ABAD 2022 ATIBAIA - PAINÉIS

Na esteira da modernidade

O segundo dia da Convenção foi marcado pela apresentação de quatro painéis, que abordaram digitalização, tecnologia, ESG e o cenário econômico para os próximos meses

por Rúbia Evangelinellis e Cristiane Del Guadio

Em um mundo norteado por temas e ferramentas que transportam empresas e consumidores para soluções e comunicações virtuais, a 41a Convenção da ABAD, ocorrida de 6 a 8 de junho, em Atibaia/SP, adotou neste ano o tema “Tecnologia e Processos em Benefício da Gestão” para o seu evento anual. O primeiro painel técnico teve como tema central “A Digitalização Potencializando os Negócios”, o qual apontou seis cases de empresas com sistemas considerados exemplares. 

São modelos adotados pelas indústrias Unilever, PepsiCo e Cargill Foods e, representando o canal indireto, pelos grupos Martins, DecMinas e Vila Nova. Foram selecionados a partir de experiências relatadas no comitê do Canal Indireto da ABAD, que reúne 20 empresas, e coordenado pelo professor Nelson Barrizzelli, da FIA – Fundação Instituto de Administração de USP – Universidade de São Paulo, e Roger Saltiel. Ambos também atuaram como mediadores do painel, onde foi apresentado um modelo de organização digital, ou “mandala”, identificando como a operação digital pode ser feita e quais departamentos devem ser integrados. 

Segundo Saltiel, a essência da mandala é mostrar que o tema digitalização vai além de ser um e-commerce ou marketplace. “Ele gira por outros temas, como eficiência logística, finanças, inteligência artificial para captar informações de mercado e para treinamento, entre outras ações”, observa.

Tomando como base o eixo central, a mandala divide-se em três campos: operacional (com viés para gestão logística e arquitetura de dados), comercial (trade & execução do ponto de venda, gestão da equipe comercial e canais de vendas) e administrativo (que compreende as subdivisões de gestão financeira, treinamentos e processos administrativos).

No caso do Grupo Vila Nova, a automação de pedidos proporciona o acompanhamento do ciclo até a sua conclusão com a entrega da nota fiscal para o cliente. Permite inclusive a análise célere do cadastro do cliente e a liberação do crédito. Entre os benefícios citados por Alexandre Villas Boas, diretor-comercial, estão o aumento do controle da operação e a identificação de ações e KPIs (indicadores-chave de desempenho), além da redução de custos – com a equipe e a gestão logística.

Primeiro painel contou com cases de empresas do setor e abordou o tema digitalização nos negócios

Na Cargill Foods, Augusto Lemos, diretor-geral, ressaltou a experiência do grupo obtida com o portal mycargill: “Trata-se de um ambiente digital, onde os clientes, com senha e cadastro, vão navegar e têm uma relação direta com a Cargill. É como um grande túnel que tem cadastro de cliente, entrada e status do pedido, menu logístico e consultoria técnica. A grande diferença (desse sistema) é a possibilidade de obter respostas com rapidez.”

Por sua vez, o Grupo Martins adotou um sistema de digitalização e utilização intensiva de dados com foco na transformação do papel do representante comercial autônomo/vendedor. Como resposta positiva, Marco Antônio Tannus, diretor de Clientes & Trade Marketing, aponta a melhoria do tíquete médio, aumento da base de clientes e simplificação do atendimento. O sistema digital permite, inclusive, o olhar atento e o cruzamento de informações sobre pedidos e até recomenda possíveis compras, a partir das experiências registradas.

A PepsiCo investe em um sistema de transformação digital para intensificar a agilidade, a precisão e a produtividade com foco no programa de execução. O processo traz  ganhos com a agilidade na leitura das lojas, a expansão da base auditada, o diagnóstico e o plano de ação imediato e a maior produtividade da equipe. André Marques, diretor-comercial para o canal indireto, explica que o sistema é destinado, sobretudo, ao pequeno varejo e que está em fase de teste no México e, em breve, também no Brasil.

Por sua vez, Euler Fuad Nejm, presidente do Grupo Super Nosso, apresentou como novidade a implantação do e-commerce (B&B) do DecMinas/DecBahia, braço com atuação no atacado distribuidor. A iniciativa é tomada a partir das experiências consideradas bem-sucedidas e obtidas em outras duas frentes de negócios: da rede de varejo e no atacado de autosserviço Apoio Mineiro. “Estamos no pré-lançamento. Primeiro será em Minas e, posteriormente, na Bahia. O cliente vai entrar no site e ter acesso inclusive às compras fracionadas”, explicou.

