Crédito

Aporte necessário

O mercado de crédito para pessoa jurídica vem sendo impulsionado pelo aumento de oferta e pela atuação de fintechs e FIDCs

Por Adriana Bruno

Os dois últimos anos foram desafiadores para a economia nacional e também deve apresentar um quadro de retomada mais lenta dos negócios. Em cenários assim, muitas empresas precisaram buscar crédito para manter suas operações. Segundo Francisco Ferreira, diretor da ABCD — Associação Brasileira de Crédito Digital, o mercado de crédito para pessoa jurídica no Brasil passou por uma vigorosa expansão nos últimos dois anos, impulsionada pelos programas de governo e pelo aumento da oferta por novos entrantes no mercado como fintechs (abreviatura derivada de financial technologies, isto é, “tecnologias financeiras”) e FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios). “Houve um aumento de cerca de 31% na carteira de crédito para pessoas jurídicas desde março de 2020. O Banco Central tem promovido o aumento da competição, e várias ações trouxeram mais alternativas de crédito para as empresas. Vale a pena destacar a nova regulação para registro de recebíveis de cartões de crédito, o advento da CCB eletrônica e o surgimento das fintechs de crédito como fatores preponderantes para esse aumento na oferta”, comenta. 

Mas apesar do cenário de expansão, Marco Couto, diretor Vogal do Ibevar — Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo, conta que houve um aumento de cerca de 31% na carteira de crédito para pessoas jurídicas desde março de 2020. “O Banco Central tem promovido o aumento da competição, e várias ações trouxeram mais alternativas de crédito para as empresas. Vale a pena destacar a nova regulação para registro de recebíveis de cartões de crédito, o advento da CCB eletrônica e o surgimento das fintechs de crédito como fatores preponderantes para esse aumento na oferta”, comenta. 

Desde o início da pandemia, novos formatos de operação e de logística ganharam importância para suprir a alta demanda observada. “Nessa corrida, vence aquele que consegue otimizar sua cadeia de suprimentos e garantir aderência e velocidade na entrega ao mercado consumidor. 

Critérios 

Não só no cenário atual, mas também em qualquer situação, o empreendedor tem de entender que crédito é dívida, a qual deve ser paga no futuro. “Uma vez que se tenha decidido pelo crédito, é muito importante fazer um cálculo para verificar se o fluxo de caixa da empresa suporta o valor da prestação que está sendo proposto. Muitas vezes, os empreendedores levam em conta apenas o valor total do financiamento e não consideram se o negócio gera caixa suficiente para se pagar os compromissos já assumidos e as prestações do crédito”, orienta Adalberto Luiz, analista do Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Nacional. Ele também esclareceu que o crédito faz parte do planejamento financeiro da empresa. Portanto, antes de pensar na linha de crédito adequada, é necessário identificar onde o dinheiro do crédito será utilizado. “Se a intenção é fazer uma reforma, ampliar a área de estoque ou modernizar as instalações, o mais recomendado é buscar linhas de investimento que tenham prazos de carência mais elásticos e pagamento em maior número de parcelas, o que dá fôlego ao fluxo de caixa da empresa até o início do pagamento das prestações”, diz. 

Ao falar sobre a análise e os critérios a serem considerados antes da tomada de crédito, é importante entender a necessidade do recurso. “Como boa regra geral, necessidades de curto prazo exigem crédito de curto prazo, enquanto necessidades de longo prazo deveriam ser supridas por créditos de longo prazo”, comenta Leandro Sanabio, CEO do BAVA. “No momento da tomada de decisão, é essencial escolher os parceiros certos. É importante buscar quem entende a realidade do mercado e pode agregar valor ao negócio”, avalia.

Já Francisco Pereira, Diretor da ABCD, destaca que necessidades pontuais e emergenciais sempre acabam sendo mais difíceis e custosas. “O segredo é sempre estudar muito suas opções e não ter medo financeiro”, observa.

Caminhos para o setor 

As opções de crédito para empresas variam de acordo com a instituição financeira à qual a empresa recorre, cada uma adotando uma política distinta. “Tivemos uma intensa procura por linhas de Capital de Giro com garantias de Recebíveis de Cartão e Duplicatas. Logo depois, as linhas de garantia com Investimento também foram muito utilizadas pelos nossos clientes. As linhas de rotativos foram igualmente procuradas com muita frequência nos últimos meses, visando necessidades de curto prazo”, comenta Marcelo Scotton, Head de Gestão Comercial do Original Empresas. 

