Sazonal

Aquecer as vendas

A chegada do inverno e das festas juninas é a oportunidade para alavancar o consumo de produtos, além de movimentar o setor de bebidas

por Adriana Bruno

Com a proximidade do outono-inverno, as temperaturas caem enquanto as vendas de bebidas como vinhos e destilados crescem. Além disso, o período coincide com a época de festas juninas, claro que adaptadas aos novos tempos, sem comemorações coletivas, o que não significa passar em branco. Em 2020, as escolas, por exemplo, fizeram festas em drive thru ou estimularam as famílias a usarem a criatividade, preparar pratos típicos em casa e se divertir com as crianças.

E por falar em produtos típicos, Thatiane Corbellini, diretora de trade marketing da General Mills para América Latina, conta que, com tantos itens típicos desta importante sazonalidade, é preciso oferecer ao cliente do varejo meios para aumentar o interesse dos shoppers, como por exemplo displays e até a montagem de barracas de festa junina. “Com a pandemia, fizemos ilhas dentro de áreas nobres das lojas concentrando todo o portfólio, tornando a experiência do consumidor mais agradável ao encontrar tudo o que precisa

para sua festa junina no mesmo local, e aumentando as chances de vendas por impulso”, conta. Ela ainda reforça que, durante as festas juninas, a marca Yoki observa um aumento no consumo de pipocas e snacks, especialmente. “Além disso, com a pandemia, também temos percebido algumas outras mudanças no comportamento dos consumidores e o crescimento do hábito de preparar as próprias refeições em casa, o que também tem contribuído para o aumento do consumo de itens de base essenciais e alimentos semiprontos que auxiliam e trazem praticidade para o dia a dia em casa”, diz.

Abastecidos

Em relação a outras categorias, ela afirma que a curva de vendas da empresa demonstra o acréscimo em algumas que têm hábitos de consumo muito conectados à sazonalidade de inverno, como são os casos das sopas instantâneas, temperos e alguns grãos, como lentilha e ervilha. “Com as temperaturas mais baixas, muitos consumidores procuram produtos para preparar e consumir caldos e sopas quentes, por isso, é muito importante que os clientes estejam bem preparados e abastecidos para evitar perder oportunidades de venda por ruptura dentro da loja”, ressalta Thatiane.

TIAGO LEAL, gerente corporativo de marketing e inovação da Santa Helena

Mesa junina

Outro produto que não pode faltar a uma boa mesa junina e, consequentemente, no mix do atacado distribuidor e do varejo é o amendoim e seus derivados, como doces e paçocas. Segundo Tiago Leal, gerente corporativo de marketing e inovação da Santa Helena, no período os negócios da empresa chegam a aquecer em 20%. “Em 2020, havia muitas dúvidas por causa da pandemia, porém o consumidor demonstrou que não quer perder a oportunidade de consumir, mesmo que em casa, no isolamento, os produtos tão tradicionais da época. Para 2021, acreditamos que essa tradicional festa será comemorada dentro das limitações ainda impostas pela pandemia, mas, com certeza, recheada de muitos produtos”, comenta. De acordo com ele, para 2021, a empresa espera que as vendas sejam superiores aos números apresentados no ano passado. “Um incremento de dois dígitos em relação a 2020 é a nossa expectativa”, afirma.

Massas e vinhos

Se a festa junina combina com pipoca e amendoim, o inverno pede massas, vinhos e outras bebidas quentes. Segundo um levantamento divulgado pela Associação Brasileira da indústria de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) em agosto de 2020, a massa é um alimento amado e consumido por 99,5% dos brasileiros, sendo um item essencial na vida das pessoas e fazendo parte da mesa o ano todo.

De acordo com Fabiana Araújo, gerente de marketing da Barilla no Brasil, no inverno, existem dois fatores que contribuem para o aumento da procura: cerca de 45% dos brasileiros aproveitam o período para cozinhar para familiares e em reuniões com amigos (segundo pesquisa do Google de 2017), e também pela necessidade de comer alimentos quentes, como as sopas, que utilizam o macarrão em inúmeros preparos. “Mas, agora, podemos incluir mais um fator, que vai além das sopas no inverno.

