Com uma história construída ao longo de 82 anos de existência, um perfil inovador e um propósito de elevar seu faturamento até alcançar 10 bilhões de reais em 2030, o grupo mineiro Supernosso, que inclui atacado, varejo e indústria, é ótimo exemplo de uma empresa familiar longeva, que começou miúda e teve a ousadia de sonhar alto, mas sem tirar os pés do chão.
Erguida a partir do pequeno armazém Santa Tereza, de secos e molhados, em Belo Horizonte/MG, pelo imigrante libanês Fuad Elias Nejm, em junho de 1940, a empresa tomou corpo com a segunda investida, no atacado, em 1966. Hoje, combina as duas operações e demonstra possuir um DNA empreendedor alinhado a um moderno espírito comercial.
Apresenta agilidade, dinamismo e robustez ao investir em negócios diversificados, bem como capilaridade com foco no abastecimento de lares e negócios. A sinergia é visível quando se constata as proporções de sua operação e do seu faturamento – de 3,4 bilhões de reais em 2021 (em fechamento) e de 3,769 bilhões de reais projetados para 2022.
Mantém sob seu guarda-chuva a distribuidora Decminas, que atende cerca de 800 municípios mineiros, tem um braço estendido até a Bahia (onde usa a marca Dec Bahia), um portfólio de 4 mil itens e 24 mil clientes ativos. Conta ainda com 71 lojas na capital mineira e na respectiva região metropolitana. Há 40 supermercados Supernosso (categorizados como premium), e 13 lojas de proximidade Momento Supernosso.
Nessa conta também entram 18 unidades do atacado de autosserviço Apoio Mineiro, rede que recebe cerca de um milhão de clientes por mês em lojas e oferece um sortimento de 9 mil itens. Ainda para 2022, está prevista a expansão da bandeira, com o lançamento de cinco pontos de venda, que serão inaugurados no interior do Estado.
O primeiro deles passará a funcionar em maio próximo, em Curvelo – 179 quilômetros distante de Belo Horizonte.
Na retaguarda, a empresa tem a indústria Raro Alimentos, de cortes de carnes especiais e de fatiamento de embutidos com SIF (Serviço e Inspeção Federal). A planta fabril também produz alimentos de panificação. Todos os pro-dutos são destinados às lojas do Grupo.
“O nosso principal fornecedor é a Raro. Fabricamos em torno de 500 SKUs para as lojas”, diz Euler Nejm Fuad, presidente do Grupo e filho do fundador.
NOVOS CANAIS
Um dos aspectos nos quais a modernização se destaca é re-conhecido no investimento em canais de vendas on-line, como Supernosso. com e Apoio Entrega, bem como nos aplicativos Clube Supernosso e Clube Apoio.
“Não tenho dúvida do quanto é importante estarmos sempre atualizados. Nosso e-commerce (B&C), por exemplo, começou há seis anos. A partir da pandemia, quando o digital experimentou um boom, já estávamos atuando. Hoje, esse canal representa quase 10% das vendas do Supernosso, onde entram o Supernosso.com, o Clique e Retire (onde o cliente recebe a compra na unidade de sua preferência) e outros produtos”, acrescenta.
Focada na estratégia de estar presente em vários canais de vendas do varejo alimentar, em dezembro passado a empresa anunciou que se tornou sócia majoritária do e-commerce Orgânico do Chico, startup que comercializa cerca de 1.500 produtos orgânicos, naturais, veganos e artesanais, entregues em Belo Horizonte e região metropolitana.
No campo da inovação, a empresa desenvolveu uma parceria, pioneira no mundo, com o Carrefour. Com base no acordo selado em 2019, as 16 lojas Carrefour-bairro da grande Belo Horizonte trocaram de bandeira (em 2021) e são apresentadas ao público como Supernosso, o que demonstra a força e o valor de uma marca regional. O grupo mineiro assumiu a curadoria e a ad-ministração das lojas, rentabilizando a partir da melhoria de performance das lojas, que permanecem sob o domínio do Carrefour. (Leia na entrevista a seguir, com Euler Nejm Fuad.)
Outra iniciativa inovadora inclui as mais de 200 minilojas de conveniência batizadas de Be Honest e instaladas em condomínios da capital mineira e vizinhança, em Brasília e Goiânia. O Grupo se associou à startup que lançou a ideia de franquia de autosserviço de compras de conveniência em peque-nos espaços, os quais funcionam como mercados autônomos com apenas um funcionário para logística.
SINTONIA NO COMANDO
Para manter a máquina funcionando a todo o vapor, Euler conta com seus dois filhos, Rodolfo Nejm, sócio e vice-presidente do Grupo, e Rafaela Nejm, sócia e diretora de Marketing e Branding. Representantes da segunda e da terceira geração, os três garantem que não há conflito no dia a dia no que se refere às decisões e à condução dos negócios, em uma atividade que mantém o diálogo e o respeito mútuo como pilares.
Eles seguem a cartilha do patrono e, desde cedo, foram estimulados a participar da empresa, frequentando naturalmente o ambiente desde crianças. E é assim que também fazem com seus filhos, com idades entre 1,6 ano e 5 anos e meio, que já visitam e participam das festas da empresa.
“Creio que a base do nosso sucesso como empresa familiar é o amor que criamos pelo negócio. Meu pai começou muito cedo com meu avô e também fez isso comigo, o que permitiu que eu criasse um forte laço de leal-dade e responsabilidade. Comecei na infância, como ele, a “cheirar” o armazém. Aos 13 anos, passei a ter algumas responsabilidades (no atacado) e aos 15 anos, já trabalhava efetivamente no Grupo. Isso aconteceu em 1998, quando eles abriram a primeira loja de varejo. A partir daí, passei por diversas áreas, como a de operação, a comercial, o açougue e a padaria. Fui construindo experiência e carreira, como também aconteceu com minha irmã, que não começou nova como eu, mas sempre esteve presente”, lembra Rodolfo, de 38 anos, graduado em Administração de Empresas.
Ele também ressalta que o encontro de gerações é enriquece-dor porque concilia experiência com juventude em tempos de novos consumos e mudanças de hábitos.
Rafaela, de 33 anos, ingressou efetivamente no Grupo aos 18 anos, mas já havia seguido o rito familiar, de frequentar a empresa, desde menina. Graduou-se em Direito, mas optou pelo caminho do Marketing. Assumiu a diretoria da área aos 23 anos. Como o irmão e o pai, ocupa assento no Conselho de Administração, ainda em construção. Para ela, o olhar feminino torna-se fundamental dentro das corporações para o fortalecimento da cultura da empresa, tendo como óptica as relações de trabalho e de consumo.
“Acredito que tenho um papel muito destacado na empresa graças à minha visão diferente, feminina, e que representa, em parte, a diversidade. Esse aspecto feminino traz o lado da intuição e faz a diferença no mundo atual, de revolução de comportamentos, de pessoas sensibilizadas revendo o significado da vida, de trabalho.”
Na prática, esses valores são tangíveis quando, por exemplo, em uma reunião do Conselho, aparecem oportunidades de negócios e é preciso fazer escolhas. Quando se tem esses propósitos claros, as respostas são mais rápidas em relação à decisão de que caminho seguir, observa. “Por exemplo, o propósito do Supernosso é facilitar o abastecimento de lares e negócios. Se aparece uma proposta mirabolante, lucrativa, que não se conecta, não tem sinergia, não se perde tempo com ela”, enfatiza.
