Levantamento com grandes redes mostra que varejo brasileiro eleva venda, mas margem cai

O varejo brasileiro vendeu mais no ano passado, porém, pressionado pela concorrência agressiva – num ambiente de recuperação econômica lenta – tem perdido rentabilidade para se manter competitivo, mostra levantamento do Valor Data com dez grandes varejistas de capital aberto que já publicaram seus balanços de 2019.

Além disso, a necessidade de aumentar despesas operacionais para estruturar melhor a operação digital – e o próprio crescimento desse segmento, historicamente menos rentável – também afetou as margens das redes em 2019. Fazem parte da amostra GPA, Carrefour, Burger King, Lojas Americanas, B2W, Magazine Luiza, Guararapes (dona da Riachuelo), Renner, Raia Drogasil (Grupo RD) e Extrafarma

Fazem parte da amostra GPA, Carrefour, Burger King, Lojas Americanas, B2W, Magazine Luiza, Guararapes (dona da Riachuelo), Renner, Raia Drogasil (Grupo RD) e Extrafarma.

A receita líquida dessas redes subiu 13,6% em 2019 sobre o ano anterior, alcançando R$ 195 bilhões. Em termos reais, ao deflacionar o índice pelo IPCA, a alta foi de 8,8%. Cresceram acima disso Magazine Luiza, Burger King, GPA, Renner e Grupo RD.

Na média, todos os indicadores de margem caíram. A taxa bruta recuou 0,7 ponto percentual, de 29% para 28,3%. A margem Ebitda, que considera lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação, passou de 9,1% para 8,6%.

A queda das duas margens indica um cenário com diferentes pressões simultâneas. Algumas empresas, como a Riachuelo, informaram em seus balanços que venderam mais itens de baixa rentabilidade, como celulares. A Raia Drogasil, líder em farmácias, afirmou a analistas que a perda de margem bruta deveu-se, em parte, a uma “estratégia agressiva de preços”.

Outras cadeias reinauguraram lojas, e para atrair clientes, fizeram mais promoções, como no caso do GPA, que tem reformado supermercados. “Iremos manter [em 2020] o nível de competitividade no patamar do que tivemos no final de 2019, no entanto, iremos usar de outras formas para neutralizar possíveis efeitos negativos de margem”, afirmou a empresa, em nota ao Valor. Diminuir os índices de ruptura (falta de produto) e personalizar mais as ofertas aos clientes serão algumas dessas ações, acrescentou o grupo.

As varejistas também abriram mão de parte da margem para gastar mais nas operações on-line. Isso eleva despesas e afeta a margem Ebitda. O Magazine Luiza informou que suas despesas com vendas subiram para trazer novos consumidores ao seu site e melhorar o nível serviço (prazo de envio, por exemplo). A rede também mencionou uma agressividade maior de rivais, sem citar nomes.

“Vender com 50% de desconto, dar ‘cashback’ de 30% é muito fácil. Esse tipo de subsídio nós não praticamos. Nosso foco é ter escala. E não simplesmente vender abaixo do preço de custo”, disse Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza, em teleconferência para analistas. “Nosso investimento está principalmente [em gastos maiores] na despesa, no Ebitda, do que na margem bruta. Mas claro, que se precisar, vamos fazer [subsidiar preço ao consumidor]”. Na avaliação do consultor Enéas Pestana, fundador da Enéas Pestana & Associados, principalmente em supermercados, grandes redes tiveram que reagir a ações promocionais de concorrentes regionais.

Outro fator que pesa sobre as margens, lembra Pestana, é a maior participação do atacarejo nas vendas dos grupos (o segmento tem margens menores que a média) e as negociações mais difíceis com a indústria, que pagam incentivos de venda (como verbas comerciais) aos varejistas. “Uma das reações do setor é passar parte dessa conta aos fornecedores. Mas a indústria já vem sendo pressionada há anos, com a recente crise no consumo, e ainda sofre com o dólar alto, um custo que subiu e ainda não foi totalmente repassado ao consumidor. Por isso, ‘tirar’ mais do fabricante está complicado”, afirmou ele.

Para 2020, especialistas acreditam a concorrência acirrada deve se manter, com pouco espaço para uma recuperação de rentabilidade. “Ainda deve ser um ano de certa volatilidade, com alguns indicadores melhores, como geração de emprego, mas não a ponto de mudar esse cenário de desempenho. O caminho ainda será de ampliar receita com margem Ebitda sem expectativa de melhora”, disse Eduardo Terra, sócio-diretor da BTR Educação e Consultoria.

O levantamento do Valor Data mostra ainda uma alta de 13,6% no total investido pelas varejistas em 2019, atingindo R$ 8,38 bilhões. Em quatro redes (Carrefour, Lojas Americanas, Renner e Riachuelo) os gastos no comércio eletrônico cresceram mais que os desembolsos em lojas físicas.

Fonte Valor Econômico
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