Muffato quer ir além do atacarejo em SP

Sexto maior grupo de varejo alimentar do país, o Muffato conclui, em janeiro, a maior expansão já lançada na história da empresa paranaense, com a abertura de 16 lojas de atacarejo da rede Max no Estado de São Paulo em menos de seis meses.

Ao fim desse processo, a rede deve se preparar para entrar em outros segmentos na capital paulista, já explorados pelo grupo no Sul. Fundada em 1974, a companhia tem sua sede em Londrina (PR).

Esse movimento em atacarejo será a base para um avanço também em supermercados na cidade de São Paulo, com a rede Super Muffato, e para acelerar a operação da sua marca Muffato Foods.

As 16 lojas do Max a serem inauguradas até janeiro, e os 11 postos de combustíveis foram comprados do grupo holandês Makro em São Paulo, em transação anunciada no começo do ano. Há investimento de cerca de R$ 900 milhões só nas reformas dos pontos, ao se considerar o gasto médio por imóvel.

O grupo Muffato soma 100 lojas no país, entre Paraná e São Paulo, e, segundo projeção de indústrias e consultorias, deve terminar o ano com vendas brutas na faixa de R$ 14,5 bilhões, versus R$ 12 bilhões em 2022. A varejista não abre o número. Caso atinja essa soma, crescerá cerca de 20% em supermercados, hipermercados e atacarejo – até setembro, o Assaí cresce 25%, Carrefour, 10%, e o GPA, 13%.

“Entramos com a Muffato Foods junto com o Max Atacadista em São Paulo, para ir fortalecendo nossas outras marcas na cabeça do consumidor”, diz o diretor Ederson Muffato, um dos três filhos do fundador Tito Muffato, morto em acidente aéreo em 1996.

“Aí me perguntam, ‘mas um dia vocês vão trazer mais do Muffato’? É óbvio que sim. Eu tenho a bandeira Super Muffato Gourmet, tenho lojas mais tradicionais de ‘super’ e o atacarejo. Expandir o portfólio é uma forma de gerar mais escala”. A loja no modelo gourmet concorre com redes como Pão de Açúcar e St. Marche.

Aumento de volume ajuda a diluir a alta das despesas num varejo de margens muito baixas. Por isso, o ganho de escala é crucial nos projetos de expansão orgânica.

Informações que circulam no setor apontam para entrada na área de supermercados na capital após 2025. O diretor não comenta prazos. “Primeiro, temos que concluir essas 16 lojas do Max Atacadista, e embalar. Não queremos gerar mais complexidade para a operação agora. Com o atacarejo mais estabilizado e embalado vamos tratar disso”, disse ele, durante visita ao Max Atacadista no bairro de Interlagos, na capital paulista, comprado do Makro e inaugurado no último dia 8.

De acordo com Ederson, já há um mapeamento de lojas potenciais (identificaram cidades em que cabem até três lojas do grupo), e há dois centros de distribuição no Estado, para auxiliar nesse plano. Pelos cálculos, os donos veem espaço para chegar a até 60 lojas em São Paulo, para todas as cadeias da empresa. É o dobro do número que o grupo terá na região após as 16 aberturas.

Eram 15 unidades antes da compra dos pontos do Makro, e ao fim de janeiro, serão 31.

“Eu confesso que acho que não vamos nos segurar muito tempo. Mas a ideia é fazer tudo a seu tempo. Dados iniciais mostram metas sendo superadas, mas se as coisas não foram bem, iremos mais devagar, não temos um estresse com isso. Eu não tenho que dar explicação ao mercado. Meus sócios são meus dois irmãos e minha mãe, por isso temos essa autonomia”.

Esses dois centros de distribuição ficam em São José do Rio Preto e em São Paulo – este último aberto em maio, para sustentar os planos. Também foi instalada uma “minisede”, como a rede chama, na capital paulista (a sede ainda é Londrina). Mais de 200 pessoas já foram transferidas do Sul para a operação em São Paulo.

Pelas contas da direção, o avanço sobre o Estado paulista levou a uma antecipação de investimentos em dois anos e meio – ou seja, o que seria desembolsado até metade de 2026 foi feito em 2023.

Até este ano, o grupo tinha uma operação mais discreta no interior, e sem atuação na capital – portanto sem incomodar tanto Assaí e Atacadão, as redes que tomaram conta do atacarejo na praça mais risca do país.

Mas essa aceleração deve tornar o Estado no principal vetor de crescimento do grupo após 2024. A região já deverá dobrar o seu peso nas vendas, de 20% para 45%, depois das aberturas. Paraná ficará com 55%, mas tende a ser superado por São Paulo no curto prazo.

São metas traçadas num cenário de competição mais acirrada e desempenho mais fraco na região.

Dados da Nielsen, obtidos pelo Valor, mostram que o Estado São Paulo desacelerou no atacarejo e no supermercado pequeno. Houve recuo de 3,4% na venda de lojas com mais de um ano de vida no atacarejo, no acumulado do ano até o terceiro trimestre.

Essa questão já tem sido foco de debate entre empresas do setor e analistas há meses. Nesse ambiente, a questão central é se essa entrada mais forte do Muffato na região pode inicialmente ser mais difícil do que o comando espera.

Normalmente, aberturas exigem dose alta de ações promocionais para ganhar mercado, e isso afeta margem. Num ambiente de demanda fraca, há dois caminhos: essas ações podem ser ainda mais agressivas, para trazer cliente, ou o ganho de volume vem de forma mais lenta.

Perguntado se a empresa pretende focar em ganho de volume com as inaugurações, mesmo que isso comprima rentabilidade, Ederson diz que a rede não tem perfil de “volumeira”. “Não somos de vender para fazer volume a qualquer custo [na venda a empresas no atacado], na linha de ‘eu tenho que faturar ‘x’ no trimestre ou no mês’. Já na venda ao consumidor, somos mais competitivos. Mas nada de arrebentar no volume e zerar margem. Não é nosso perfil.”

Sobre o fato de as últimas expansões terem cobrado uma fatura das atacadistas e varejistas nos últimos meses – há revisão de investimentos e adiamento de aberturas – Ederson diz o Muffato vive um cenário um pouco diferente, porque é menos alavancado do que as grandes cadeias abertas.

A alta na taxa de juros após 2021 pesou na despesa financeira de boa parte das redes. “Nosso investimento veio da reserva de caixa, não temos dívida, e com isso não temos a despesa financeira afetando resultado final. Isso, porque sempre fomos conservadores. Enquanto alguns abriam dezenas de lojas com Selic baixa, fazíamos menos. E confesso que até ficávamos na dúvida se ser conservador era o certo. Mas aí nos preparamos para ter caixa para uma oportunidade, que veio com o Makro”.

Neste ano, incluindo as despesas com expansão, o lucro deve cair pelo efeito dos custos maiores, e não pelas dívidas, para voltar a se recuperar em 2023, diz ele.

Fonte: Valor Econômico

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