Exclusivo: Economistas enxergam retomada econômica com inflação menor

A sensação de que a economia já chegou ao fundo do poço e que as previsões indicam uma lenta retomada, contanto que a crise política dê uma trégua, é pactuada por economistas e empresários. Porém, ao avaliarem o atual cenário, bem como o que está por vir, os especialistas enfatizam que ainda é preciso vencer a recessão, e resgatar com firmeza a confiança dos agentes econômicos e a da população, abaladas pelo desemprego e pela restrição de crédito. Mas alguns deles apostam que, a partir deste segundo semestre, será possível experimentar uma relativa melhora.

Sob a óptica dos especialistas, entre os indicadores positivos estão a trajetória declinante da inflação e as projeções de que o resultado do Produto Interno Bruto será menos ruim neste ano e em 2017. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), considerando-se a inflação oficial, fechou junho em 0,35%, um recuo sobre a taxa de maio, que foi de 0,78%. Com esse resultado, o primeiro semestre acumula uma alta de 4,42%, ao passo que foi de 6,17% a porcentagem contabilizada em igual período de 2015. Em 12 meses, o índice recuou para 8,84%, ao passo que o índice apurado nos doze meses imediatamente anteriores foi de 9,32%.

O boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, mostra que o mercado financeiro reduziu a estimativa de inflação para este ano e para 2017, supondo que ela será de 7,21% e 5,29%, respectivamente. O levantamento também aponta uma melhora na estimativa do PIB, ainda que indique um recuo de 3,27% para 2016, e uma alta de 1,1% para o próximo ano. A equipe econômica do governo trabalha com uma meta de crescimento de 1,2% do PIB e uma inflação entre 5,3%e 4,5% para 2017, mas tem de lidar com o rombo das contas públicas.

Impacto político

Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da CNC – Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo e ex-diretor do Banco Central, entende que os ajustes econômicos “mais severos” ocorreram no ano passado, como o aumento das tarifas públicas e do combustível, e o ajuste do câmbio (que ajudou a equilibrar a balança comercial): “Daqui para frente a variável política vai continuar sendo fundamental para ditar os rumos da crise. As medidas econômicas que já estão sendo tomadas, como o ajuste dos gastos públicos e a expectativa de reforma da Previdência, além do fato de o governo ter o apoio da maioria do Congresso, pelo menos por enquanto, nos leva a uma fase de maior acomodação, com os preços relativos subindo menos e o dólar mais estabilizado, com tendência de queda.”

O economista também destaca como ponto favorável para a retomada do crescimento o fato de os juros reais estarem negativos no mundo, enquanto no Brasil são positivos e atraem investidores. “Creio inclusive que esses juros estão na faixa de 7%, e deverão cair, em 2017, para 4%, o que é normal. Para isso, considero uma expectativa de inflação em torno de 4,5% para 2017 e uma queda dos juros básicos, que atualmente estão na casa dos 14,25%.”

Sua avaliação inclui ainda as esperanças de uma boa nova para o comércio e de uma queda nos juros longos, negociados diariamente e balizados pela queda do custo de vida e dos juros. Na prática, acrescenta, o movimento de recuo da taxa facilitará a retomada, que segundo Freitas ocorrerá em breve, dos financiamentos longos para a aquisição de carros e bens de consumo duráveis.

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