Gestão

Empoderadas e competentes

Especialistas veem o valor de mulheres em postos de comando; enquanto sucessoras contam as suas experiências no canal indireto

Por Rúbia Evangelinellis

Em um mundo em que pede-se atenção à diversidade, a participação feminina em postos de alto comando ainda patina. Geovana Donella, conselheira de administração de diversas companhias e especialista em governança corporativa para empresas familiares, destaca que a liderança feminina é vital. “Possibilita uma grande contribuição, seja para S/A ou familiar. Já percebemos uma certa mudança, com o comando feminino alavancado e filhas (sucessoras) a serem presidentes de conselhos ou conselheiras. Além da capacidade técnica, elas têm a capacidade comportamental, de servir a todos, de cuidar das pessoas, de mobilizar os ambientes”, diz.

Geovana Donella: a liderança feminina é vital

A especialista ressalta que as competências que formam o perfil de liderança feminina apontam para profissionais dinâmicas, que gostam de competição e com capacidade de influenciar as transformações digitais, o futuro do trabalho. “A visão da mulher de gerir o capital humano e de aumentar o engajamento das pessoas reflete na imagem e reputação da companhia.”

Adriana Muratore, conselheira de administração e diretora do Programa Diversidade em Conselho, iniciativa do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), avalia que sendo o varejo o segundo maior empregador do Brasil, consequentemente, tudo o que passa sobre evolução do mercado alcança o setor e setores ligados a ele. “Isso significa que o atacadista/distribuidor tem de se sentir envolvido. E quando falamos de gerar valor para a governança e longevidade das empresas, fala-se em ESG –  Environmental, Social and Governance, diversidade de olhar, experiências. Mas ainda falta letramento para isso. A sociedade está evoluindo para entender gêneros em uma velocidade insuficiente para a geração de valor”, lamenta.

Sem medo de assumir

Danielle Souza Brasil, CEO da Riograndense Distribuidora, é exemplo de profissional aguerrida, preparada e dinâmica. Além de pilotar a empresa da família, é vice-presidente da ABAD. “Espero que seja a primeira de outras mulheres na diretoria. É uma experiência que agrega conhecimentos”. Sucessora do pai, Dorian Morais, ela fincou o pé na empresa aos 18 anos, quando ingressou no curso de direito. Aprimorou o conhecimento com pós-graduação em direito do trabalho, MBA em gestão empresarial e em gestão de projetos e no Programa de Formação de Dirigentes.

“Para acompanhar o mercado, é preciso ter um nível grande de conhecimento, além de atender aos clientes de maneira segmentada. O setor exige atenção em muitas áreas diferentes, desde o comercial ao financeiro, controladoria, contabilidade e logística”.

Danielle, que é casada e tem uma filha de oito anos, dirige uma companhia com cerca de 8 mil clientes no Rio Grande do Norte e na Paraíba, que se organiza para ampliação no atendimento às farmácias, com a oferta inclusive de medicamentos de venda livre. Em 2023, a empresa cresceu quase 40% e prevê, no mínimo, alcançar 15% em 2024.

Estamos juntas

Acometidas pela morte repentina de Clair Ernesto Dal Berto, em abril de 2022, Luciana Dal Berto, a mulher, e as filhas Carolyne e Rafaela Dal Berto uniram forças para tocar o negócio da família, a Disdal Distribuidora de Alimentos, em Brasília/DF.

Luciana assumiu a presidência e passou a participar ativamente de reuniões comerciais e eventos do setor. Carolyne, de 31 anos, ocupou o posto de diretora (também é vice-presidente do grupo ABAD Jovens e Sucessores). Já Rafaela, de 27 anos, responde pelo trade marketing, marketing e comunicação. “Meu tino comercial despertou cedo. Tanto que, aos 18 anos, decidi atuar como representante comercial na empresa”. Formada em administração e pós-graduada em marketing, toca ainda a distribuidora Max (de menor porte) e o Armazém da Rafa, sortido com itens de conveniência.

