Perfil de Sucesso

Empresa com DNA

Grupo Jorge Batista completa 71 anos fortalecendo suas operações no canal indireto e lançando a primeira loja de autosserviço do atacado

Por Rúbia Evangelinellis

Uma história pontuada de desafios, conquistas e ousadias vividas por um jovem caixeiro viajante desenha a linha do tempo do Grupo Jorge Batista. Criada em 1951, a partir de um pequeno armazém na cidade de Floriano/PI, batizado de Casa São Jorge, por um cearense de garra nascido em Icó e com um olhar que enxerga longe, sempre se apresentou como uma empresa empreendedora. Diferentes ramos de atividades se destacam em seu mapa de negócio, mas o que caracteriza melhor o DNA da empresa é o seu canal de distribuição.

Embora não queira atrair os holofotes para si, o senhor Jorge Batista da Silva, atualmente com 92 anos, é um bom exemplo de quem vence pela perseverança e pela sua força de trabalho. Também, pudera, aos 15 anos, começou a vender as cebolas que a irmã plantava e, dois anos depois (em 1947), quando mudou-se de cidade, passou a oferecer variados produtos de porta em porta. Até hoje, cumpre jornadas de trabalho, ficando em um dos supermercados da rede.

Jorge Batista da Silva, atualmente com 92 anos, fundador da empresa

Em suas andanças como vendedor, conheceu Josefa Teles, que trabalhava no atendimento em balcão em uma farmácia em Arcoverde/PE, com quem se casou. Ela foi sua companheira de vida e o acompanhou em seu trabalho empreendedor até seu falecimento, ocorrido há um ano. 

Previdente, o fundador do Grupo, há dois anos, tratou de delegar o comando aos dois filhos, atribuindo a cada um a mesma titularidade de diretor-presidente, em duas áreas distintas, que atuam independentemente. Como empresas, ambas foram potencializadas pelos sucessores do fundador, que, desde jovens, miraram nos passos dos progenitores para fazer o bolo crescer.

Dois filhos 

Jorge Filho, o mais velho, nascido em 1959, controla o canal farma e fica em Teresina/PI, de onde pilota a operação da Nazária Distribuidora, com um sortimento de mais de 10 mil itens de medicamentos, produtos hospitalares e de higiene e beleza, e 12 centros de distribuição. Abastece todos os Estados no Nordeste e três do Norte (Amapá, Pará e Tocantins) e tem uma carteira de clientes de algo em torno de 15 mil pontos de venda ativos. Essa gestão inclui igualmente a rede de drogarias Globo (que ultrapassa 120 lojas nos Estados do Pará, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte e Bahia), além do Hotel Luxor, na capital piauiense.

Jairon Batista, de 59 anos, responde pelo canal de varejo alimentar, atacado e distribuição de mercadorias (com 100% de cobertura no Piauí e 90% no Maranhão), agora identificado como Jorge Batista & Filho. Permanece em Floriano, perto do pai. Tem sob seu controle um complexo inaugurado em dezembro de 2021 formado por um shopping com cerca de 20 lojas e o primeiro autosserviço de atacado (âncora do empreendimento). Batizado de São Jorge Super, seu mix abrange de 17 mil itens. 

Sob o guarda-chuva de Floriano há dois centros de distribuição (um no Piauí e outro no Maranhão); três supermercados São Jorge (que trabalham com 15 a 22 checkouts), sendo dois na cidade onde tudo começou e outro em território maranhense, em Barão de Grajaú, município localizado às margens do Rio Parnaíba e que faz fronteira com Floriano. Nesta cidade, também fica o centro de distribuição que atende o lado maranhense.  

Na lista de negócios, constam dois postos de gasolina (um em cada Estado), a indústria Água Fina (com fonte de água mineral), home center, papelaria, construtora, hotel e outras frentes de negócios. Só em Floriano, a empresa tem cerca de 2 mil funcionários.

Menina dos olhos     

O atacado distribuidor é a menina dos olhos de Jairon Batista, que segue firme na conquista de novos clientes e na maior aproximação com a indústria, enquanto tateia o ramo de autosserviço de atacado. Deixa claro que prefere a cautela e não tem pressa para abrir a segunda loja, mas já pensa em sua instalação na capital piauiense, em 2023, apesar de ainda não estar no cronograma. “Estou acompanhando o novo conceito de negócio ao construir um minishopping colado ao atacarejo, para atrair clientela. Inclui ainda churrascaria, salão de beleza, diversas lojas e lazer. A ideia é oferecer às pessoas tudo de que precisam em um só local. Como estou acompanhando o desenvolvimento dessa experiência, nesse momento,  nem penso em abrir diversas lojas. Meu forte mesmo é o atacado distribuidor”, esclarece já desenhando um aproveitamento melhor de depósito do atacarejo, de 5 mil metros.

