RANKING ABAD/NIELSENIQ 2022 - ANÁLISE

Fôlego e equilíbrio

O Atacado Distribuidor responde por 308,4 bilhões de reais do mercado de bens de consumo, equivalente a 51,3% do total

por Rúbia Evangelinellis

O atacado distribuidor tem fôlego e equilíbrio, mesmo em tempos difíceis para a economia, como os dias atuais, para driblar as adversidades e garantir o abastecimento mantendo o patamar acima de 50%. Um levantamento realizado pela ABAD/NielsenIQ demonstra que em 2021 o setor respondeu por 308,4 bilhões de reais (51,3%) do mercado de bens de consumo projetado em 601,6 bilhões de reais.

Em comparação com a edição anterior, de 2020, nota-se que houve um crescimento nominal de 7% no consumo geral (de 562,4 bilhões de reais) e de 7,1% na participação do atacado distribuidor, que totalizou 287,8% bilhões de reais (veja Gráfico). Embora o setor tenha apresentado um incremento abaixo da inflação oficial, de 10,06% (variação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), Nelson Barrizzelli, coordenador de Projetos da FIA – Fundação Instituto de Administração e responsável pelas análises do Ranking ABAD/NielsenIQ, destaca a importância da variação pelo fato de apontar a capacidade do canal indireto para acompanhar o mercado de consumo.

“Se o atacado cresceu no mesmo ritmo do consumo geral, isso significa que, com todas as dificuldades do ano, manteve-se como um canal intermediário, que vai seguindo gradativamente a maneira pela qual o consumidor está se conduzindo nos pontos de venda atendidos pelas empresas do setor. E que se manteve estável ao longo de um ano complexo”, observa.

Barrizzelli ressalta que o atacado é um ramo intermediário da cadeia de abastecimento, “o recheio de um sanduíche”, influenciável, em particular, pelas questões que atingem a indústria, que carrega aumentos de insumos e que sofre o impacto da inflação sobre os preços. “O fato de o atacado crescer paralelamente ao mercado de consumo mostra que ele está sendo eficiente em fazer a ligação entre a produção e o consumo. E significa que as indústrias e os varejistas, que compram dele, o reconhecem como um elo muito legítimo e importante, tendo em vista a maneira como os consumidores estão se conduzindo”, enfatiza o economista.

O estudo em questão leva em conta a prática de preços em 1.068.715 estabelecimentos, entre os quais o varejo tradicional (armazém, mercadinho e outros com atendimento de balcão), que apresentou variação de apenas 0,4% e tem uma cobertura de 95% do atacado distribuidor; bares e restaurantes, com retração de 13,9% (resultado da fase em que estiveram fechados) e 85%; farmacosméticos (com alta de 14% e 45%); e autosserviço pequeno (com 1,3% e 68%). Esse último grupo inclui pontos de venda independentes, de até quatro checkouts e mil metros quadrados (veja Quadro).

Mapeamento

Paralelamente à projeção de consumo, o Ranking 2022, realizado conjuntamente pela ABAD e pela NielsenIQ, permite que se faça um mapeamento do setor, considerando desempenho, áreas de atuação, investimentos e expectativas.

Esta edição está mais robusta que a anterior por causa do aumento do número de empresas respondentes, que passou de 660 (número de respondentes da edição passada) para 669, e também está mais representativa no que se refere ao total de faturamento informado pelas empresas pesquisadas (excetuando o Atacadão), que passou de 49,2% para 51,7% de participação do setor no mercado de consumo, a preços de varejo (veja Quadro Comparativo).

Juntas, somam 186,6 bilhões de reais (com o Atacadão) ou 127,7 bilhões de reais (excetuando-se o gigante de autosserviço do setor). No Quadro Geral, seu faturamento apresentou, em 2021, crescimento médio de 17,7% em comparação com 2020 (confira os detalhes na matéria sobre quartil).
Mais da metade dos atacadistas pesquisados (o equivalente a 367) operam em apenas um Estado, mas respondem por 21% (39 bilhões de reais) das vendas globais da amostragem, enquanto 5% atuam em dez ou mais Estados e representam 45,2% (84 bilhões de reais) das vendas totais. Somente 12 atacadistas (2% da amostragem) oferecem cobertura nacional e contribuem com 68 bilhões de reais para o resultado, o mesmo que 36,5%.

Região de origem

O levantamento volta a indicar nesta edição o que já foi observado na edição anterior, a saber, que as vendas são predominantemente registradas na região de origem da matriz. Empresas sediadas no Sul comercializam localmente 95,5% do total faturado; as do Sudeste concentram 93,6%; do Nordeste, 87,4%; do Centro-Oeste, 85,2%; e do Norte, 83,1%.

Barrizzelli ressalta que o atacado é muito eficaz, funciona melhor em cidades pequenas e médias, onde não há grande concorrência das grandes organizações de supermercados e de autosserviços. E entende que o ganho de desempenho vem com a tecnologia.

“É preciso avançar, e muito, no seu nível de informação, além de observar com mais cuidado a anotação de SKUs, e não deixar faltar produtos nos varejistas. São questões maiúsculas de organização das empresas atacadistas que melhoram todo o processo.” Ele também considera, ao avaliar o atual cenário, que se mantenha olho vivo no custo, especialmente quanto ao combustível, e ao próprio futuro.

Manutenção

Ao avaliar os resultados do Ranking e da participação do setor no abastecimento do mercado de consumo de alto giro, Leonardo Miguel Severini, presidente da ABAD, ressalta que o canal indireto enxerga a manutenção consistente dos mercados em que atua, dos clientes (como o autosserviço independente e o tradicional, além de bar e farmácia).

“Mantivemos um crescimento nominal de 7,1% e um ganho de participação (no mercado de consumo) em relação ao ano anterior. As empresas atacadistas estão cada vez mais preparadas para a digitalização, a transformação e a automação, bem como o e-commerce”, acrescenta Severini.

E para driblar os desafios deste ano, como inflação alta, desemprego e alta do combustível, o caminho, recomenda, consiste em buscar alternativas para reduzir o custo e manter o investimento. Ressalta ainda a necessidade de as empresas do atacado permanecerem atentas ao portfólio e tendências. “Precisamos categorizar bem as lojas que atendemos e disponibilizar cada vez mais boas opções para que possam apresentar boa performance em termos de vendas e resultados”, finaliza.

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