O case da Unilever, apresentado por Ricardo Zucollo, vice-presidente de Desenvolvimento de Clientes, tem como ponto de partida uma história iniciada em 2016 com o Compra Unilever e que vem passando por transformações. A nova versão compreende o DDU (Distribuidor Digital Unilever) em conjunto com o Digitaliza Agora, que implica na “evolução da jornada de digitalização completa do pequeno varejista”. “É importante ter dados para centros de análises, da área da atuação e disponíveis para fazer o mapeamento, além de uma estrutura comercial dedicada”, destacou.  

Tecnologia dita os rumos 

Diante dos cenários que se desenham na retomada das atividades após o período pandêmico, executivos das principais empresas fornecedoras de ferramentas tecnológicas são unânimes em reconhecer uma importante transformação no Brasil. Especialmente depois das recentes mudanças regulatórias provocadas pelo Pix como forma de pagamento e pelas formas de gerenciamento de dados sobre produtos que precisam acompanhar essa evolução. No painel “Tecnologias e Processos em Benefício da Gestão”, participaram algumas das empresas mais importantes do segmento. 

 Com a disseminação do modelo híbrido de trabalho, imposto pelo isolamento na pandemia de covid-19, as formas de consumir ficaram muito mais digitais, o que também provocou a adaptação dos agentes de distribuição. Novas formas eficientes de controle de processos se moldaram para atender ao cliente muito mais conectado. Alberto Sorrentino, da Varese Retail, ressaltou o cadastro como o centro do processo de conhecimento de clientes e de produtos e do quanto é importante manter essa ferramenta planejada e atualizada. “Tecnologia e logística como estratégias são fundamentais para unificar as maneiras de processar os pedidos”, complementou o executivo.

Ele destacou que, com a implantação da internet 5G, essa revolução será ainda mais impactante para os ecossistemas do varejo. Outra tendência em franca implementação no Brasil e no mundo para sistematizar todas as informações sobre o produto é o código bidimensional em substituição ao código de barras convencional, apresentado pela Ana Paula Maniero, da GSI. Muito mais abrangente, o novo formato de identificação concentra mais dados do produto e interliga as pontas de todo o processo, permitindo interação tanto da indústria ou produtor, da operação de loja, quanto o consumidor. “A tecnologia permite carregar informações sobre cadastro, estoque e també nas embalagens”, disse Ana Paula.

As formas de pagamento também foram impactadas por recentes mudanças, como vendas pelo WhatsUp e aplicativos de entregas. Na evolução das vendas digitais, a tecnologia tem sido desenvolvida para evitar rupturas de estoque e contribui para a eficiência logística. Essas constatações foram trazidas por Elói Assis, da TOTVS, falando sobre o desafio em tempos de dados na ponta dos dedos: “As transformações digitais são constantes, graduais, para acompanhar o ritmo frenético do varejo”, definiu Assis.

Sob o aspecto da excelência de vendas, Marcelo Paiva, diretor da Mondelez, comentou que é preciso definir estratégias a serviço do crescimento e reconhecer o tamanho do negócio para definir o potencial futuro, e sentenciou: “Vai se destacar a empresa que, baseada na procura, no tipo de loja, pode reconhecer a diversidade do mercado.” Concluindo o painel, o presidente Leonardo Miguel Severini definiu que as tecnologias farão com que indústria deixe de ser mera operadora logística, “mas passará a atuar no ecossistema para investir em outras frentes”, portanto a importância de alternativas como a transição para o código bidimensional, considerando ainda a complexidade das proporções continentais do País.

 Revolução e boas práticas

O tema “Agenda ESG: Revolução nos Negócios e na Sociedade” em um dos painéis que apresentou iniciativas das empresas Boomera, de capital nacional e focada em economia circular; da P&G e ainda destacou um estudo inédito, realizado com cerca de 2 mil colaboradores do canal indireto, que avaliam as ações das companhias no trato com o capital humano, social, ambiental e financeiro do atacado distribuidor (ver matéria nesta edição).

Luiz Marcatti, presidente da Mesa Corporate Governance e mediador do painel, explicou que a demanda por ESG veio “para ficar e gerar valor”. “Surgiu, em 2019, a partir da carta de um grande empresário, Larry Fink, para os CEOs das operações do fundo Blackrock, com diretrizes apontando onde e como devem direcionar os investimentos com busca de resultados alinhados a uma estratégia de longo prazo e avaliando os impactos que a empresa causa ao meio ambiente e à sociedade. Não se trata apenas de ganhar dinheiro, mas sim de considerar de que maneira isso é feito e mostrar resultado construindo o que está ao seu redor.”