Com uma equipe de 350 representantes comerciais autônomos, na cobertura dos dois Estados, a empresa tem entre 9 a 10 mil clientes ativos, que compram mensalmente por meio do atacado distribuidor. O portfólio, de oito mil itens, divide-se em duas pastas (metade para cada Estado), segmentadas por departamentos e nas quais são encontrados alimentos, produtos de limpeza e de higiene e beleza. Assim, acredita-se que a equipe de vendas tenha melhor condição de atendimento. 

Agora, ela se empenha principalmente em avançar na distribuição exclusiva. Em época recente, o Grupo fechou acordo com a BRF para atender o Sul do Piauí e parte do Maranhão com uma equipe segmentada de RCAs. Outro contrato, no mesmo molde, foi firmado com a M.Dias Branco para as mesmas regiões às quais se somava o Norte do Piauí. Nesse último caso, parte da operação ainda precisa ser implantada em algumas áreas, com previsão para ser concluída até agosto.   

O Piauí responde por 65% do faturamento do atacado distribuidor, e Maranhão, por 35%. Para Jairon, essa proporção representa um equilíbrio das relações comerciais e da força do atacado da família, especialmente no Estado de origem, embora entenda que tem condição logística de avançar na operação: “Entregamos todos os pedidos faturados na semana, no máximo, até segunda ou terça da semana seguinte. Temos 300 caminhões próprios e rodamos até 1.500 quilômetros para atender alguns clientes. As rotas do Maranhão compreendem maiores dimensões.” 

Com o faturamento em alta – em 2020, ficou em torno de 28%, e em 2021, subiu quase 15% –, a previsão é dar saltos maiores com as novas operações de distribuição — apenas com a desenvolvida para a M.Dias Branco, estima um incremento na faixa de 6 a 7 milhões de reais. A empresa tem a estimativa de fechar o ano com um faturamento de 90 milhões de reais com o canal indireto (atacado distribuidor e loja de autosserviço).

Para o empresário, a receita para lidar com desafios e superá-los, e manter a roda de negócios girando a seu favor, tem ingredientes tradicionais e essenciais, como o bom relacionamento estabelecido com os clientes, eficiência logística e equipe treinada. E, sobretudo, acrescenta, entender o valor do atacado distribuidor. 

Sucessão   

Quando o assunto é sucessão familiar, Jairon Batista já tem dois dos quatro filhos no seu rastro. Julianna Siqueira Batista, de 33 anos, é quem atua efetivamente na empresa, na gerência de controladoria estratégica. Divide a rotina de trabalho entre o varejo, ficando próximo ao avô Jorge no período da manhã, e, à tarde, se concentra no atacado, próximo ao pai. A caçula, Letícia, de 19 anos, cursa Administração em São Paulo e, como diz o pai, está determinada a fazer carreira na empresa da família, enquanto Jairon Filho, de 31 anos, e Jader, de 30, ambos igualmente formados em Administração, optaram por outros rumos profissionais.

Atenta às histórias do avô, Julianna conta que o ramo de distribuição esteve presente nos negócios da família desde o momento em que melhoraram as vendas do primeiro empório. “Na ocasião, como ele já conhecia muitos fornecedores, começou a comprar grande quantidade de mercadorias e articular suas vendas a fim de expandir o comércio para longe, como distribuidor.”

Presente no Grupo desde 2017, Julianna entende que a experiência de atuar perto do avô e do pai e na gerência das operações do Grupo relativas à controladoria estratégica é enriquecedora para se conhecer a empresa por dentro. “Faço visitas técnicas às lojas e converso com todos os gestores para sentir como está a operação, se há dificuldades ou se há necessidade de se implementar o projeto de inovação ou de melhor alguma fase desse  processo. Mostro então todas as informações compiladas para o  meu avô Jorge e para Jairon, que avaliam e decidem o que aprovam ou não.” 

Representante da terceira geração da família nos negócios, Julianna confessa que teve de se adaptar e buscar técnicas de conhecimentos para manter a boa comunicação e chamar a atenção dos dois gestores. “Eu não apresento nada para eles sem apresentar relatório com dados de fonte segura. Isso eu já aprendi.”

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