Carolyne recorda que ela e a irmã, desde meninas, acompanhavam os pais no trabalho e tiveram a liberdade de escolher seu caminho. “Aos 18 anos, inaugurei um salão de beleza.

Não deu certo. Mas ali aprendi a fazer de tudo um pouco e com meus erros. Sou formada em administração, em direito e cuido dos departamentos financeiro, pessoal e jurídico.”

Entre os feitos da nova gestão está o crescimento de 14% em 2023 e 15% previsto para 2024. Para Luciana, o segredo de manter o ambiente de trabalho com boa sinergia está na maturidade na busca de soluções e na troca de informações. “Clair e eu sempre trabalhamos juntos, compartilhando as informações. Tanto que, após a sua partida, as ‘dores’ do comercial não eram estranhas para mim”.

Do Piauí ao Paraná

Sucessora da terceira geração do Grupo Jorge Batista, do Piauí, Julianna Siqueira Batista, de 35 anos, foi a primeira neta de Jorge Batista da Silva a ingressar na empresa. Trabalha ao lado do pai, Jairon Batista, no posto de gerência de controladoria estratégica. Os dois irmãos, Jader e Jairon Filho, optaram por outras áreas. Já a mais nova, Letícia, estuda administração em São Paulo e deve seguir os passos da irmã.

Depois da pós-graduação da FGV, me apaixonei pela gestão e decidi conhecer melhor a empresa


JULIANNA SIQUEIRA BATISTA, do Grupo Jorge Batista

Uma das suas missões é desenvolver bons projetos para a distribuidora, com operação no Piauí e no Maranhão. Recentemente está debruçada no tema planejamento de governança, com ideias absorvidas durante a Convenção Nacional do Gajs, em novembro passado. “As palestras foram ótimas. E nos deram base para tratar de sucessão, governança corporativa.”

Fisioterapeuta por formação, Julianna havia optado por ter o próprio negócio. Aos 28 anos, foi trabalhar na empresa da família, como trainee. Aprimorou os conhecimentos com a especialização de fisioterapia do trabalho e cursos de gestão de empresas e de gestão de negócio, controladoria e finanças corporativas. “Depois da pós-graduação da FGV, me apaixonei pela gestão e decidi conhecer melhor a empresa. Passei a apresentar projetos de melhorias dos departamentos e para o dia a dia da empresa. O setor de distribuição é interessante, dinâmico, complexo, completo e permite a visão da indústria, do varejo, do consumidor e de se pensar em macroeconomia.”

Cria da casa

Mariana Triches Reisdorfer Saviatto também integra o time de profissionais com fôlego de várias atividades. É diretora financeira e administrativa da Comercial Esmeralda, do Paraná, e conselheira do Gajs. Com 34 anos, mãe de um bebê de 1 ano e nove meses e com uma enteada de 10 anos, que vive com ela desde os três anos, é o tipo de sucessora que se criou na empresa da família. “Comecei aos 16 anos na empresa. Desde cedo acompanhava meu pai (José Carlos Reisdorfer) em feiras de negócios, e percebia a baixa presença de mulheres. Hoje, creio que melhorou, mas ainda é preciso melhorar, ampliar a participação feminina.”

Graduada em administração e com pós em gestão pela Dom Cabral e Fundação Getúlio Vargas, Mariana explica que ocupa a posição desejada. Acredita que trata-se de uma posição que patronos de empresas dedicam às sucessoras pelo olhar atento que possuem com as pessoas e os trâmites. Ainda assim, se organiza para ter experiência na área comercial, vital para os negócios e para o crescimento profissional. “Vejo o comercial, por sua vez, como uma área de atenção, que suga energia. E ao mesmo tempo importante e desafiadora”, destaca. A companhia tem uma carteira de 5.100 clientes em território paranaense e atua com um portfólio de cerca de 2.500 itens de higiene e beleza.

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