Desinflação e queda na taxa de juros – Cenário positivo para o Brasil e desafiador para o setor

O último painel de conteúdo da 42ª Convenção Anual do Canal Indireto – ABAD 2023 recebeu o economista Ricardo Amorim para uma palestra repleta de informações acerca do atual cenário macroeconômico brasileiro. O especialista trouxe números que mostram que o Brasil está em uma posição de destaque no ranking da desinflação e, em breve, deve entrar em um processo de queda da taxa de juros.

“O Brasil é um dos países onde a inflação mais caiu, chegando a 1/3 do que atingiu no pico inflacionário há cerca de 18 meses”, disse Amorim enfatizando que temos a inflação mais baixa da América Latina e entre os países desenvolvidos. “Nos últimos 20 anos, a média da inflação brasileira nunca tinha sido inferior à média dos países ricos”, complementou.

Com a pisada no freio na política monetária que paralisou a elevação das taxas de juros, pudemos ver bolsas subindo, moedas emergentes se valorizando – entre elas o Real –, menos aversão à risco e retomada dos IPOs. E tudo isso nos leva a um cenário atrativo: o de que o Brasil será uma das primeiras grandes economias a de fato cortar a taxa de juros.

Qual o impacto de tudo isso para o setor atacadista distribuidor? Na questão do consumo, é indireto, porém relevante, como menciona o economista. “Quanto menos juros, mais crédito. E quanto mais crédito, mais venda”. Porém há outras vertentes que precisam ser analisadas e que foram pontuadas pelas lideranças setoriais após a palestra de Amorim.

Valorização do Real

De acordo com Amorim, no ano passado – mesmo em um período eleitoral bastante conturbado – o Real foi a moeda que mais valorizou entre as 30 principais moedas do globo. Esse fato pode ser justificado por sermos uma nação exportadora de commodities, visto que as moedas de outros países similares como Peru, Chile e México também tiveram desempenho positivo.

Menos desemprego e menos inflação

Outro cenário que coloca o país em uma rota positiva é a queda do desemprego. “Fomos, em 2022, o país com a maior queda nessa taxa. Não houve nada parecido no mundo inteiro. Com mais gente trabalhando, mais gente com dinheiro na mão e pretensão de gastar no supermercado”, pontuou.

Amorim enfatizou que, no período da pandemia, o Brasil assistiu à perda de 10 milhões de vagas de emprego. Essas vagas foram todas recuperadas e surgiram, ainda, mais 6 milhões de postos de trabalho preenchidos. Porém, como ainda temos uma taxa considerada bastante alta (8,8%), ainda há espaço para mais trabalhadores com mais renda e mais poder de consumo.

O aumento das vagas aliado a queda da inflação também gera um fenômeno positivo para o setor. Isso porque antigamente, mesmo que houvesse menos desemprego, as pessoas tinham um poder de compra menor, já que a inflação subia mais do que o salário. Agora acontecerá o inverso.

Fatores importantes

Muito dos fatores que desencadearam esse cenário atual são externos. “Com o cenário global tão ruim, ficamos em uma posição privilegiada”, disse Amorim. O especialista exemplifica com detalhes sobre o que vem acontecendo do outro lado do mundo. “O Putin, presidente russo, trouxe um risco geopolítico associado à China muito grande. Somos, assim, o único país emergente com risco muito baixo, o que desperta a atenção de investidores”, explicou. Como resposta, temos um investimento estrangeiro que cresce, hoje, como há muitos anos não crescia.

Paralelamente, o agronegócio nacional – grande exportador – vivencia uma grande fase. Enquanto lucra com as supersafras, assiste países vizinhos como a Argentina sofrerem com a queda da produtividade. Além disso, detém o poder de atender às principais demandas da China, um dos compradores mais ativos do mundo, com a alta produção de minério de ferro e soja.

Reforma tributária

A temática da reforma tributária – que foi amplamente debatida em um painel político específico (clique AQUI para ler a cobertura) – também ganhou espaço na apresentação de Amorim. O economista não se mostrou tão otimista com a aprovação desse texto em um curto espaço de tempo. “A reforma tributária, como está, tem muitos deméritos como a redução da carga tributária da indústria em detrimento de setores como agro, serviços e comércio; a distribuição de receitas entre as três esferas; e a falta de endereçamento de questões relativas à distribuição de renda”, comentou.

Segundo ele, o texto atual não deve passar com facilidade pelo Congresso Nacional. “Precisamos, sim, de uma reforma. Porém, na minha visão, a chance dessa proposta não avançar é maior do que a dela avançar”, mencionou.

Debate setorial


Após a palestra de Ricardo Amorim, líderes do setor apresentaram suas percepções. Com a presença de Leonardo Miguel Severini, presidente da ABAD, o painel recebeu José Rodrigues da Costa Neto, da JC Distribuidora; Luciana Dal Baerto, da Disdal Distribuidora de Alimentos; e Luiz Rabi, da Serasa Experian.

Para Rabi, a agilidade do Brasil em desinflacionar a economia está relacionada à proatividade do Banco Central que, ainda em 2021, iniciou um aperto monetário.

Porém, apesar da queda na taxa de juros e da valorização do Real ser positiva em termos gerais para o país, há uma preocupação setorial com esse cenário despertada por Neto. “É bom para o país, mas traz alguns problemas para nós. No contexto histórico, em todos os anos que tivemos deflação, a rentabilidade foi difícil. Isso porque quando o preço do quilo transportado reduz, o custo aumenta. É hora, então, de voltarmos a fazer algumas contas”, estimulou.

Luciana também enxerga um ano desafiador. “O cenário, de fato, não é para amadores. Porém, sabemos que o brasileiro tem o empreendedorismo na veia, como uma habilidade inata, intrínseca em seu DNA”, ponderou motivada sobre a resiliência do setor mesmo em tempos de crise.

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