Natural da Terra pode ser vendida para honrar dívidas da Americanas

Adquirida em agosto de 2021 pela Americanas por R$ 2,1 bilhão, o hortifruti Natural da Terra pode ser colocado à venda para ajudar a resolver o problema de endividamento da varejista, que já supera R$ 40 bilhões. A expectativa é de que a operação renda cerca de R$ 2 bilhões para a Americanas.

No último dia 11 de janeiro, Sérgio Rial, CEO da empresa, anunciou sua demissão, depois de nove dias no comando da empresa, ao identificar inconsistências contábeis registradas em anos anteriores, inclusive em 2022, na casa dos R$ 20 bilhões. A empresa afirmou após a revelação de que o efeito caixa deve ser imaterial, mas que ainda não é possível determinar todos os impactos na demonstração de resultado e no balanço patrimonial.

A participação da companhia em lojas de conveniência, em parceria com a Vibra (ex-BR Distribuidora), também é apontada como opções de vendas dentro de um acordo que o grupo pode fazer com os bancos credores.

A Americanas não descartou essa possibilidade. Em resposta a um questionamento da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), confirmou que está “avaliando diversas oportunidades” de vendas. No entanto, destacou que, no momento, não existe nenhuma informação que mereça ser divulgada.

A percepção no mercado é que é cedo para dizer o que deve ou não ser vendido, já que ainda não se sabe nem mesmo a extensão do problema. Dois dias após o comunicado da empresa que informava as incongruências nas contas, a companhia conseguiu na Justiça proteção contra os credores ao argumentar que, se as instituições financeiras buscassem adiantar o pagamento das dívidas da varejista, as cobranças poderiam chegar a R$ 40 bilhões, o que geraria um quadro de insolvência da companhia.

Nesse documento, a companhia afirmava que, apesar do quadro preocupante, “a existência de ativos de elevado valor e de uma posição de caixa no montante superior a R$ 8 bilhões” são características que garantem que o grupo haveria de se recuperar se fosse protegido dos credores nesse primeiro momento.

Alerta para as inconsistências dos lançamentos contábeis

O caso acendeu uma discussão para a importância do controle financeiro, com uma eficiente e atuante área de compliance e auditoria interna. Aliás, empresas de grande porte devem por lei possuir um programa de compliance, revisado e atualizado continuamente, de acordo com os artigos nº 56 e 57 do decreto anticorrupção nº11.129/22.

Para Ivo Cairrão, especialista em Consultoria Empresarial e sócio fundador do Grupo IAUDIT, as inconsistências em lançamentos contábeis “redutores da conta fornecedores”, conforme justificou a Americanas em comunicado oficial, tendem a ser operações de financiamento de compras, nas quais a companhia pode ser devedora solidária das instituições financeiras e que estas operações, eventualmente, não estavam “adequadamente refletidas” no balanço.

“Precisamos tomar muito cuidado para toda esta informação não ser somente uma confusão contábil, eventualmente sem qualquer efeito material nos números da empresa. Ocorreram outros casos semelhantes, de proporção um pouco menor, mas ainda na casa de algumas dezenas de milhões”, explica Cairrão.

A realização de uma auditoria interna pode detectar as inconformidades em vigência. “O ideal é que as organizações possuam um programa de Compliance estruturado e bem implementado e com adequada supervisão da Alta Administração, Conselhos e Auditores Internos e Externos. Dessa forma, é possível minimizar o risco de irregularidades, intencionais ou não”, afirma Cláudio Marson, head de Consultoria Empresarial e Auditoria no Grupo IAUDIT.

Fonte: O Estado S.Paulo

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