‘É fundamental continuar com o auxílio de R$ 600’, diz presidente do Atacadão

Diante das disputas políticas que agravam a crise gerada pelo novo coronavírus no Brasil – e que já fazem a média das previsões chegarem a uma queda superior a 6% no PIB deste ano –, o executivo Roberto Müssnich, presidente do Atacadão, do grupo Carrefour, afirma que um movimento foi fundamental para que a crise não agravasse ainda mais: a liberação do auxílio de R$ 600 para os trabalhadores autônomos.

“Foi fundamental isso e é fundamental continuar. Não sei até onde vai a capacidade do governo para ajudar as pessoas. Achei muito sensível e muito rápida a resposta da máquina pública”, disse o executivo, que participou nesta terça-feira, 16, da série de entrevistas ao vivo Economia na Quarentena, do Estadão.

Müssnich afirmou também que o “grupo Carrefour é sempre otimista com o Brasil”. Por isso, as decisões de investimento estão mantidas para este ano estão mantidas na rede de atacarejo. Segundo ele, 20 lojas estão em construção e, até o primeiro trimestre de 2021, 30 unidades compradas do Makro devem ser transformadas em Atacadão.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Como o Atacadão se preparou para manter o atendimento durante a crise?

O Atacadão virou atividade essencial. No primeiro momento, nossa preocupação foi em proteger nossos colaboradores e clientes. Fizemos ajustes, com ações de limpeza, máscaras, tirar a temperatura de cliente e toda uma readequação nas lojas. Afastamos as pessoas que faziam parte do grupo de risco. Dos 55 mil colaboradores, foram 3,8 mil pessoas.

Como tem sido o atendimento durante a pandemia? Teve uma demanda diferente?

Na última semana de março, tivemos uma busca muito forte por produtos, um crescimento de mais de 20% em relação ao mesmo período do ano passado. As pessoas foram se abastecer. Nossa venda, porém, tem 20% de participação dos restaurantes. Teoricamente, perderíamos essa venda. Mas fizemos ajustes de forma rápida. Os mercados pequenos de bairro ganharam importância. Tivemos uma redução de fluxo em loja de cerca de 11%, o que foi saudável. Estamos em 230 endereços. Em cada endereço, uma prefeitura e uma norma diferente. O tíquete médio de compra aumentou 25% com a mudança de comportamento. As pessoas mudaram seus hábitos de consumo e de horário de ir às lojas, preferindo ir mais de dia.

Como tem sido na reabertura para o grupo Carrefour?

Toda crise gera oportunidade. Estar num ambiente seguro hoje é mais importante do que comprar a marca A ou B. Então, isso para nós foi determinante. As compras passaram a ser mais racionais do que por impulso. E houve uma busca por produtos básicos. E nisso somos muitos bons. Temos estoque forte e preço competitivo. Em março, não se vendeu nada de bebidas. Depois, começaram as pequenas indulgências – de comprar uma carne bem melhor, cerveja e vinho. Entender esse movimento que as pessoas fizeram foi muito importante.

Como é administrar o fluxo de consumidores nas lojas nesse momento, com o distanciamento social?

Não tivemos problemas nesse sentido. Nosso gerente fica na porta da loja, em pé, receber os clientes. Isso facilita o processo. Além disso, não tivemos nenhum problema de ruptura, temos estoques suficiente para fazer o nosso trabalho – e nunca deixemos de ter. Esse relacionamento também vale da porta para fora, e as pessoas entendem. Aí você não reclama de usar uma máscara, de medir febre, de manter distância das outras pessoas. Se a pessoa está febril, a gente sugere pedir um Uber para levar a pessoa para casa.

Voltando ao padrão de consumo, o que pode mudar no pós-pandemia?

Temos feito nosso trabalho semana a semana, para procurar entender isso. Trabalhamos com produtos básicos de alimentação, que são 98% do nosso negócio. Quando se tem uma crise de falta de dinheiro, talvez as pessoas migrem do molho de tomate para o tomate. Vamos ter um período de desemprego e dinheiro contado. Alguns produtos as pessoas vão pensar duas vezes para comprar. As pessoas podem muitas vezes migrar para marcas alternativas, para poder comprar duas unidades de um produto, em vez de uma. Por isso temos sempre uma marca A, uma B e uma C à disposição nas lojas. Acredito que os produtos chegaram em um padrão que o ruim não vende de novo. As pessoas trocam sim, porque não têm dinheiro. Compramos muitos produtos regionalmente. No Nordeste, já compramos 70% regionalmente.

Como vai ficar a compra das lojas do Makro, fechada em fevereiro, e a expansão que o Atacadão já previa para o ano de 2020?

O grupo Carrefour é muito otimista sobre o Brasil. Em todas as crises, continuamos a investir. Nosso investimento está garantido este ano. No ano passado, fizemos 20 lojas. Neste ano, talvez cheguemos a 18 lojas, mas já estamos construindo 20. O Makro decidiu se concentrar em São Paulo, e compramos 30 pontos privilegiados fora do Estado. Estamos aguardando o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) analisar o processo, o que deve ocorrer até agosto e setembro. A partir daí vamos fazer dessas lojas Atacadão. Essas 30 lojas vão entrar na nossa expansão. Não sei se conseguimos fazer isso neste ano, mas com certeza até março ou abril deste ano.

A crise política está afetando ainda mais a nossa economia. Como é viver uma crise em cima de outra?

Eu realmente sinto pena que isso esteja agora. A união é que faz a força. Isso pode ser até cafona, mas quando todos estão olhando para um mesmo objetivo, a gente se recupera mais rápido. Quando todos tentam se retaliar, é bastante ruim. Como brasileiro liderando 55 mil famílias, diria que está na hora de olharmos para o mesmo ponto. Porque vamos ver uma pobreza crescente – e todos nós estamos no mesmo barco. Ou todos sobrevivemos ou todos afundamos. Agora não é momento de discussão. Vamos deixar para discutir quando as coisas estiverem bem.

O auxílio emergencial de R$ 600 ajudou nesse tempo de pandemia? Ele deveria ser estendido, em sua opinião?

É extremamente importante. Fomos a primeira empresa a aceitar o cartão do benefício do caixa. Ajustamos o nosso sistema para aceitar o cartão da Caixa. Quando você está na loja e vê quão isso é importante para a necessidade básica. Foi fundamental isso e é fundamental continuar. Não sei até onde vai a capacidade do governo para ajudar as pessoas. Achei muito sensível e muito rápida a resposta da máquina pública. Eu acredito que cada um pode fazer um pouquinho para superar essa crise. Eu acredito sim em uma recuperação mais rápida se cada um contribuir. Nós contratamos 5 mil pessoas. Na quinta-feira, vamos inaugurar uma loja nova em Picos, no Piauí, com 350 empregos diretos. Nós estamos investindo. Temos o nosso plano e vamos executar.

Fonte: Estadão

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