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Artificial sim, mas com vantagens

No maior evento anual de varejo realizado em Nova York, a NRF Retail’s Big Show, a inteligência artificial foi o tema mais debatido. A boa notícia é que pode ser aplicada ao canal indireto

Por Claudia Rivoiro

3d rendering assistant robot with software on digital screen

Após um ano de debates, insights, estudos e aplicação de muita coisa na prática, as portas foram abertas para mais uma NRF Retail’s Big Show, no Javits Center, em Nova York, de 14 a 16 de janeiro, com participação de milhares de pessoas de mais de 100 países e mil expositores no evento que tem mais de um século de existência. Com o tema “Make It Here And Make It Matter” (“Faça isso aqui e faça com que isso importe”), os brasileiros marcaram presença, cerca de 2.700 pessoas, e só perderam para os americanos, com 67% no total de presentes.

 A edição de 2024 da maior feira de varejo do mundo começou aprofundando temas já tratados em anos anteriores, como a robotização e a inteligência artificial (IA).Para muitos, a IA surgiu com a chegada do ChatGPT, lançado em 30 de novembro de 2022. Contudo, as IAs estão nos ajudando há bastante tempo. O Google mesmo já utilizava há anos essa tecnologia para melhorar o funcionamento de seu buscador. Mas qual a sua utilização no canal indireto? A DISTRIBUIÇÃO foi ouvir especialistas que estiveram por lá que opinam como e quando acontecerá no Brasil a introdução dessas ferramentas nos negócios.

EXEMPLOS DE IA NO COTIDIANO

Controle de estoque de produtos nas empresas
TV
Aplicativos de rotas
Reconhecimento facial
Casas inteligentes
Análise de comportamento do consumidor
Publicidade em painéis digitais

Terra: teremos uma invasão de robôs

Eduardo Terra, consultor da BTR Varese, que liderou um grupo de empresários brasileiros no evento e coordena o Comitê de Tecnologia e Inovação da ABAD, optou por citar uma frase da Microsoft sobre a atual revolução tecnológica: a inteligência artificial deve ser o copiloto do negócio, não o piloto. “As aplicações da inteligência artificial (IA) passam por  precificação, expansão, atendimento ao consumidor, sortimento, promoções, CRM, mídia e locação de times, e certamente teremos mudanças. No contexto da  aceleração da IA estão: dados, capacidade de armazenagem (nuvem), conectividade (5G) e capacidade computacional”, destacou. 

Mas o consultor alerta que se exige novas competências para lidar com a inteligência artificial como possuir imaginação e criatividade, expressão, repertório e capacidade de fazer perguntas. Já quanto aos robôs na operação, ele observa que a  economia global vê a automatização tomar conta de diversos processos através da utilização de bots, robôs, câmeras e drones. Segundo Terra, em dez anos, pode ser que até 47% dos empregos sejam transferidos aos robôs, que, no varejo e no canal indireto, podem ser utilizados na armazenagem, reposição, controle de planograma, picking, limpeza, segurança e concierge. “Uma invasão de robôs”, acrescentou.

Para Alberto Serrentino, sócio e consultor da BTR Varese, que também esteve liderando, juntamente com Terra, um grupo de brasileiros na NRF, o sistema da AI não é novo. “O que aconteceu nos últimos dois anos foi termos vivenciado um ambiente tumultuado, onde investimentos nessa área foram deixados de lado para serem direcionados a outros, no momento mais importante, como fluxo de caixa e redução de despesas. Mas posso garantir que os ganhos serão brutais com a utilização da IA nos negócios. A oportunidade está aí e com acesso para todos os bolsos”, ressalta.

Buscar diferenciais

Para João Carlos Oliveira, presidente da GS1 Brasil, frequentador da NRF há muitos anos, três pontos se destacaram: a inteligência artificial, os robôs e drones e o tema Retail Media. “Cada vez mais vejo a automatização e a tecnologia presentes no evento e até ouso dizer que em pouco tempo a tecnologia será uma commodity e aí incluo a IA. A saída será buscar  diferenciais para os negócios”, informou. O código de barras, presente na cadeia produtiva, e agora o 2D, que permite trazer inúmeras informações do produto, não se choca com a IA. “Eles se completam, agregam valor e permitem trabalhar juntos”, enfatizou.

Oliveira, da Gs1 Brasil: a saída será buscar diferenciais para os negócios

O presidente da ABAD, Leonardo Miguel Severini, participou das três últimas edições do evento e, no seu balanço desta última versão, teve a percepção da aplicação excessiva de inteligência artificial granular, ou melhor, fácil de ser aplicada. “O que nos leva  a ter mais atenção e cuidado na operação de atendimento, reduzindo os atritos no B2B e B2C”, ressaltou. Severini também destacou que com a IA os desafios logísticos do canal indireto poderão ser resolvidos. “No Grupo Vila Nova, estamos há algum tempo usando a sua aplicação, mas não adianta achar que o jogo está ganho.” Para ele, a IA tem quatro pontos a serem destacados: excesso de dados disponibilizados, alta capacidade de armazenagem, a conectividade, em especial o 5G sendo mais um ponto positivo e a  capacidade de processamento das máquinas. “Quem trabalhar com a IA deverá ter bagagem e repertório e não acredito em redução de profissionais, o que deverá acontecer são mudanças nas funções”, observou.

Sacudir o mercado

Para Elói Prado de Assis, diretor-executivo para o canal de distribuição e varejo da Totvs, a história da inteligência artificial já vem há algum tempo. “Em 2022, a palavra mágica do momento era ‘metaverso’. Em 2023, ela entrou de alguma maneira no consciente coletivo, mas agora definitivamente o seu uso está consagrado, de forma simples, de acordo com a cultura de cada negócio”, observou.

