Resultado da venda das ações do Assaí pelo Casino pode atingir US$ 700 milhões

Após uma década de relevante contribuição e participação em projetos transformadores para a Companhia, Ronaldo Iabrudi deixará a posição de Vice-Chairman do Conselho de Administração do Assaí, passando a dedicar mais tempo a projetos e negócios pessoais. Sua posição na empresa será ocupada por Philippe Alarcon.

Diz o fato relevante publicado na noite desta quinta-feira que, como parte do processo, Belmiro Gomes, além da função de CEO do Assaí, passará a integrar o Conselho de Administração da Companhia, aportando a este colegiado toda sua visão de negócios.

Ronaldo deixará as funções atuais na Companhia a partir do dia de 28 de outubro de 2022, mas continuará apoiando o Grupo Casino em várias questões institucionais e ESG. Vale destacar que ele é um dos executivos de confiança do Casino no país.

O Casino ainda pode fazer novas vendas de posição no Assaí, o que deve levar a um aumento de participação de investidores de forma pulverizada na base de acionistas da empresa. Esse movimento embasa um processo, mais de médio prazo, de criação de uma “corporation”.

Há informações no mercado de que o Casino poderia, ao fim desse processo sob análise, reduzir de cerca de 41% para algo entre 25% e 27% a sua posição no Assaí — a depender dos planos de redução da alavancagem do grupo francês por meio da venda de outros ativos e das condições de preço do papel no Brasil.

Isso levaria a uma operação total que pode girar em torno de US$ 700 milhões, num cenário mais positivo, com janela de mercado para isso. O Casino ainda avalia, por exemplo, a venda da rede de moda e acessórios Monoprix, dizem fontes.

Os US$ 500 milhões da operação de venda que está sob análise já equivaleria a diminuir a fatia para cerca de 30%, pelo “valuation” e câmbio de quarta-feira. Sobre o tema da corporation, a cadeia atacadista sinalizou a analistas ontem que trata-se de “opções que a gente sempre vai poder explorar”, afirmou Belmiro Gomes, presidente do Assaí. Ainda disse a eles não saber se há vencimentos de dívida de Casino no curto prazo, mas reforçou que esse movimento dos franceses não reflete questões relativas ao modelo do Assaí. Mas que pode levar a avanços em “atuais discussões sobre melhoria de governança que já vinham acontecendo”.

Com a provável redução de posição do Casino, o Assaí diz que, em termos de estratégia, não há alteração. Quem conhece a operação sabe que o Casino nunca fez maiores interferências no negócio e basicamente recebe retornos mensais do comando sobre resultados e avanços obtidos seguindo os planos estratégicos, portanto, o mercado já presumia que não haveria impacto no negócio, liderado com autonomia por Gomes. Não há previsão de emissões primárias pelo Assai, após a provável oferta do Casino. A ideia é que a desalavacagem da rede atacadista ocorra “naturalmente”, disse Gomes a analistas.

Negócio

De acordo com comunicado divulgado pelo Assaí, os bancos BTG Pactual, Itaú BBA e J.P. Morgan foram contratados para “análise dos termos das potencial transação”, que seria implementada por meio de uma oferta pública secundária a ser concluída no fim de novembro. O Casino destaca que ainda não foi tomada nenhuma decisão final sobre o futuro negócio.

O movimento foi comunicado pelo grupo francês após um aumento no risco de deterioração de sua dívida no mercado internacional. A medida ainda abre espaço para melhorar o nível de governança da atacadista brasileira. Segundo uma fonte, a empresa deve avançar para um modelo de corporation, com ações pulverizadas em bolsa, após a saída parcial do Casino, num formato semelhante ao da Renner, por exemplo.

Mudanças podem ser tomadas nessa direção nos próximos meses, acrescentou a fonte, envolvendo a nomeação de Belmiro Gomes, atual CEO do Assaí, para o conselho de administração. Gomes manteria, ao mesmo tempo, o cargo executivo. Se confirmada, a operação de US$ 500 milhões (equivalente a R$ 2,66 bilhões pelo câmbio atual) será a maior venda de ativos feita de uma só vez pelo grupo francês no país ou por uma suas controladas, como o GPA (dono da marca Pão de Açúcar). O montante supera o da venda da Via (dona das Casas Bahia) pelo GPA, que alcançou R$ 2,3 bilhões em 2019.

O grupo francês tem em andamento há anos um plano de venda de ativos para reduzir seu endividamento. A meta é reduzir o equivalente a 4,5 bilhões de euros até o fim de 2023. Ocorre que os ativos em negociação ainda não chegam nesse patamar. Nos planos iniciais dos franceses, não havia expectativa de venda parcial de sua posição no Assaí. Mas uma deterioração recente das condições de mercado obrigou a empresa a costurar esse caminho nas últimas semanas, diz uma fonte próxima ao assunto.

“Os bancos têm as garantias que podem executar se chegar no vencimento das dívidas, então é a situação mais geral que acabou pressionando mesmo”, afirmou a fonte. O risco de crédito medido pelo credit default swaps (CDS) de cinco anos do Casino subiu para 12.970 pontos-base, ante 3.977 pontos-base no começo do mês, segundo dados da Bloomberg.

A ideia inicial era manter a posição em Assaí, pela perspectiva de ganhos no curto prazo com um negócio redondo e bem avaliado pelo mercado, e buscar renegociações env olvendo outros ativos, inclusive GPA, numa eventual recuperação do valor da rede. Mas isso não ocorreu com GPA na velocidade esperada, após a crise com a pandemia e resultados ainda em recuperação na supermercadista.

Entre um desinvestimento em Assaí ou na rede francesa Monoprix (outra possibilidade que ainda está na mesa do controlador Casino, dizem duas fontes), haverá maior ganho imediato com Assaí, apuraram as jornalistas.

Outro caminho que está sendo analisado é a separação do grupo colombiano Éxito do GPA, seu atual controlador, para abrir possibilidade de negociação do ativo na Colômbia, negócio em fase de maior crescimento de vendas, mas com baixa liquidez no mercado. “Mas isso também é um processo mais lento do que um ‘deal’ com Assaí agora”, afirma uma fonte.

A redução na participação de Assaí ocorre dez anos após o Casino se tornar o maior controlador do GPA. Em 2012 foi concluída a saída definitiva de Abilio Diniz do grupo, após um período de desentendimentos públicos entre o empresário, que construiu o Pão de Açúcar junto com o pai, e o presidente do Casino, Jean Charles Naouri. A movimentação ainda ocorre depois de o grupo ter se desfeito da Via em 2019, para o empresário Michael Klein e um “pool” de fundos, e ter anunciado a separação de Assaí em 2020.

Hoje investidores e analistas entendem que a separação de Assaí do GPA foi acertada, mas acreditam que o grupo francês não conseguiu fazer crescer de forma tão acelerada o seu negócio de varejo no Brasil, em parte pelas crises de 2016 e de 2020, e também por decisões da gestão que não deram resultados esperados no braço de varejo, hoje em reestruturação.

O plano do Casino é chegar em março de 2023 com uma dívida de 2,5 bilhões de euros, sendo que hoje a dívida bruta é de 7 bilhões de euros e a líquida, de 4,5 bilhões de euros. A Rallye, holding do Casino, pediu salvaguarda em 2019, e desde então o grupo vem reestruturando suas operações.

Fonte: Valor Econômico

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