Ser cada vez mais saudável. Esse é o lema que define a busca de uma parcela da população brasileira que cresce a cada dia. E com isso, a procura por alimentos e bebidas que evitem oferecer ingredientes quimicamente prejudiciais ou duvidosos, em especial com redução de açúcar e de sal, e que agreguem benefícios ao seu consumo, só aumenta.
Em 2019, a Nielsen realizou uma pesquisa, em particular sobre a procura por alimentos saudáveis. Entre os dados obtidos, a Nielsen revelou que o shopper preocupado com a saúde aumentou o consumo de orgânicos e reduziu os de sal, açúcar e gorduras.
Além disso, a pesquisa mostrou que 73% dos entrevistados afirmam es-tar dispostos a pagar mais por marcas que se preocupam com os prejuízos que produtos ambientalmente irresponsáveis poderiam causar.
No universo daqueles que buscam alimentos free, 67% querem saber tudo o que um produto contém, e com que porcentagem, e 39% deles trocariam um produto mais “suspeito” por outro mais transparente. Mais de 50% dos consumidores dizem que gostariam de evitar ingredientes artificiais e produtos que contêm hormônios/antibióticos e transgênicos.
Desejos que estão se tornando realidade graças ao entendimento e ao olhar da indústria para esse novo consumidor voltado para esse novo mercado. Lança-mentos e investimentos em tecnologia e em produtos que estão ajudando a transformar a maneira como o Brasil e o mundo se alimentam.
E para não perder esse bonde, atacadistas distribuidores e varejistas precisam fazer a lição de casa, acompanhar essas mudanças, rever o mix de produtos e marcas, e fazer a ponte entre os desejos do shopper e as novidades do mercado.
Aliás, um mercado que mesmo diante de uma pandemia vem se mantendo ativo. Segundo Alexandra Casoni, CEO da Flormel, a pandemia trouxe dois cenários para o mercado da alimentação saudável e dos produtos funcionais: por um lado, alimentos naturais ou para preparação do consumo diário, como frutas, vegetais e alimentos menos processados, cresceram por causa da maior preocupação com a saúde e com a imunidade, e com o fato de que se passou a dispor de mais tempo livre para cozinhar.
Com a ansiedade, também aumentou o consumo de alimentos comfort food, que despertam bem-estar ao serem consumidos, como doces e sobremesas.
“Por esse motivo, muitos buscaram produtos sem açúcar para balancear a dieta do dia a dia. Em contrapartida, o consumo de snacks saudáveis caiu, pois as rotinas do trabalho, da escola, das atividades outdoor, da academia, etc., que se davam tão bem graças à praticidade de um snack, se extinguiram ou foram muito reduzidas. Porém, acreditamos que quando as regras ficarem menos rígidas, eles voltarão com tudo”, avalia.
Para os sócios da Sanatus, Jânio e Mônica Venâncio, essa preocupação com o consumo de alimentos saudáveis reflete a busca pelo bem-estar.
“O mercado de condimentos saudáveis está em plena ascensão e a razão disso é a pro-cura de produtos com menos sódio, conservantes, corantes, gorduras e açúcar. Em todo o planeta, grandes indústrias de alimentos investem milhões de dólares em pesquisas sobre o desenvolvimento de produtos que possam substituir o sal e o açúcar sem perder suas características. A corrida agora é para ver quem vai sair na frente e atender a essa demanda mundial”, dizem.
E essa busca por produtos saudáveis também se reflete nas embalagens dos itens oferecidos. “Hoje, o consumidor lê a embalagem mais do que fazia antes, pois ele quer saber se o produto é de fato saudável ou não. Seus olhos procuram diretamente a descrição dos ingredientes e verificam quais as substâncias que compõem o produto, e em que porcentagem, e se, com base nesses dados, eles respondem adequadamente à alegação, que o produto tenta vender, de serem efetivamente saudáveis. Caso contrário, ele procura diretamente as redes sociais e questiona a empresa”, comenta David Oliveira, diretor de Marketing da Superbom.