A agenda ESG foi o tema do abordado por Luiz Marcatti, José Luis Turmina e representantes da Boomera, P&G e pela ABAD Flávio Vinte e Leonardo Miguel Severini

Luiz Turmina, vice-presidente da ABAD, comentou o levantamento realizado em parceria com a EoM – Economics of Mutuality Solutions, com patrocínio da indústria de bens de consumo MARS, e apresentado, em vídeo, no início do painel. Traz o olhar de cerca de 2 mil dos colaboradores do setor para as ações das empresas. “O estudo mostra que 78% dos respondentes não eram gerentes, o que se traduz em um retrato de empresas do nosso setor e que aponta bons insights e boas oportunidades”, observa. Turmina ressalta que a pesquisa aponta a percepção dos funcionários mas, nem sempre, ressalta a realidade do setor, especialmente considerando que somente 30% enxergam ações sustentáveis. ( ver matéria nesta edição)

 Guilherme Brammer, CEO da Boomera, abriu a apresentação criticando desperdícios observados na economia linear, baseado em ciclo de vida curto de produtos e de pouco uso. “Precisamos repensar a forma do fazer, de inventar novas práticas. Se o mercado financeiro começa a pensar onde vai investir o dinheiro, já leva as empresas a avaliarem a maneira de fazer negócios”

A Boomera tem parceria com empresas, oferecendo soluções de reciclagem, logística, engajamentos, palestras, etc. Hoje, há mais de 400 clientes trabalhando no desenvolvimento de projetos e produtos. Entre esses está o projeto com a ABAD, de ponto de entrega voluntário no varejo. O material coletado é enviado e gera renda para a cooperativa. 

Luana Borges, diretora de vendas e líder do programa Pilares da P&G, que conecta as ações corporativas da empresa com time de vendas e parceiros comerciais. No pilar cidadania, a proposta é formar a força do bem com o trabalho desenvolvido em três focos: impacto na comunidade, igualdade e inclusão e sustentabilidade ambiental por meio de uma ação que envolve funcionários, marcas, parceiros e comunidade. Por meio do tripé inspirar, motivar e contribuir, o programa JBP da Cidadania, assim como é nomeado na P&G, realiza encontros e lives compartilhando cases. Também disponibiliza materiais para implementação de políticas de ESG nos negócios.

Flávio Vinte, presidente do GAJS – Grupo ABAD Jovens e Sucessores também falou do Crie o Impossível, um programa de cunho social, do qual foi fundador, e de estímulo à educação e capacitação para jovens de escola pública, que  proporciona inclusive a expectativa de inclusão de alguns estudantes ao mercado de trabalho, por meio da mão amiga estendida por empresas patrocinadoras, como faz Bees Together, da qual é diretor. 

Expectativa Realista

Experiência e resiliência do Brasil em superação de crises econômicas foram qualidades exaltadas pelos convidados no painel “O que Esperar do Cenário Econômico para os Próximos Meses”, encerrando a programação. Conduzido pelo economista Ricardo Amorim, o painel evidenciou a facilidade do País em lidar com retomadas pós-crises inflacionárias como fatores positivos perante outras economias emergentes.

 Outros convidados para a mesa de discussões foram José da Costa Neto, diretor-presidente da JC Distribuição; Thiago Glucksmann, da BMS Soluções Tributárias; e Luiz Rabi, economista da Serasa Experian. Os especialistas discorreram sobre como a pandemia de covid-19 e a guerra instalada entre Rússia e Ucrânia, além da própria situação política e o desemprego brasileiro interferem na economia e como será o futuro próximo.

 Abrindo o painel, Ricardo Amorim relacionou os impactos geopolíticos e a capacidade de reação do País, projetando positivamente o enfrentamento da inflação nos próximos meses. Outro fator impulsionador da recuperação, segundo ele, será a transformação digital: “O compartilhamento das informações promovidas pelo open bank vão forçar a concorrência entre instituições de crédito, provocando diminuição dos custos e queda dos preços”, lembrou.

Quanto à análise de crédito, inadimplência e custo do capital, foram comentados como elementos da mudança de cenário prevista por José da Costa Neto. “As turbulências do mercado já são bem conhecidas dos brasileiros, o que faz com que a experiência e resiliência favoreçam a retomada”, afirmou o empresário do setor e vice-presidente da ABAD.

 Coube a Thiago Glucksmann trazer ao debate a questão tributária como um dos grandes entraves para a economia. Na previsão do especialista, “o desafio pós-pandemia é vencer a burocracia e apostar em compliance, visando as oportunidades e a competitividade, assim como a valorização das inovações tecnológicas para reduzir riscos”.

O economista Ricardo Amorim foi o mediador do painel que enfatizou o momento atual do Brasil e do mundo

 Para Luiz Rabi, o cenário macroeconômico ainda passará por um grande ‘aperto’. “É um remédio amargo aceitar as taxas de juros altos, mas a política internacional ainda vai ditar o ritmo.” Na visão do economista, diante do atual recorde histórico de inadimplência, a economia regional é uma solução momentânea e a performance econômica do consumidor ainda deverá sofrer até o primeiro semestre de 2023.

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