está a A ABAD. Embora seja detentora de muitos padrões, como o QRCode dos medicamentos, o DataMatrix (bidimensional), o mais conhecido é o código de barras. Ele revolucionou as transações comerciais entre as empresas.

É possível dimensionar de quanto foi esse ganho?

É difícil saber o quanto representou quantitativamente o seu ingresso na operação das empresas. O que posso dizer é que cada operação, que hoje é simples, antes era muito complexa. Por exemplo: um fornecedor que tem seu produto acondicionado em palete, num lote de 500 latas, por exemplo, entra direto no depósito do supermercado e segue para o ponto de vendas, uma vez que o código de barras faz a leitura e precifica. Se não houvesse assim, o volume embalado da mercadoria teria de ser desmanchado na sua chegada, para que os preços fossem registrados manualmente. Imagine como seria deficitária e onerosa a mesma operação.

O código chegou no Brasil num período difícil da economia, de hiperinflação, de constante remarcação de preços. Como foi a sua aceitação?

O código facilitou o levantamento de estoque. Antes, a empresa comprava uma quantidade de produtos e, para saber o que tinha sido vendido, precisava fazer o levantamento do estoque e comparar com o que tinha na loja, partindo do pressuposto obviamente de que a quebra fosse zero. Com o código de barras era possível saber exatamente o que foi comprado e vendido.

Inicialmente, os equipamentos de leitura eram importados?

Existia a reserva de mercado na informática, que onerava a operação de instalação do sistema. Basicamente os equipamentos de leitura tinham de ser importados. Foi um processo moroso, mas permanente, uma vez que havia a melhoria demonstrada principalmente na gestão de toda cadeia produtiva e pelos benefícios ao consumidor final. Com o decorrer do tempo ficou claro que acelerava os processos, reduzia os custos e, consequentemente, os preços, e permitia a rapidez na operação dos checkouts.

Podemos afirmar que o código de barras foi um divisor de águas para a cadeia produtiva?

Toda a cadeia foi e é beneficiada desde a sua apresentação. Agora, o 2D (bidimensional) trará não só a rastreabilidade do produto, mas promoverá a interação e a difusão das informações. Muitas vezes o atacado distribuidor não tem acesso a todas as informações do produto para repassar ao varejista. Mas, com o 2D, o produto será autoexplicativo. O dono da marca poderá colocar quantas informações quiser sobre o produto, sendo que a capacidade de armazenamento de informações é quase que ilimitada.

Como está a evolução atual do código de barras?

Já estamos fazendo a migração do código de linear para o 2D, bidimensional, processo que entendemos que será muito mais rápido. É um tempo no mundo em que está mais preparado para a inovação. As pessoas entendem as vantagens da mudança e buscam mais informações sobre os produtos, a cadeia produtiva e sabem o valor da rastreabilidade, de a indústria dar informações sobre marcas e produtos. 

Qual o estágio que o 2D se encontra no mercado?

O processo começou no início do ano passado, coordenado pela GS1 global, com em torno de 20 maiores entre cerca de 150, o Brasil é considerado o 5º maior pelo critério de número de associados. Obviamente já começou aqui.

Temos tecnologia compatível?

Os equipamentos vendidos nos últimos 10 anos para varejistas, para ampliação das redes de lojas, estão aptos para a instalação do 2D. Acredito que 1/3 dos equipamentos hoje instalados podem ser adequados a custos baixíssimos, quase nada. Creio que, num primeiro momento, teremos o código de barras e o bidimensional concomitantes.

Qual o tempo estimado de transição e adequação?

 A estimativa é que será um processo gradual, mas muito mais veloz do que foi com o código de barras, há 40 anos. 

O 2D acelera processos de inspeção no transporte de mercadorias?

Com certeza, as informações solicitadas pelos órgãos fiscalizadores poderão e/ou deverão estar no 2D. A própria checagem na rota é facilitada. 

A GS1 tem parceria ou oferece condição às empresas interessadas em obter o 2D?

A GS1 coordena um processo no Brasil de orientação, conscientização e instalação do 2D, sendo que várias entidades são parceiras, como a ABAD. Vejo a transição para o código do 2D como irreversível no mundo. Já são mais de 400 milhões de produtos cadastrados na plataforma internacional, só no Brasil já são 60 milhões de produtos cadastrados no CNP – Cadastro Nacional de Produtos, da GS1

O código de barras foi uma grande inovação. Acredita que o 2D será  também?

Sim. Se a participação do código de barras foi extremamente importante para a cadeia produtiva, o 2D será mais significativo e trará mais mudanças nas relações entre varejistas, distribuidores, indústrias e até consumidores finais


Martins e a sinergia do código

O grupo Martins iniciou a operação com o código de barras há mais de 30 anos. Christiano Bittencourt Salles (na foto), gerente de operações de armazenagem e da área de supply chain, há 24 anos na companhia, assegura que o sistema estabeleceu um novo paradigma nos processos de recebimento, armazenagem e expedição e está presente em todo o sistema operacional.

O rastreamento eletrônico permitiu ganho “enorme” de produtividade, qualidade no processo de expedição e controle online do maior ativo da empresa, que é o estoque, descentralizada e distribuído pelas filiais. São sete centros de armazenagem, 24 hubs de armazenagem, consolidação e distribuição e 68 operações de cross docking e transit points (pontos avançados de trânsito e transbordo de mercadorias). 