Segundo ele, a preocupação da empresa em atender esse público é tão grande que ela está descontinuando a linha de néctares da marca – pois essa linha pode conter açúcar, sacarose, conservantes e corantes – e passando a focar mais a linha de sucos 100% fruta.
“O mercado de sucos prontos não tem crescido. O que responde a essa fatia de crescimento na categoria de sucos são os sucos integrais e os 100% fruta. Estes sim, têm crescido. Notamos isso tanto em pesquisas mercadológicas como em nosso histórico de vendas. É por isso que apostamos cada vez mais em sucos 100% fruta, em vez de fazê-lo em sucos prontos com água e açúcar”, comenta.
CREDIBILIDADE
De acordo com Rodolfo Tornesi Lourenço, diretor de Inovação e Transformação da Jasmine Alimentos, o Brasil é o sexto país do mundo onde é maior o consumo de alimentos saudáveis, o que favorece em-presas do segmento com lastro, pois a identificação com a marca e a credibilidade de que ela goza junto ao mercado são fatores determinantes para o consumidor.
Lourenço também desta-ca os efeitos da pandemia nas vendas da empresa. “No primeiro semestre, registramos um crescimento de cerca de 20% em nosso faturamento em relação ao ano passado, mesmo em um cenário de pandemia. Isso se justifica pela busca das pessoas por alimentos que promovam a imunidade e que tragam ganhos à saúde e ao bem-estar do ser humano no longo prazo.
Outro ponto importante é o fato de que adultos e crianças estiveram muito tempo dentro de casa, em consequência do isolamento social, com a ausência de aulas físicas e a adoção do home office, entre outros fatores. Com isso, há uma preocupação ainda maior em oferecer alimentos saudáveis e de qualidade para o público infantil pelos seus pais e responsáveis”, conta.
CATEGORIAS E LANÇAMENTOS
Pequenas indulgências e produtos mais refinados terão grande oportunidade de crescimento com base nesta justificativa: “Uma vez que estou economizando de alguma maneira, posso me dar ao luxo, ou mereço esse mimo, de levar alguma coisa especial para casa.”
A afirmação é de Alexandra Casoni. Segundo ela, neste período de pandemia e com a adoção ou intensificação das vendas on-line, a empresa registrou um crescimento de 40%.
“O consumidor está muito aberto ao que é mais gostoso e mais saudável, e por isso, seguimos em frente mesmo em um cenário de pandemia. Tivemos duas ondas de lançamentos, com 11 produtos: bombons veganos, bolinhas de brigadeiro, bolinhas de doce de leite com opção sem lactose, bombons cookies n´cream e cinco sabores de snacks salgados, dois deles para o público infantil”, conta.
A Superbom também conta que de-verá apresentar lançamentos ainda em 2020. Porém, considerando o momento atual, ainda está avaliando o que deverão lançar.
“Temos vários produtos já desenvolvidos e que pretendíamos lançar em 2020, mas não sabemos quantos serão e nem quais serão suas categorias. Por causa da pandemia e da instabilidade econômica, estamos analisando o mercado para decidir quais produtos de-vemos lançar”, diz Oliveira.
Por sua vez, a Dona Raiz está diversificando sua linha de produtos. “Por causa da pandemia e da necessidade de distanciamento social, o hábito de cozinhar em casa se intensificou. Com isso, nossa aposta é a categoria de temperos, que são saudáveis e permitem dar mais sabor em qualquer receita”, conta Murilo Spada, gestor da Dona Raiz.
De acordo com ele, os lançamentos estarão chegando ao mercado nos próximos meses. “A gente está aumentando com novos itens a categoria de temperos e reduzindo a embalagem de açúcar demerara, além de outras surpresas que chegarão às gôndolas em breve”, adianta.
