A área de logística pode ser um trunfo para empresas do canal indireto. Considerada o motor do setor, precisa ter na conta desde a gestão até as operações de recepção e armazenagem de mercadorias, entrega de pedidos, rotas e outras etapas para que a a engrenagem funcione plenamente e com segurança. Especialistas apontam caminhos para manter uma operação saudável e destacam novidades que aceleram processos e entregas, enquanto empresas de atacado distribuidor contam o desafio para manter a dinâmica e escapar de armadilhas que elevam o custo.
Altamiro Borges, consultor com extensa experiência no atendimento ao setor e CEO da ABGroup Desenvolvimento de Negócios, entende que o setor experimentou um forte impacto tributário na logística, com benefícios oferecidos por alguns estados que proporcionaram o confuso vaivém de mercadorias. Mas nos últimos dez anos, a guerra fiscal acalmou e levou a uma igualdade tributária, e resultou na necessidade de as empresas buscarem eficiência logística.
A partir daí, tornou-se evidente e ganhou importância a medição de faturamento por caminhão, por funcionário e por metro quadrado, entre outros comparativos, para registrar a saúde ou não das empresas e como calibrar melhor o negócios para não fechar no vermelho.
“A partir dessa etapa, começa a surgir a necessidade de ter profissionais com boa formação em logística. Antes eram poucas empresas que tinham gerentes de área, existiam coordenadores, supervisores para armazéns e transportes. Hoje, a configuração é outra, vemos lideranças e equipes fortes”, diz. Borges destaca ainda o valor do surgimento de sistemas (softwares) especializados para gerir os processos em armazéns, transportes, delivery e/ou distribuição, que desencadearam o impulso para o desenvolvimento de um “arcabouço” de tecnologia e de inovação no setor de distribuição.
Os próprios caminhões e empilhadeiras evoluíram com comandos eletrônicos. Mas o ganho com toda a inovação pede profissionais qualificados.

O consultor destaca ainda que o relacionamento mais estreito do setor com a indústria faz com que os fabricantes comecem a exigir das distribuidores um nível de serviço de gestão (e informações) adequado aos seus programas de excelência. “Esse posicionamento também tem papel significativo na evolução do setor e na própria indústria, que passou a desenvolver diretorias e gerenciais de distribuição.”
OLHAR DOS FABRICANTES A Fusion tem, no atacado distribuidor, sua principal fonte de negócios, uma vez que representa 70% da carteira de 812 empresas atendidas. Desenvolve software de planejamento, roteirização e gestão, automatizando processos com foco no ganho de produtividade e redução de custo dos embarcadores.
Tiago Saad, CEO da companhia, afirma que a logística bem trabalhada traz um diferencial competitivo para empresas. Parte integrante do grupo Nstech, a Fusion desenvolve um sistema de roteirização que proporciona a previsibilidade do custo logístico de entrega no momento do planejamento. “Esse aspecto é muito importante para o setor atacadista, que não cobra frete dos clientes, e embute no preço de vendas o custo de entrega. Se ele não estiver cumprindo o custo estimado, verá que não vai lucrar o que esperava”, explica. A partir do momento em que se constata que a margem estimada não será alcançada, acrescenta, é possível fazer ajustes pontuais, como mudar o perfil da frota na região para reduzir o frete, unir regiões para atendimento para aumentar o valor da carga e diluir o custo em mais pedidos e otimizar a ocupação dos veículos. “Estamos com um novo algoritmo de roteirização que entrega resultados mais otimizados, minimizando quilometragem e melhorando a taxa de ocupação dos carros. Outra novidade está no produto Cadê meu pedido?, que agora permite também que, além dos clientes, o acompanhamento da equipe comercial por etapas”.
OLHO VIVO NO SETOR
A Rio Quality, do Rio de Janeiro, é exemplo de distribuidora que mantém a sintonia fina na logística. Com 95% da carteira mensal de 16 mil clientes formada por food service, abastece prioritariamente pequenos estabelecimentos, como restaurantes, pousadas, hotéis, padarias, bares, lanchonetes, empresas abastecedoras de navios e pequenas fábricas de alimentos. Tem como ponto nevrálgico do processo atender locais que trabalham sem estoque, que fazem compra miúda, de reposição, uma vez ou mais durante a semana, e esperam a entrega a passos acelerados.