“Recebemos nos CDs produtos de cerca de 590 fornecedores, fazemos em torno de 350 mil entregas mensais para 140 mil clientes. Temos 31 mil skus em estoque e controlamos 1.250 veículos. Qualquer item para entrar no empresa tem de constar o código”, resume, ao acrescentar que os equipamentos têm tecnologia embarcada inovadora e para leitura de QRCode.

O sistema permite ainda o acompanhamento da logística reversa. Outro ganho está no

inventário do estoque, sem a interrupção das atividades. Nilson Cesar Silva, gerente de Centro de Distribuição de Uberlândia, há 30 anos no grupo, lembra que o processo de separação e conferência era feito antes na caneta e papel e foi dinamizado com o código. “Desde a entrada do produto no estoque, para cada palete que recebemos, criamos uma identidade no ciclo de armazenagem do Martins, até a inspeção final do cliente.”


Conexão Unilider


Badger Hentzy, diretor-presidente da Unilider

Com 20 anos no mercado, é fruto da experiência obtida no setor pelos sócios e irmãos Badger (na foto) e Beraldo Hentzy, a Unilider Distribuidora, com 17 mil clientes no Rio de Janeiro e Espírito Santo, mantém foco na tecnologia para ter eficiência logística e a conexão entre os departamentos e no atendimento.

Neste aspecto, o código de barras é considerado fio condutor para dinamizar o processo, com importância demonstrada desde a entrada do produto, controle do estoque, expedição e até para a consulta virtual na ponta de vendas. “Mesmo no e-commerce, ajuda bastante, seja para o vendedor localizar os produtos por meio do smartphone ou no apoio ao cliente na consulta feita ao site de compras. O código identifica os produtos e evita erros e falhas”,

explica Badger Hentzy, diretor-presidente da companhia, que atua há 37 anos no canal

indireto. Ainda que a empresa esteja  priorizando o desenvolvimento do ominichannel, o empresário destaca o valor evolutivo do código de barras e  ganho da rotina operacional, por imprimir velocidade aos processos e maior controle. “Atualmente, emitimos de 1,5 mil a 2 mil notas fiscais diariamente. Imagine como seria feito o trabalho de forma manual, ou seja, de quantos funcionários precisaríamos para escrever à mão e quanto tempo os caminhões demorariam para sair e fazer a entrega.”


Linha do tempo

1973

Líderes da indústria de alimentos nos EUA criam o código de barras

1974

O Uniform Code Council (UCC), sediado nos EUA, foi nomeado administrador do novo código de barras, designado como Código Universal de Produto

1977

A European Article Numbering Association (EAN) foi estabelecida em Bruxelas, na Bélgica, como uma organização internacional sem fins lucrativos especializada em

normas e padrões.

1983

Os códigos de barras tradicionais foram expandidos e usados além dos balcões de pagamento em embalagens múltiplas de atacado, estojos e caixas de papelão

1989

A GS1 publicou seu primeiro padrão internacional para intercâmbio eletrônico de dados

1995

A GS1 se expandiu para o setor de saúde, implantando padrões para aumentar a

segurança do paciente

1999

As especificações do DataBar da GS1 foram aprovadas. Esses códigos de barras de “espaço reduzido” e empilhados eram capazes de identificar itens pequenos, como jóoias

e alimentos frescos

2000

GS1 marca presença em 90 países

2002

Lançado o Processo de Gerenciamento de Padrões Globais da GS1

2003

A EPCglobal, Inc. foi formada a fim de inovar e desenvolver padrões para o Código

Eletrônico de Produto (Electronic Product Code – EPC) e para apoiar o uso da tecnologia de identificação por radiofrequência (RFID)

2004

Aprovado o DataMatrix , primeiro código de barras bidimensional adotado pela GS1

2005

Ocorre a fusão do UCC com a EAN, dando origem a uma organização internacional com 101 Organizações-Membro da GS1

2006

A GS1 lançou o primeiro padrão global de rastreabilidade

2010

GS1 ingressa no mundo do business-to-consumer (B2C)

2013

A GS1 foi credenciada pela U.S. Food & Drug Administration (FDA) dos EUA como agência emissora de identificadores exclusivos (UDIs) usados para identificar de modo

global e exclusivo os dispositivos médicos

2014

A GS1 construiu uma nova estratégia global para atender às demandas do comércio digital omnicanal, incluindo a ratificação do primeiro padrão “digital” da organização

2016

A BBC elencou o código de barras da GS1 como uma das “50 coisas que moldaram a economia mundial”

2018

A GS1 se expandiu para o setor financeiro como uma emissora credenciada de

Identificadores de Entidade Jurídica (Legal Entity Identifiers – LEIs) 

2019

A Plataforma de Registros da GS1 (GS1 Registry Platform – GRP) foi estabelecida como fonte confiável de Prefixos de Empresa da GS1 (GS1 Company Prefixes – GCPs), Numeração de Códigos de Barras (Global Trade Item Number – GTIN) e Números de Localização Global da GS1 (Global Location Numbers – GLN) 

2020

O padrão Digital Link da GS1 aproveitou os QR Codes para ajudar a conectar os consumidores a grandes quantidades de dados 

2021

A GS1 apoiou a indústria com a ambição de ler códigos de barras bidimensionaisl – QR Codes e códigos de barras DataMatrix da GS1 – nos pontos de venda de varejo de todo o mundo até o fim de 2027

2023

A GS1 celebra os 50 anos do código de barras junto com 116 Organizações – Membros locais. Mais de 1 bilhão de produtos carregam hoje códigos de barras da GS1

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