Com expectativa de recuperação do mercado a partir do segundo semestre deste ano, Liza Schefer, gerente de Marketing da Latinex, detentora da marca Fit Food, conta que a empresa está lançando massas de leguminosas e grãos produzidas na nova fábrica no Paraná.
Para Hélcio Oliveira, diretor da Copra Alimentos, o fato de os comércios ataca-dista e varejista, e de as lojas de produtos naturais, terem permanecido abertos até mesmo nos piores momentos da pandemia contribuiu para a manutenção do mercado e para o aumento do consumo. Ele também destaca que a empresa tem projetos em andamento, além dos pro-dutos que lançou neste ano.
PAPEL FUNDAMENTAL
Da mesma forma que as indústrias têm pleno entendimento sobre essa busca por uma alimentação saudável, elas também reconhecem e reafirmam a importância do atacado distribuidor nesse processo de transformação na maneira de se alimentar.
Lourenço destaca que o mercado saudável atinge diferentes públicos. Existem aqueles que buscam os benefícios dos produtos orgânicos e os que preferem o consumo do produto integral. Também há pessoas que sofrem de restrições, que buscam os produtos sem açúcar e/ou sem glúten.
“Por isso, uma empresa desse segmento precisa estar atenta a essas diferentes frentes e atender aos anseios de seus consumidores oferecendo-lhes um portfólio completo. Nos dias de hoje, as pessoas procuram ser atendidas em todo momento do dia, desde o café da manhã até sua última refeição”, comenta.
Os sócios da Sanatus colocam em destaque a abertura de espaço para novas marcas. “Analisando o Ranking da ABAD 2020, notamos que, em média, 50% das empresas respondentes têm interesse na ampliação de seu mix de vendas; no caso da Sanatus, temos 25 SKUs no portfólio”, comentam.
A ampliação da oferta do mix também é destacada por Spada. “Sugerimos que atacado distribuidor ofereça um amplo mix de produtos em versões mais saudáveis, que visem menos ingredientes, mas que sejam saborosos. Esses produtos geram alta percepção de valor nas gôndolas do varejo e oferecem alto índice de recompra pelos consumidores”, comenta.
SUPLEMENTOS
O crescimento no número de praticantes de atividades esportivas vem estimulando o mercado de suplementos nutricionais. Segundo Luiz Rossi, CEO da Suplement Labs, detentora da marca Body Nutry, esse é um segmento que vem apresentando aquecimento há mais de uma década.
“Mesmo com as crises que o País vem enfrentando nos últimos anos, muitos empresários estão investindo e conseguindo retornos excelentes, tanto que hoje já é uma realidade que haja setores exclusivamente volta-dos para suplementos alimentares, e isso até mesmo em supermercados”, afirma.
O mercado nacional, segundo Vitor Neri, gerente de Marketing da CR Nutrition, conta com mais de oito mil pontos de venda de produtos que incluem desde a whey protein até as barras de chocolate sem açúcar e com adição de proteína. Para ele, o atacado distribuidor conta com um grande leque de varejos de todos os portes para atender, e precisa se adaptar a isso.
“Atualmente, vemos setores como empórios, lojas de chás, minimercados, academias, bombonières e farmácias com mix de suplementos. O atacado distribuidor pode trabalhar com um pedido mínimo que permita ao pequeno varejista criar um mix de produtos capaz de atender à sua necessidade regional, com base em seu perfil de público”, comenta Neri.
Para Rossi, o atacadista distribuidor precisa quebrar mais um paradigma. “Fazer parcerias com redes e treinamentos com equipe de vendas para ter mais um produto de sucesso em seu negócio. Com margem de lucro atraente, cabe ter investimento e dedicação para o segmento”, diz.
Ainda de acordo com Rossi, a desinformação é uma barreira a ser quebrada. “Notamos, em treinamentos com equipes de vendas do setor ataca-dista, a falta de conhecimento dos vendedores a respeito da categoria, e esclarecer isso é de importância crucial para a introdução dos produtos nos pontos de venda”, alerta.