Crescer em tempos difíceis

Inesquecível. Será assim que o ano de 2020 sempre nos virá à memória, por uma série de razões, sobre as quais se estabeleceu o cenário do combate à pandemia, do isolamento social, do fortalecimento do sentimento da solidariedade e até mesmo do surgimento inesperado de uma nova ordem do consumo, impulsionada por sugestões para o futuro e pela demanda doméstica. Também foi – como ainda está sendo – um período de prova de fogo para o setor atacadista distribuidor, que mostrou expertise e vigor, e que criou soluções engenhosas para abastecer os pontos de venda nesses tempos adversos.

O levantamento realizado pela ABAD/Nielsen nos informa que o mercado de bens de consumo de alto giro movimentou 562,3 bilhões de reais em 2020. Essa cifra revela que ocorreu um crescimento de 8,9% em relação a 2019, ano que, por sua vez, ficou 5,6% acima de 2018. O estudo em questão leva em conta as vendas registradas em mais de um milhão de estabelecimentos – com base nos preços praticados pelo varejo. O atacado distribuidor respondeu por 287,8 bilhões de reais, o equivalente a 51,2% do total (562,3 bilhões de reais).

Embora apresente crescimento nominal de 5,2% (real de 0,7%) sobre a cifra contabilizada em 2019 (de 273,5 bilhões de reais), o setor apresenta retração na participação de mercado, que era de 53%. O recuo de 1,8 ponto percentual reflete parte da perda ocorrida com o fechamento de segmentos do comércio, como bares, restaurantes e lojas de cosméticos, em diferentes momentos de 2020.

“A queda demonstra a heterogeneidade do atendimento do canal indireto, que abastece supermercados, farmácias, padarias, mercearias e açougues, os quais permaneceram abertos, e também pontos de venda que ficaram fechados, de maneira significativa, durante bons períodos do ano passado. Essa venda perdida, não se recupera. Não fosse o efeito substituição (de trocar, por exemplo, o alimento pronto pela produção caseira), a perda seria muito maior”, explica Nelson Barrizzelli, coordenador de Projetos da FIA – Fundação Instituto de Administração e responsável pelas análises do Ranking ABAD/Nielsen.

Barrizzelli: a alta representatividade do Ranking do setor, de 49,2%, é confirmada pela dispersão dos atacadistas informantes pelo Brasil

O estudo indica inclusive que houve queda de vendas em segmentos do varejo atendidos, em larga escala, pelo atacado distribuidor, enquanto outros cresceram. Os tradicionais(atendimento em balcão, com cobertura de 95% do setor) retraíram 0,4%, e bares e restaurantes (85% deles atendidos pelo atacado) apresentaram queda de 18,6%. Na outra ponta da gangorra, porém, o segmento de farmacosméticos aponta alta de 4,5% (o atacado distribuidor tem cobertura de 45%), e o de autosserviço pequeno (com até mil metros quadrados) de 10%.

Paralelamente às dimensões do mercado de consumo, o Ranking ABAD/Nielsen 2021, com a participação de 660 empresas respondentes do setor atacadista distribuidor, permite obter um raio X do canal de abastecimento nacional, em suas diversas modalidades e características. As empresas que responderam à pesquisa têm uma representatividade, em faturamento, de 49,2% do valor de participação do setor no mercado de consumo, a preços de varejo.

A amostragem se distribui entre 136 respondentes do Centro-Oeste, 234 do Nordeste, 92 do Norte, 80 do Sudeste e 118 do Sul. E totaliza 165 bilhões de reais em faturamento. “A alta representatividade do Ranking do setor, de 49,2%, é confirmada pela dispersão dos atacadistas informantes pelo Brasil”, acrescenta Barrizzelli. Ele  também destaca a importância da capilaridade do setor para o abastecimento nacional, principalmente considerando-se a cobertura aos cerca de 5.500 municípios.

Esse diferencial se fortalece nesse período de pandemia, quando as pessoas procuram se abastecer de maneira mais rápida e em locais próximos às suas casas. “Quando voltamos a atenção para a origem e o destino do faturamento, vemos, por exemplo, empresas da Região Sudeste atendendo o Nordeste e o Amazonas, entre outras localidades”, explica. O levantamento mostra ainda que boa parte das vendas das respondentes está na região de origem da matriz. Por exemplo, empresas com sede no Nordeste vendem na região o equivalente a 98,6% do faturamento, enquanto as do Norte garantem 97,3% das vendas na região matriz.

Leonardo Miguel Severini, presidente da ABAD, destaca que o Ranking ABAD/Nielsen é um estudo de grande importância sobre o setor atacadista distribuidor e a divulgação desse estudo é  fundamental para se conhecer o comportamento da cadeia de abastecimento. “Além disso, o estudo tem um significado importante para a indústria, para o setor e para os seus clientes, pois fornece dados estratégicos que ajudam na tomada de decisões”, finaliza.

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