Um novo olhar

Augusto Lemos fala sobre o desafio de inovar o portfólio da Cargill, empresa onde, há 17 meses, se mantém à frente da Divisão de Consumo para a América do Sul

Por Rúbia Evangelinellis

Nascido sob o signo de Touro, que simboliza uma grande força de trabalho, Augusto Lemos inaugurou, em julho de 2018, um novo ciclo em sua carreira de executivo da indústria. Nesse mês, virou a mesa e passou a jogar um novo xadrez no mundo dos negócios, assumindo o posto de líder da Divisão de Consumo da Cargill para a América do Sul. Na bagagem, levou a expertise de mercado adquirida em 20 anos e dez meses de serviços prestados à Mondelez, onde chegou ao posto de general manager no Brasil e desenvolveu estreita parceria com o atacado distribuidor. 

Ao assumir o desafio, Augusto Lemos passou a enxergar uma diferente face do consumidor, não apenas como potencial comprador de snacks, chocolates, balas, gomas e outras guloseimas que compõem o portfólio da Mondelez.

Nascido sob o signo de Touro, que simboliza uma grande força de trabalho, Augusto Lemos inaugurou, em julho de 2018, um novo ciclo em sua carreira de executivo da indústria. Nesse mês, virou a mesa e passou a jogar um novo xadrez no mundo dos negócios, assumindo o posto de líder da Divisão de Consumo da Cargill para a América do Sul. Na bagagem, levou a expertise de mercado adquirida em 20 anos e dez meses de serviços prestados à Mondelez, onde chegou ao posto de general manager no Brasil e desenvolveu estreita parceria com o atacado distribuidor. 

Ao assumir o desafio, Augusto Lemos passou a enxergar uma diferente face do consumidor, não apenas como potencial comprador de snacks, chocolates, balas, gomas e outras guloseimas que compõem o portfólio da Mondelez.

Agora, o novo tabuleiro está coberto de produtos da cesta básica de alimentos, onde a Cargill disputa espaço com marcas icônicas, como Liza, Elefante e Pomarola, e quem dá as cartas são os próprios lares brasileiros, gente que compra ingredientes para preparar a refeição e que gosta de dar um toque especial, “de afeto”, na hora de servi-la para a família e os amigos.
Em entrevista exclusiva concedida à revista DISTRIBUIÇÃO, ele destaca seus planos de modernização para a linha dos atomatados, adianta que mais novidades serão apresentadas (embora mantenha protegida a sete chaves a informação de quais serão) e confia na retomada do consumo em 2020. Em sua opinião, o mercado de consumo nacional é potencial, o que lhe permite avançar até mesmo com marcas consagradas, desde que ofereça valor agregado aos clientes, em especial para aqueles que buscam alimentos seguros, saudáveis e focados na sustentabilidade.
Em sua missão atual, ele pilota uma divisão de negócios estabelecida por três frentes de comercialização: vendas para o varejo, vendas para food service e vendas de produtos (a granel) para indústrias. A proposta agora é avançar em todos os mercados possíveis, sendo que no comércio (B2C) a proposta é ganhar mais espaço geográfico, bem como nas gôndolas onde já tem marcas, expandindo o portfólio. E, na estratégia de ampliar o abastecimento, considera importante a parceria com o atacado distribuidor.
No Brasil desde 1965, a Cargill atua nas áreas agrícola, alimentícia, financeira e industrial. Está presente em 17 Estados e no Distrito Federal com unidades industriais e escritórios. Tem 189 armazéns e transbordos, 23 fábricas, seis terminais portuários, dois centros de inovação e cerca de 11 mil funcionários. Em 2018, obteve uma receita operacional líquida de 47 bilhões de reais, montante que representa um crescimento de 33% em relação ao ano anterior.

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A diferença é que as categorias com as quais trabalho atualmente têm altíssima penetração nos lares brasileiros e são parte da alimentação básica. E isso faz uma grande diferença

Na Cargill, você precisa administrar um portfólio diferente e dirigir outro olhar para o mercado? 

Estou na divisão bioindustrial de uma empresa de alimentos, que é grande no mundo e tem portfólio muito diversificado. Sou responsável por essa unidade na América do Sul, na divisão que chamamos de Consumo. O coração do nosso negócio está no portfólio de óleos, gorduras para a indústria, atomatados e outros
adicionais. Faço parte de um time global e meus pares são responsáveis pelo México, EUA, Europa e Ásia. E nessa torre de negócios no Brasil, tenho sob minha responsabilidade três divisões de vendas de produtos ao varejo, para food service (das grandes redes até restaurantes independentes) e de ingredientes para a indústria (óleos e gorduras).

E qual é a divisão mais importante?

A divisão de consumo, onde temos óleos, atomatados, maioneses e molhos para salada com marcas emblemáticas, como Liza, Mazola, Purilev, Maria e os atomatados Elefante, Pomarola e Tarantella. São essas últimas marcas que estão sendo relançadas e modernizadas.

A partir da sua transição, como vê o consumidor brasileiro hoje? 

Vejo o mercado brasileiro em recuperação, ainda lenta, mas positiva. Como o poder de compra está associado à empregabilidade, acredito que, com a melhora da geração de emprego, a capacidade de consumo pelas famílias aumentará. A diferença é que as categorias com as quais trabalho atualmente têm altíssima penetração nos lares brasileiros e são parte da alimentação básica. E isso faz uma grande diferença. Por exemplo, qual é o lar que não tem óleo de soja para preparar arroz e feijão e fritar batatas? Qual é a casa que não tem molho e/ou extrato de tomate para temperar o macarrão servido no fim de semana? O bacana de trabalhar com essas categorias é que, embora sejam maduras, ainda encontram espaço para crescer no mercado.

