“O atacado vai, daqui a pouco tempo, passar pelo impacto digital”, diz Julio Campos

Por Rúbia Evangelinellis

Dona de um portfólio campeão de vendas e de grande popularidade, constituído por rótulos como OMO, Comfort, Dove, Hellmann’s, Kibon, Knorr, Lux e Maizena, a Unilever, há 89 anos no Brasil, tem uma clara visão do potencial do mercado no País. Ainda que não revele, em cifras, o alcance dos negócios que registra por aqui, dá uma pista da sua extensão e da sua amplitude ao apresentar uma estatística que constata estar ela presente em 46 milhões dos lares.
O braço brasileiro é parte integrante de um conglomerado que atua em mais de 190 países, abrangendo um total de 2,5 bilhões de consumidores, graças aos quais alcançou, em 2017, a marca de 53,7 bilhões de euros em vendas. Segundo um comunicado oficial, 57% do alcance da empresa deve-se aos mercados emergentes e em desenvolvimento. No mundo, a Unilever comercializa mais de 400 marcas, que carregam a bandeira do desenvolvimento sustentável, apoiando-se para isso nos pilares estabelecidos pela ONU – Organização das Nações Unidas.

Em entrevista exclusiva concedida à DISTRIBUIÇÃO, Júlio Campos, vice-presidente de Vendas da Unilever Brasil e da Latam, graduado em engenharia mecânica, mas vendedor por vocação como ele mesmo se define, destaca o trabalho desenvolvido pela organização, que tem a cultura de agregar colaboradores, clientes e consumidores graças às suas boas práticas de negócios e de convivência firmadas por valores éticos.

O atacado distribuidor, segundo informou, representa 50% dos negócios estabelecidos no Brasil. “Além disso, oferece um grande exemplo pela lição de empreendedorismo e garra de empresários que superaram momentos difíceis da economia”, enfatizou. Mas, de olho no futuro, destaca a importância de se investir em ferramentas virtuais, como o e-commerce, para ganhar mais espaço junto aos consumidores e ampliar o horizonte dos negócios.

Como se mostrou o cenário de negócios da Unilever Brasil em 2017 e quais são as perspectivas dela para 2018 e 2019?

Por ser uma empresa de capital aberto, não divulgamos dados locais nem perspectivas futuras. O que podemos informar é que, globalmente, tivemos um bom desempenho no primeiro trimestre do ano nas nossas três divisões – cuidados com a casa, cuidados pessoais e alimentos – apresentando um crescimento de mais de 4% nos mercados emergentes, entre os quais está o Brasil. Seguimos sendo otimistas e trabalhando para melhorar ainda mais a qualidade e a velocidade de nossas inovações graças a uma organização mais ágil e voltada para o entendimento das demandas do consumidor e para o atendimento dessas demandas.

Como a Unilever avalia o consumidor brasileiro e quais as estratégias que ela adota para estar perto de um público tão diversificado e plural?

Entnder em profundidade o consumidor é essencial para a Unilever, uma indústria de bens de consumo constituída por marcas. Realizamos constantes pesquisas junto aos nossos consumidores. Também é preciso destacar que nosso portfólio inclui marcas que atendem aos mais diferentes perfis de consumidores.

O brasileiro passou a ter, em 2018, uma atitude diferente com relação ao consumo. Como a Unilever, dona de um portfólio campeão, e que fez 11 aquisições em 2017, incluindo a Mãe Terra, está enxergando essa mudança?

Temos um portfólio completo para todas as categorias, com opções populares, intermediárias e premium, o que nos permite atender a diferentes perfis e satisfazer a diferentes necessidades dos consumidores. Isso representa uma vantagem em um período desafiador como o que estamos atravessando. Nossa estratégia consiste em manter constantemente em foco os consumidores a fim de entender com profundidade as suas necessidades de consumo , e ajudar os varejistas e distribuidores a prestar um atendimento cada vez melhor aos diferentes públicos.

O Brasil ainda precisa vencer desafios políticos e econômicos em 2018. Em sua opinião, qual deve ser a contribuição das empresas e que papéis deverão elas desempenhar no presente momento?

O Brasil é um mercado extremamente estratégico. O que podemos melhorar dentro da empresa, na cadeia de distribuição e no serviço oferecido pelos varejistas é o nosso foco. Estamos no Brasil há 89 anos e já passamos por diversos momentos econômicos. Nunca deixamos de investir no mercado brasileiro e de acreditar no seu crescimento. O Brasil passa por um momento desafiador, mas não deixou de ser um mercado importante e com muitas oportunidades de negócio.

Com base em sua plataforma de trabalho voltada para questões globais, que ações a Unilever Brasil realiza em prol da sustentabilidade e da preservação da ética no ambiente corporativo?