“É uma operação que exige mais rapidez e precisão. Um erro cometido por nós machuca
muito a operação do pequeno. Operamos com uma logística complexa, desafiadora. Exige carros adaptados para armazenar produtos secos, refrigerados e congelados. Como recebemos pedidos majoritariamente de alimentos de baixo valor agregado, enchemos o caminhão de quatro toneladas e geramos uma receita limitada”, explica Marcello Marinho, gerente de planejamento (na foto).
Com um portfólio diversificado de 2 mil itens, cem carros na frota, a distribuidora recebe pedidos que na média somam mil reais, listam sete ou oito itens, pesam 80 quilos e exigem transporte em carros com capacidade de armazenar produtos em três temperaturas. “Hoje, 75% do mix tem vendas fracionadas. É uma operação cara, difícil e com entrega feita uma vez ou mais durante a semana.
É essencial ter eficiência logística e números sob controle, para obter um resultado saudável e detectar possíveis problemas.” A frota da empresa cobre uma área de 400 quilômetros no estado do Rio e realiza cerca de 60 mil entregas mensalmente. A Rio Quality investe no programa de melhoria contínua dos processos. Em 2018, a distribuidora adaptou uma solução econômica para que a frota também transportasse alimentos frios e congelados. Importou da França 45 cofres térmicos, que foram acoplados aos caminhões “da noite para o dia”. “Na medida que o tempo foi passando, e esse mix foi ganhando importância, adaptamos os baús e compramos veículos com capacidade de armazenagem com três temperaturas”. Detalhe: os cofres importados, adquiridos cada um por quatro mil reais, não são mais usados.
PRODUTIVIDADE Com soluções para movimentação de mercadorias de intralogística, como empilhadeiras e transpaleteiras (manuais ou elétricas com capacidade de transportar a partir de 1.500 quilos) com tecnologia embarcada, a Kion South America tem em linha produtos que possibilitam o controle da operação, a gestão ao acompanhamento da produtividade, que proporciona análise da produtividade e segurança. Murilo Marin, gerente nacional de vendas, entende que o canal indireto possui ampla gama de necessidades, tanto para operações menores, em locais estreitos, até grandes centros de distribuição, que contam com cabines frigorificadas. “A empresa, com nossas marcas Linde, Still e Baoli, tem portfólio e rede de assistência em todo o Brasil para garantir o atendimento pós-vendas. Entendemos que trata-se de um setor com diferentes perfis de clientes”. A companhia lançou recentemente duas novas patoladas, modelos EGV-NG e EGV-S, que servem principalmente para o atacado de autosserviço.
SUSTENTABILIDADE André Cardoso, country manager da Chep, por sua vez, avalia a importância do setor na cadeia produtiva, o que lhe confere a experiência no campo logístico. “Adotar o canal indireto pode ser uma estratégia eficiente para que empresas possam ampliar seu alcance e, assim, melhorar a eficiência operacional, pois podem contar com a expertise e os recursos que esses intermediários oferecem”. A Chep fornece o pooling de paletes, sistema de compartilhamento que permite a reutilização de paletes entre empresas. A indústria, em vez de comprar essas plataformas de madeira, aluga como serviço, evitando custos com investimento, armazenamento e reparação, entre outros.
As empresas estão cada vez mais comprometidas em reduzir seu impacto ambiental e contribuir para um futuro mais verde. A sustentabilidade deixou de ser apenas um fator de influência, mas agora é também decisão.

Questionando sobre inovação na linha, Cardoso explica que não pode abrir detalhes sobre novidades no portfólio, mas afirma que a Chep conta com diversas tecnologias para melhorar a cadeia de abastecimento.
O pooling de palete é apresentado como um modelo sustentável que traz eficiência à cadeia de abastecimento. Pode entrar em uma linha automatizada, facilitando a movimentação e o transporte dos produtos. “Um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) concluiu que este modelo é a escolha mais inteligente para distribuidores e varejistas, gerando uma economia de até 37% nos custos operacionais nos setores de bebidas, mercearia e limpeza, além de contribuir diretamente para a redução do desperdício e a mitigação de impactos ambientais. O compartilhamento de paletes também oferece maior segurança e eficiência operacional.”
OPERAÇÃO DINÂMICA
Outro exemplo que pede atenção redobrada ao processo vem da Masterboi, distribuidora de alimentos refrigerados e congelados sediada em Pernambuco. Com um portfólio formado por 800 itens, constituído de vegetais, pescados e cortes de carnes, tem como carro-chefe as marcas próprias: Masterboi (carnes, vegetais e pescados), Master Grill e Master Black. “A marca própria é muito forte, representa 70% em faturamento e 65% do volume de vendas, de quatro mil toneladas”, diz Enio de Lima (na foto), diretor-comercial. A empresa abastece estados do Nordeste.
Noventa por cento de tudo que vende tem como destino o varejo localizado em Pernambuco e Paraíba – principais mercados da região –, embora atenda ainda Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte e Ceará. “Precisamos manter uma logística bastante eficaz para cobrir a região. Somente em Pernambuco, atuamos em 175 dos 185 municípios do estado. E abastecemos, no mínimo, uma vez por semana. Cobrimos também boa parte da Paraíba, onde estamos presentes em 180 dos 223 cidades, com entregas diárias ou em torno de duas vezes por semana. Fazemos entregas fracionadas, mas militamos a caixas fechadas, como de batata ou de peixe, e pesam entre 15 e 20 quilos”.
Entre os três mil clientes estão supermercados, padarias, hospitais, transformadores e
açougues. As entregas são viabilizadas pela frota de 140 carros, com baús frigoríficos de diferentes portes. Tem de VUC (veículo urbano de carga) a caminhões truck e bitruck (com capacidade de transporte de cargas pesadas). São abastecidos em centros de distribuição localizados em Pernambuco e na Paraíba.
A dinâmica da operação se inicia na recepção dos produtos. Grande parte das carnes que leva o rótulo da empresa vem de produtores terceirizados. O mesmo acontece com os vegetais – 100% importados de Portugal e da Bélgica (batatas). Segundo Enio de Lima, diretor-comercial, a logística é um dos principais ativos da companhia. “A logística é uma área de maior custo e requer investimentos constantemente. Nos últimos 12 meses, substituímos 20 caminhões.”