Com o novo comportamento de consumo, com mais pessoas em casa e cozinhando, a massa se tornou ainda mais essencial e versátil, havendo um crescimento da busca por receitas comfort food, como massas de forno, risotos e lasanhas. Para as lojas físicas, organizar as gôndolas baseada nessa tendência e fazer promoções (também no e-commerce) é uma excelente oportunidade para alavancar as vendas dos produtos”, orienta.

Ela ainda destaca que em relação aos cortes a preferência mundial e nacional é o spaguetti. “Depois temos o penne ou fusilli ou outras massas longas, mas o regionalismo está mesmo nos nomes dos cortes, como penne e pena, por exemplo”, conta. Quanto aos tipos de massa seca, podem variar nas regiões entre tradicional, caseira, sêmola, integral, grano duro e com ovos, respondendo por 81,3% do consumo nacional, o que correspondia a cerca de 744.900 toneladas em 2018, segundo a Abimapi. 

Da massa para o vinho, claro! O inverno é muito significativo para o setor vinícola brasileiro e o consumidor ainda associa a bebida, especialmente o vinho tinto, às temperaturas mais frias. “Aproximadamente, cerca de 30% das vendas de vinhos são feitas no primeiro quadrimestre do ano, o que demonstra a força das estações outono e inverno. Sem dúvidas, este é um período em que a bebida ganha mais destaque, muito embora este cenário já mudou nos últimos anos em razão da grande concentração”, fala Hermínio Ficagna, diretor-superintendente da Vinícola Aurora. Ele ainda destaca que o Brasil apresenta algumas diferenças regionais em relação ao consumo da bebida. “De estado para estado, dadas as peculiaridades e características de clima e perfil do consumidor, há diferentes tipos e padrões no consumo do vinho. Regiões mais quentes tendem a consumir mais o vinho suave, vinho com menos acidez, por exemplo”, conta Ficagna.

HERMÍNIO FICAGNA, diretor superintendente da Vinícola Aurora

Destilados

Outra categoria com forte apelo sazonal tanto para inverno como festas juninas é a de bebidas destiladas, que tem as vendas favorecidas nesses períodos. “Quanto mais rigoroso o inverno, maior é a demanda nessas categorias e especialmente na de aguardente”, comenta Edgar Galbiatti, gerente de marketing da CRS Brands. Ele ainda comenta que, nesses períodos, a empresa também registra crescimento das vendas de seu vinho de mesa usado para a preparação de vinho quente, assim como a aguardente é usada nos quentões.

“O Brasil é um país continental e tem muitas diferenças entre as bebidas. Por exemplo, em São Paulo, nas festas juninas, o quentão, um drink à base de cachaça, é muito comum. Já em outros estados, ele não existe ou é algo totalmente diferente. Nos estados do Norte e Nordeste, não podemos falar muito de inverno. No Pará, esse é o período de verão”, diz.

Cachaça

Vale dizer que a cachaça tem incremento de vendas em função do consumo em doses, drinques quentes, além da preparação do quentão. “Um ponto de destaque nas regiões mais quentes do país é o maior consumo de bebidas ICE”, comenta Rodrigo Carvalho, diretor-comercial da Cia. Müller de Bebidas.

Carvalho, da Cia Müller de Bebidas: o atacadista distribuidor precisa analisar os cenários de consumo

Ele ainda fala que o Atacado Distribuidor precisa analisar os cenários de consumo nas diversas regiões. “Tendo o advento da vacina para o público adulto, a tendência é a diminuição de casos de Covid-19 e, por consequência,a liberação para realização de grandes eventos. Com este cenário, deve haver também aumento de consumo nos locais do entorno dos eventos, como bares, restaurantes e hotéis”, comenta. Ele ainda completa comentando que em um cenário ainda de baixa vacinação, o consumo ocorrerá mais em casa, onde pequenos encontros entre famílias e amigos darão o tom da época.

 “Nesse caso, as lojas de bairro ganharão ainda mais relevância. Em qualquer cenário não podem faltar as marcas líderes, mas também um mix completo. Outro ponto de destaque é a presença de produtos de categoria “premium”. Atendendo a indulgência do consumidor, ou seja, por tudo o que vem passando nos últimos meses, o consumidor concretiza a compra de produtos com experiências diferenciadas”, finaliza.

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