O jeito Unilever de fazer negócio prima pelo crescimento social e ambiental responsável. Não é “da boca pra fora” que a empresa acredita que o crescimento do negócio precisa gerar impacto social positivo por meio de iniciativas que promovam a inclusão. Para colocar em prática essa visão, a companhia lançou, globalmente, o Plano de Sustentabilidade da Unilever em 2010, no qual estabelecemos três compromissos.

E quais são eles?

Ajudar mais de um bilhão de pessoas a tomar iniciativas para melhorar sua saúde e seu bem-estar (até 2020), reduzir pela metade a pegada ambiental dos seus produtos (até 2030) e melhorar as condições de vida de centenas de milhares de pessoas à medida que fizermos o negócio crescer (até 2020).

Como a Unilever trabalha o desenvolvimento profissional e a sua cultura junto aos colaboradores?

Todos têm algum talento. Eu, por exemplo, sou engenheiro por formação, mas descobri que a minha essência é a do vendedor. E faço isso há 30 anos. Acredito que, atualmente, o maior desafio que os líderes enfrentam é o de como conectar as diferentes gerações. Ocorreu uma evolução rápida em um curto período de tempo, especialmente considerando-se o impacto dos meios digitais na vida das pessoas. Em uma equipe de venda de quatro mil pessoas de diferentes gerações, não é fácil estimular todas elas para que pensem de igual maneira e que se empenhem com as causas a empresa. É preciso encontrar uma linha comum que una a todos.

E qual é essa linha?

É formada pelos valores da vida, pelos valores da família e pelos códigos de integridade e de ética. Quando me dirijo a essas pessoas, eu sempre uso referências intrínsecas ao ser humano.

E como a Unilever trabalha para passar essa mensagem?

A Unilever é uma empresa muito ligada à sustentabilidade e ao respeito pelo meio ambiente, pelo desenvolvimento humano, pela proteção da água, e assim por diante. Queremos que os consumidores comprem nossas marcas não só pelo valor do que há dentro do saquinho (considerando a qualidade do produto), mas também pela causa que elas defendem. E os nossos funcionários precisam ter essa paixão e entender que, no fundo, não estão vendendo somente um produto em um pacote de OMO, mas sim, estão vendendo roupa limpa, que passa a mensagem de inclusão social.

Você começou como vendedor?

Sou formado em engenharia, como meu avô. Mas durante os cinco anos do curso, fiz estágios em seis companhias e em áreas diferentes. Encontrei-me comigo mesmo em vendas. Entrei na Unilever como trainee em vendas. Fiquei três anos em treinamento, um ano como vendedor, e três meses repondo gôndolas. Foi quando tive a oportunidade de atender clientes do atacado e do varejo. E quando mostrei que tinha aptidão não estava apenas na formação acadêmica, a minha carreira deslanchou na área que me trouxe ao encontro do meu talento. Aqui, estimulamos a atualização e o desenvolvimento pessoal e profissional. E respeitamos a diversidade.

De que maneira isso se traduz em medidas práticas?

Antes que qualquer legislação tivesse sido definida, já oferecíamos seis meses de licença-maternidade, berçário, horário flexível de trabalho e a possibilidade de home office em qualquer área e para ambos os sexos. O importante é criar um ambiente diversificado de trabalho, isto é, um ambiente que não pasteurize as pessoas. Aqui elas podem mostrar seus piercings, suas tatuagens, mostrar o que são de verdade. Eu, com 54 anos, ando de skate junto com os funcionários. O legal é você poder transitar verticalmente na organização, sem se preocupar se está falando com VPs (vice-presidentes), diretores ou gerentes. Hoje, temos 50% de homens e 50% de mulheres nos cargos de gerência, de direção e de vice-presidência

Qual o futuro do atacado brasileiro?

O mundo vem de uma transformação e nos obriga a reavaliar todos os setores e funções. Acredito que o atacado vai daqui a pouco tempo passar pelo impacto digital, que influencia profundamente as relações com os clientes e consumidores.
O consumidor busca cada vez mais o e-commerce. Quem faz isso, amplia a possibilidade de vender e de interagir. Tenho uma fé absoluta no desenvolvimento do atacado. Esses empresários brilhantes que souberam superar os momentos difíceis do País com soluções engenhosas. E quanto às soluções tecnológicas, é apenas uma questão de tempo até que ingressem na cultura dos seus negócios.

Qual é sua opinião sobre as mudanças que foram introduzidas no evento da ABAD?

Considero uma evolução muito positiva no trabalho que a ABAD já desenvolvia para os associados. O evento está mais focado em conhecimento, chegando a oferecer um espaço para o debate e para a troca de experiências e de boas práticas. Isso é fundamental para que o setor avance, acompanhe as modificações pelos quais o mundo está passando e continue crescendo.

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