Ele conta que já se fala em IA generativa, carinhosamente chamada de GenIA, uma contração do seu nome em inglês. “Diferentemente do metaverso, a IA está muito mais palpável e tangível e a GenIA vai sacudir bastante coisa dentro e fora do varejo e já tem uso no canal indireto. Vai mexer com  o mercado porque é uma máquina de compreensão maior”, explica. 

Segundo o executivo, a IA vai ser utilizada para trabalhar a ruptura, previsão de demanda, estudo de capital de giro e outras aplicações. “No caso do vendedor, uma das preocupações é qual será o seu papel? A IA vai ajudar a analisar o pedido, sugerir compras, agilizar e acelerar o trabalho de forma natural, mas claro que será exigida a interação com o humano, que terá seu papel reavaliado”, acrescenta.

Como será essa interação? Assis responde deixando claro que não vai terminar o trabalho do humano. “O que vai encerrar são os trabalhos repetitivos e para aqueles que não sabem trabalhar com IA. Temos de ver a IA como uma assistente virtual, com maior produtividade e alta aplicabilidade, mas sempre será preciso do humano em seu uso, porque ela é passível de erros”, alerta.

Para o canal indireto e varejo existem muitas dúvidas como a IA será utilizada, por acharem ser cara e complicada a sua implantação. “O que posso adiantar é que já estamos, na Totvs, trabalhando para integrar a IA ao que já temos no mercado de forma natural”, declarou. Uma boa notícia!

Assis, da Totvs: IA será como uma assistente virtual, com maior produtividade

Trabalho misto

Segundo Carolina Sather, gerente de marketing sênior da Mtrix, que esteve pela primeira vez em uma NRF, muitos dos temas tratados no evento são aplicáveis ao canal indireto no que se refere a IA. Para ela, as empresas de tecnologia serão as facilitadoras em sua introdução nos negócios. “A AI vai oferecer maior eficácia operacional, mas haverá a necessidade de compartilhamento de dados na cadeia inteira, uma colaboração inteligente adotada para obter eficiência. Sua execução só será perfeita se for baseada em dados precisos com uma base muito precisa também”, observou. Ela também não acredita no descarte do papel do humano no trabalho. “Acredito em um trabalho misto da IA e os colaboradores, e os ganhos serão grandes, desde a produção ao consumidor final”, acrescentou. A Mtrix, segundo Carolina, já oferece uma tecnologia que possibilita informação bastante acurada, mas está em vias de implantação para trazer a AI aos negócios do canal indireto.

Inteligência artificial: o que é e como funciona

A inteligência artificial busca fazer com que as máquinas executem tarefas complexas, simulando a inteligência humana e tomando decisões de forma autônoma. Para que isso seja possível, em muitos casos, há uma combinação de várias tecnologias, como machine learning, reconhecimento de voz e deep learning.

Após o encerramento da NRF 2024 Retail’s Big Show, especialistas e consultores do setor se reúnem para a transmissão do seminário digital Pós NRF. Organizado pela BTRVarese, o seminário deste ano enfatizou seis principais insights e tendências que estão chegando ao território nacional. Com apresentação de Eduardo Terra, coordenador do Comitê de Tecnologia e Inovação da ABAD, e Alberto Serrentino, ambos sócios da BTR-Varese, o evento reuniu cerca de 260 pessoas presencialmente em Nova York e mais de duas mil virtuais através da transmissão ao vivo. Confira os seis insights apresentados.

Resiliência do varejo

Entre o fim de 2019 e 2024 o mercado varejista vivenciou períodos bastante conturbados. Além da pandemia de Covid-19 – que parecia ser um entrave para as vendas, mas acabou se tornando uma alavanca de consumo que também acelerou a digitalização – houve instabilidades políticas locais e globais. Foi nesse momento que o varejo se mostrou bastante resiliente. Em cenários de rápidas mudanças, que é justamente o que vem acontecendo agora, essa habilidade é bastante importante.

Inteligência artificial (ver matéria principal)

No mercado varejista, é possível implementar a inteligência artificial em inúmeros setores e departamentos, como precificação, expansão, atendimento ao consumidor, sortimento, promoções, CRM, mídia e locação de times.

Varejo hiperautomatizado

A economia global vê a automatização tomar conta de diversos processos através da utilização de bots, robôs, câmeras e drones.

Retail media

China, segundo Alberto Serrentino, nos últimos três anos, houve um impulsionamento importante do live commerce através de um forte mercado de creators e influenciadores digitais. “A jornada que educou as pessoas a comprarem digitalmente, impactando o varejo físico, está mudando de novo. Não é só mais uma demanda racional ou a busca e necessidade por algo que você precisa que te faz abrir uma jornada que pode ou não terminar na loja física. Hoje o conteúdo é o grande estímulo e o que gera o drive de compra”, explicou.

Lojas HUB

Não há, na visão de Serrentino, a perspectiva de que as lojas físicas deixarão de ter um papel relevante para o varejo. Para ele, mais importante do que a definição do canal, é compreender a essência da compra, a frequência, e o gasto total do cliente, indicadores que auxiliarão no crescimento.

Liderança em três dimensões

Serrentino enfatiza que, hoje, é preciso que as lideranças atuem em três dimensões principais: digitalização, resultados e sustentabilidade. A digitalização, como evolução tecnológica, é inadiável e está em curso. A agenda, agora, é de crescimento sustentável e lucratividade.

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