Consumo cresce no cash&carry e farmácias

Um mapeamento das vendas do varejo no primeiro trimestre, realizado pela NielsenQI e obtido pelo Valor com fontes do setor, mostra que o comércio de autosserviço (que inclui supermercados) finalmente parou de perder volume de vendas, mas por conta de uma relação de dependência ainda maior do desempenho do atacarejo e das farmácias. Não foi um movimento de recuperação generalizado, indicando que a inflação ainda compromete os números do setor no ano.

Três redes ouvidas, de atacarejo e de drogarias, que vêm buscando entender melhor o comportamento de compras, perceberam um maior movimento de estocagem de produtos em março, pelo cliente com algum recurso livre disponível, para se proteger de novas escaladas dos preços nas lojas.

Isso antecipou parcela da venda para o mês passado, em medicamentos (que todos os anos são reajustados em abril), e em alimentos não perecíveis, frente à expectativa de que a guerra no leste europeu encarecesse mais os produtos. No atacarejo, essa estratégia ficou mais evidente entre as pessoas jurídicas – clientes como bares, restaurantes e pequenos varejistas – que puderam fazer estoque.

Os dados mostram períodos diferentes, o que amplia a análise. No acumulado de 2021, as vendas de supermercados e hipermercados em valor cresceram 1,2%, e no primeiro bimestre de 2022, subiram 0,9% – após um início de ano fraco, como grandes redes já relataram. Já de janeiro a março, o avanço alcançou 1,3% sobre o ano anterior. O volume, no entanto, recuou 6,6% no primeiro trimestre.

Ocorre que supermercados grandes e médios até aceleraram taxas de crescimento após o fim de 2021, mas o hipermercado encolheu ainda mais do que o verificado no ano passado, puxando para baixo os números totais. Isso pode se refletir nos resultados do primeiro trimestre de varejistas mais dependentes do canal.

Nos hipermercados, houve uma retração de 3,4% na venda acumulada em valor em 2021 sobre 2020. De janeiro a março deste ano, o recuo acelerou, atingindo 7,1%. No mesmo período do ano passado, o varejo físico começou a fechar seus pontos, com a segunda onda da covid, e isso favoreceu os hipermercados, mas de forma menos representativa do que na primeira grande onda da pandemia.

Não há dados em volume vendido nos hipermercados na análise, mas uma rede nacional do setor ouvida menciona que a retração média no segmento, até março, ficou em dois dígitos baixos no começo deste ano. Afetam o modelo a concorrência dos atacarejos, mais eficientes e de 10% a 15% mais baratos, e o efeito da venda de eletrônicos nessas lojas, em período de forte retração na demanda.

A rede de hipermercados Extra, do GPA, deixou de operar em fevereiro, com a venda de 70 lojas ao Assaí, mas o Carrefour mantém os negócios no segmento (o grupo só comenta seus números na publicação dos trimestres). Cerca de 28% das vendas brutas do Carrefour vêm de supermercados e hipermercados.

Já entre as redes de atacarejo, o levantamento mostra uma alta de 21,1% nas vendas em valor – acima da taxa de 15% em 2021 e de 18,5% no primeiro bimestre. Não se trata apenas de efeito do repasse de aumento de preços, apesar de os reajustes estarem ocorrendo regularmente desde o ano passado. Houve aumento de 8,6% em volume vendido no primeiro trimestre.

O segmento ainda carrega, com folga, os melhores números do comércio no ano – superando, inclusive, dados fortes das farmácias, que avançaram 11,5% de janeiro a março em vendas em valor e de 7,5% em volume. Pode ser sinal positivo para os números do Atacadão, rede do Carrefour, e do Assaí nos balanços do período.

Nos produtos eletroeletrônicos, vendidos nos hipermercados, outra categoria que tem sido foco de atenção dos analistas, a NielsenQI relatou queda de quase 30% em valor e de 25% em volume vendido, de janeiro a março, sinal de que ainda há dificuldades em acelerar essa demanda, num ambiente de crédito mais caro. Semanas atrás, Via (dona das redes Casas Bahia e Ponto) e Magazine Luiza sinalizaram melhora no desempenho das lojas após fevereiro.

Fonte: Valor Econômico

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