Por outro lado, segundo Adalberto Luiz, entre as linhas mais utilizadas pelos pequenos negócios estão as relacionadas ao capital de giro e ao de apostar em empresas que usam a tecnologia e a inovação dentro do mercado desconto de recebíveis (duplicatas, cartão de crédito, cheques). Adalberto explica também que o risco do crédito para o tomador está relacionado com sua capacidade de pagamento. “Então, se o atacadista recebe um crédito no qual as prestações não são cobertas pelo fluxo de caixa, em algum momento ele ficará inadimplente.  Portanto, o mais importante é não comprometer totalmente as sobras de caixa com o pagamento das prestações. Então, se uma empresa tem uma sobra de caixa mensal de 50 mil reais, sugere-se que ela não comprometa mais do que 50% com o pagamento do crédito. Assim, se houver alguma queda no faturamento, ainda assim, a empresa não ficará inadimplente”, afirma. 

 Ferreira também destaca que há muitas fintechs que oferecem linhas de crédito para empresas. “A principal vantagem está na agilidade e na velocidade para acessar o crédito. Algumas empresas conseguem liberar o crédito no mesmo dia. Outro ponto importante são as taxas. Muitas fintechs conseguem trazer alternativas mais baratas, reduzindo despesas com juros e encargos”, diz. 

Quanto ao setor atacadista distribuidor, Ferreira afirma que existem diversas linhas de crédito para esse tipo de negócio. “Por se tratar de uma atividade com muita recorrência nas vendas, uma boa alternativa é o desconto de recebíveis. As empresas podem antecipar receitas de diferentes clientes conseguindo taxas muito atrativas. Por outro lado, as linhas de capital de giro podem ser utilizadas, por exemplo, para a formação de estoque e investimentos destinados à construção de centros de distribuição. Finalmente, também há linhas de financiamento de veículos para a renovação ou a ampliação das frotas”, comenta. 

Soluções específicas

Para André Bravo, fundador e COO da fintech Bankme, entre as opções de linhas de crédito, a que apresenta maior potencial (e, mesmo assim, é a menos explorada) é a antecipação de recebíveis

“Esse tipo de operação, via de regra, mostra-se mais saudável porque não gera um novo endividamento da empresa; por exemplo, quando a empresa faz um empréstimo (ou capital de giro) com o banco, ela precisa gerar novas vendas para obter receita e pagar o valor tomado. Mas, quando essa mesma empresa solicita a antecipação de seus créditos futuros, na prática ela já ganhou esse dinheiro, embora ainda não o tenha obtido em seu caixa por conta do fato de a venda ser parcelada e/ou futura. Com a operação de antecipação, permite-se receber à vista esse dinheiro, sem se comprometer com outro endividamento”, diz

Leandro Sanabio, CEO do BAVA

Leandro Sanabio diz que o segmento atacadista distribuidor caracteriza-se por uma elevada necessidade de capital de giro e margens apertadas, e sofre com uma dupla pressão: de um lado, grandes indústrias com elevado poder de barganha como fornecedores, e do outro, a economia real, muitas vezes frágil e sensível a qualquer soluço econômico.

“Assim, cada vez mais, o segmento ganha visibilidade, e também importância; em consequência, empresas do setor financeiro se dedicam a construir soluções específicas para o segmento”, diz.

Segundo ele, além da extensão do prazo de pagamento e da antecipação dos recebíveis, há um movimento cada vez maior do uso de recebíveis de cartão para a redução de risco e a geração de novas vendas, que deve ser muito útil para distribuidores e atacadistas.

“A ideia é simples. Muitas vezes, os distribuidores têm dificuldade para dar prazo e abrir limites a clientes novos ou pequenos, ou mesmo para incrementar volumes de crédito para os clientes atuais. Ao mesmo tempo, muitos varejistas realizam suas vendas com maquininhas de cartão e recebem apenas em 30 dias e, por isso, têm uma agenda futura de recebimentos. Hoje, essa agenda pode ser usada para viabilizar vendas. Ou seja, acessamos os recebíveis de cartão e podemos utilizá-los como uma garantia para a operação de maneira simples e barata. Também podemos transferir esses recursos diretamente para o distribuidor, utilizando esses recebíveis como forma de pagamento para o fornecedor”, explica.

Ele finaliza afirmando que se trata de um processo integrado ao fluxo operacional e novo, mas cada vez mais simples, que deverá ser o padrão de operação entre distribuidores e varejistas em um curto período de tempo. 

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