Como isso é possível? 

É fato que o consumidor nos últimos anos sofre com a retração do poder de compra. Como consequência, percebemos que houve a migração para marcas mais em conta e a redução da frequência de compras, movimento que agora estabilizou. Em contrapartida, observamos agora uma maior preocupação com temas relacionados à promoção da saúde e da proteção ao meio ambiente, e com os ingredientes que compõem os alimentos comprados. Nosso objetivo é oferecer um portfólio alinhado com estas exigências: oferecer produtos saudáveis, seguros e sustentáveis.

E como essas ações se traduzem? 

Relançamos o Pomarola com nova fórmula, com mais tomate, menos açúcar, menos sal e nenhum conservante. Controlamos desde a semente entregue ao fazendeiro até o processamento do tomate e a venda no varejo. Também estamos trazendo uma linha premium, importada da Itália, batizada de Pomarola Chef. Quanto ao Elefante (com embalagem e marca renovadas), ele tem muito tomate, açúcar e nada mais. Estamos apresentando nova embalagem plástica em pote reutilizável, com tecnologia inovadora que garante a segurança do alimento quando aberto e guardado na geladeira. A troca da embalagem também permite reduzir as emissões de carbono em torno de 20% na produção, quando comparada com as emissões envolvidas na produção das latinhas, que serão gradativamente substituídas.

Com as inovações, buscamos modernizar e contemporizar o portfólio para atender a todos. Vamos continuar trabalhando para trazer mais novidades nas linhas, inclusive nos óleos

Como você vê o comportamento da família brasileira na hora da escolha de produtos? 

As famílias buscam primeiramente alimentos seguros, nos quais elas confiam, e que sejam saudáveis e os mais naturais possíveis. Outro ponto é que gostam de dar um toque especial e pessoal ao prato que será oferecido, como forma de afeto e carinho, aos familiares e amigos. Com as inovações, buscamos modernizar e contemporizar o portfólio para atender a todos. Vamos continuar trabalhando para trazer mais novidades nas linhas, inclusive nos óleos.

A renovação do portfólio está atrelada a um movimento global da empresa?

A Cargill não tem produtos de consumo no mundo todo. Mas existe, sim, a preocupação com a segurança, a qualidade e a sustentabilidade como pilares globais. Eu diria que é um movimento que parte do Brasil, e que é uma referência para os negócios de consumo para a empresa no mundo.

O que é o Brasil para a Cargill? 

É um dos maiores mercados. Obviamente estou considerando todos os negócios juntos, inclusive a divisão agrícola, de exportação de grãos.

Qual é a importância da sua área no Brasil? 

Não abrimos essas informações. Mas digo que é uma área de importância significativa em vendas, rentabilidade. Temos como marcas principais Liza, Elefante e Pomarola. As três juntas são pilares de investimentos.

Você sempre teve uma vigorosa atuação junto ao atacado distribuidor. Pretende estreitar a parceira? 

Sempre apoiei a agenda da ABAD. E na Cargill fortalecemos essa relação, participando em grupo de discussão de modelos de distribuição, de logística. E apoiamos o Encontro de Valor. Acreditamos na força da Associação como veículo de desenvolvimento do setor. Nosso plano também consiste em expandir nossa presença geográfica por meio dos associados da entidade. Estamos nos aproximando geograficamente de vários clientes porque percebemos muitas oportunidades de distribuição. Embora as marcas sejam muito conhecidas, temos lojas que não oferecem todo o portfólio. Daí o trabalho de parceria, de explicação da importância das categorias para o consumidor.

O consumidor brasileiro tem muito orgulho das marcas que leva à mesa, as quais ele reconhece como sendo de alta reputação

Há regiões em que é preciso expandir a distribuição? 

Temos áreas subdesenvolvidas no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste para as nossas marcas. Em algum modelo de distribuição em especial, temos combinações de modelos de distribuição, atendendo diretamente a grandes supermercadistas e distribuidores. E incluindo o atacado na cobertura geográfica. A ideia é continuar com o modelo híbrido adaptado para cada região do Brasil.

No tripé formado por varejo, food service e indústria, algum deles merece atenção especial?

Enxergamos que para cada um deles, há oportunidade de mercado. No food service, a Cargill é conceituada e vem crescendo aceleradamente. Mas no varejo vemos a oportunidade de avançar no redesenho das marcas e na presença em lojas – com crescimento de maneira sustentada.

E para 2020, o que se pode esperar quanto ao consumo de marcas? 

Pela minha leitura, a recuperação gradual do mercado já é uma excelente notícia. E espero que o Brasil siga o caminho certo, apesar da volatilidade. Por outro lado, entendo que cabe à indústria e aos varejistas fazerem a sua parte, e não ficarem esperando o mercado reagir. Temos de motivar os consumidores e mostrar o valor de terem produtos melhores, de renovar hábitos de consumo, de gerar valor às compras dos consumidores. Temos uma lição de casa para fazer e, independentemente do cenário econômico, precisamos melhorar a vida do consumidor.

O consumidor quer qualidade e marca? 

Quem levar a proposta de valor aos produtos vai se destacar. O consumidor brasileiro tem muito orgulho das marcas que leva à mesa, as quais ele reconhece como sendo de alta reputação, inovadoras, de qualidade e agora promotoras de saúde.

Quanto o atacado distribuidor representa para a Cargill? 

Mais de 50% do negócio. O ano de 2019 foi de resultados positivos. E 2020? Esperamos manter a trajetória positiva.

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