Como os millennials estão transformando os negócios das empresas familiares

 

*Por Arthur Vasconcellos, sócio da Caldwell Partners no Brasil

Tenho 60 anos de idade e quase 40 de carreira. Só de experiência profissional, já somo praticamente o dobro da idade dos jovens que estão começando suas trajetórias no mercado de trabalho. Testemunhei e participei das transformações no mundo corporativo das últimas décadas. E a realidade na qual os jovens estão inseridos hoje é bem diferente de quando eu comecei. 

Na minha geração, éramos treinados nas universidades para trabalhar em grandes empresas, em multinacionais ou nas Estatais mais desejadas como Petrobras e Banco do Brasil. Era sinal de sucesso permanecer 10, 20 anos, a vida toda dentro da mesma organização, ter o chamado emprego vitalício. 

Esse cenário, porém, não é mais o que vejo nos dias de hoje. Como sócio de uma empresa global de recrutamento de altos executivos, faz parte do meu trabalho observar, analisar a movimentação do mercado e antecipar as mudanças que possam refletir no meio e nas companhias. Com base nisso, certamente posso dizer que os empregos já não são mais para a vida toda. 

Jovens com 28, 30 anos já passaram por 4 ou 5 empresas durante o curto período de carreira que possuem. E o objeto de desejo desses novos executivos não é mais ser subordinado a um chefe. É, na verdade, ter a chance de se tornar empresário, de comandar seu próprio negócio.  

Essa geração é mais acelerada. Os millennials são ansiosos para chegar ao topo sem percorrer todo o caminho necessário e, muitas vezes, demoram a aceitar que pode levar tempo para alcançar o sucesso. 

Fazendo um comparativo com as gerações anteriores, posso dizer que os executivos que estão no mercado há mais tempo são mais perfeccionistas, com mais receio de arriscar, de ousar. Hoje, os jovens trabalhadores são mais rápidos, pensam com mais agilidade e, graças à tecnologia, têm mais acesso a informações, educação e conhecimento de um modo geral. Por isso, desenvolveram um senso de inovação e não têm medo de cometer erros e assumir riscos. Por conta dessas diferenças, pode-se criar um conflito de gerações, sendo necessária a troca de conhecimento entre elas para que todos tirem proveito dessas mudanças e cresçam juntos. 

Sempre digo que um grande talento nos dias de hoje precisa saber administrar a ansiedade e conhecer seu timing para crescer dentro da empresa, respeitando a hierarquia e experiência dos executivos seniores. 

E o que fazer quando esse jovem é herdeiro e já tem sua vaga garantida na companhia? É certo que, dentro da empresa familiar, ele estará sempre protegido, mas será que está preparado para assumir a função? 

Eu recomendo que os herdeiros vivam experiências fora das empresas familiares. É importante adquirir prática em outros lugares onde o sobrenome não irá servir de escudo, nem proteger da competição do mundo corporativo. É válido também fazer cursos, trabalhar fora do país para, um dia, voltar com o olhar diferente, com mais conteúdo e contribuir para o crescimento da sua própria companhia. Alcançar um alto cargo por competência e não pelo sobrenome deve ser motivo de orgulho e satisfação. E, com certeza, tornar-se um exemplo de liderança no qual os colaboradores se espelham é o novo desafio da geração Y, principalmente para quem já nasceu com a faca e o queijo na mão. 

Lembrando que a transformação tem que ser mútua. O que acontece, muitas vezes, é que essas empresas construídas há mais de 50 anos, ainda utilizam o mesmo modelo de quando começaram, não acompanharam as mudanças profundas do mercado, e a visão dos millennials. A realidade hoje é diferente. Não podemos forçar os jovens a viverem sonhos do passado, é preciso renovar os desejos, a identidade da organização e não perder os insights que esses novos executivos têm para oferecer. A troca de experiência e a aceitação de uma nova perspectiva é que vão ditar o rumo das empresas daqui pra frente.  

E essa realidade não ocorre apenas dentro das organizações. O país também está em um processo de sucessão. Pela primeira vez, depois de lutas políticas, mudanças no cenário econômico, estamos começando a projetar o futuro e ter um olhar de médio a longo prazo. Precisamos colocar, primeiramente, o Brasil em uma outra dimensão para que isso se reflita nas empresas. E esse é o grande desafio que vivemos hoje.

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